Nascido na Ribeira Grande, Jorge Silva deu os primeiros passos no mundo da música aos 13 anos de idade no conjunto Rebeldes do Ritmo, onde cantava e tocava bateria, que actuava no Teatro Ribeiragrandense e no Café Central da Ribeira Grande.
Aos 17 anos, partiu de São Miguel para a Terceira, para actuar com diversos grupos musicais, como Miny Boys, Bárbaros e Flama Combo, tendo este último conquistado o troféu de melhor conjunto musical açoriano em 1971.
“Viemos da Terceira a São Miguel fazer um espectáculo no Coliseu Micaelense. Foi uma espécie de concerto com vários conjuntos das ilhas, de São Miguel, do Faial, da Terceira, e nós ganhámos o melhor vocalista e a melhor banda”, recorda o artista.
Jorge Silva cantou na Base das Lajes durante quatro anos, numa banda de jazz, e confessa que o “gosto tremendo” pela música se foi intensificando nesta altura, tendo inclusive feito gravações com originais no Rádio Clube de Angra.
Aos 24 anos, após concluir a tropa, casou-se e emigrou para os Estados Unidos da América, mais precisamente para Massachussets, com o sonho de evoluir na sua carreira. Ao longo de quase cinco anos, o músico actuou em bares de Nova Inglaterra com grupos norte-americanos, como Oásis e Day Break.
“Eu sabia que havia potencial e que poderia fazer algo mais. Queria ir para a América, porque é um país em que se a pessoa tiver um pouco de sorte consegue alcançar mais na parte artística. E realmente consegui”, afirmou, adiantando que ter emigrado projectou o seu trabalho: “A América proporciona outras oportunidades. Não teria chegado onde cheguei se não tivesse emigrado. Ficaria apenas como um cantor local. A projecção musical nos Estados Unidos é totalmente diferente.”
A experiência de tocar em bares americanos influenciou significativamente a sua música, levando-o a explorar novos estilos musicais, como o rock ‘n’ roll. “Eu cantava rock’n’roll e música adequada para os night clubs (bares). Não podia cantar as músicas das marchinhas e dos bailinhos. Tive que me adaptar a uma música muito mais avançada, ao estilo de música americana. Sempre fui cantor de música clássica e música mais moderna”, sublinhou.
O artista percebeu o potencial da sua carreira nos Estados Unidos e, com o sonho de sucesso artístico, gravou álbuns em Portugal e na América, construindo uma carreira reconhecida em ambos os países.
“Um empresário, da Penco Records Company, quando me viu actuar convidou-me logo para vir gravar em Portugal dois LP’s, sob a responsabilidade deles. Aí, houve uma maior projecção musical. Nessa altura, gravei dois álbuns em Portugal. Andava entre os dois países e fazia espectáculos com vários artistas, de diferentes nacionalidades, porque comecei a ficar reconhecido”, conta.
Em 1983, a Penco Records proporcionou-lhe a oportunidade de actuar ao lado de grandes artistas brasileiros, o que marcou um novo capítulo na sua carreira. O músico voltou a Portugal para gravar o seu primeiro LP, intitulado “Jorge Silva em Portugal”. Nesta altura, foi convidado para participar nas festas da cidade da Ribeira Grande e fazer um espectáculo do “Açoreaníssimo”, no Teatro Ribeiragrandense.
Os anos seguintes foram promissores para a carreira musical de Jorge Silva. Em 1985, a editora Vidisco, em Portugal, convidou-o a participar no Festival da Canção, com a música “Portugal, meu Jardim”.
“Fazia parte da Editora Disco do Porto e eles fizeram força para que eu fizesse parte do festival. Não tinha experiência em actuar em festivais daquele calibre e havia uma competição enorme”, afirmou.
E prossegue: “Foi uma honra fazer parte daquele evento. Nessa altura, estive com artistas muito conhecidos em Portugal. Por exemplo, estive em casa de Simone de Oliveira. Eles ajudaramme muito na parte do festival, porque eu não conhecia ninguém. Participei no festival, juntamente com os Delfins e eles ficaram em 13º lugar e eu em 10º. Talvez se tivesse interpretado a canção ‘Tens Nome de Mulher’ teria ficado melhor classificado, já que era uma canção mais moderna.”
No ano de 1987, Jorge Silva gravou um novo LP para a Henda Records, intitulado “É o destino”, e foi convidado por compositores americanos em Nova Iorque para gravar a música “Body to Body”, que fez parte da telenovela brasileira “Tic… Tic… Tic”. No ano seguinte, foi convidado pelo empresário americano Danny Calisie para participar em grandes espectáculos, em Providence, Rhode Island, ao lado de artistas de música Country, destacando-se no festival realizado em Nashville, o “Grand Ole Opry”, onde alcançou a segunda posição.
O canto na sua língua nativa sempre foi uma prioridade para Jorge Silva, o que, aliado a motivos familiares, fez com que deixasse de tocar nos bares americanos e voltasse a tocar com os conjuntos musicais portugueses, desta vez com aqueles que existiam na América, tais como Explorers, Sunset, Paco, Internacionais e Crystal Star Band.
No ano de 1997, o artista lançou o CD “Diga-me por amor de Deus”, que teve grande sucesso, com milhares de cópias vendidas e várias edições esgotadas. Em 1999, participou no conhecido programa de Júlio Isidro, “Jardim das Estreias” e fez parte de um grande espectáculo no Teatro Ritz, em New Jersey, com nomes de destaque da música portuguesa.
Anos mais tarde, em 2006, Jorge Silva lançou um novo CD intitulado “Ela tem o dom de fazer chorar”, apresentando-o no Coliseu Micaelense e no Teatro Ribeiragrandense, o que marcou o regresso à sua terra natal.
Questionado sobre que álbum da sua carreira escolheria, o músico elege ‘Diga-me por Amor de Deus’ e ‘Ela tem o dom de fazer chorar’, descrevendo-os como “dois CD’s fantásticos” e destaca ainda “os europeus que foram gravados com duas orquestras grandes, sob a responsabilidade do maestro Rocha Oliveira. “
Ao longo da sua carreira, Jorge Silva foi agraciado com vários prémios. Foi homenageado com as chaves de outro de três cidades norte americanas, nomeadamente East Providence, Taunton e Fall River. “Foi uma honra tremenda. Recebi chaves de ouro, medalhas, quadros, inclusive tenho o dia de “Jorge Silva” em Providence”, realçou.
Mais recentemente, aquando do Portuguese Award Show, “nos prémios dos Artistas Unidos da América”, Jorge Silva foi o mais nomeado. Com sete nomeações, acabou por ser o artista mais premiado, levando para casa quatro estatuetas.
Em Junho deste ano, foi homenageado com a Medalha Municipal de Mérito Grau Ouro, pelo Presidente da Câmara Municipal da Ribeira Grande, Alexandre Gaudêncio, na altura da comemoração dos 42 anos de elevação a cidade.
Nos dias 7 e 14 de Outubro, o artista vai apresentar dois espectáculos no Teatro Ribeiragrandense para celebrar os seus 50 anos de carreira artística, marcados por uma trajectória repleta de conquistas na música.
Sobre o que os seus fãs podem esperar destes concertos, o músico mostrou-se confiante: “Vão adorar ver um Jorge Silva diferente do que era há muitos anos atrás. Há uma geração nova, que não conhece o meu outro lado e que vai ficar surpreendida. Apesar dos anos e da idade, vou apresentar música actualizada. Irei cantar não só músicas originais, mas também músicas americanas actualizadas.”
No que toca aos planos para o futuro, o artista disse não encontrar “o fim das páginas musicais. A música continua sempre. Enquanto tiver voz, vou sempre cantar. Já não viajo como antes, faço só espectáculos que eu vejo que vale a pena”, concluiu.
Carlota Pimentel