Estando a gozar o seu tempo de reformado, Eduardo Manuel Ferreira nunca quis estagnar no tempo, até porque parar não é sinal de preguiça nem falta de ambição. Dedica-se ao artesanato e passou pela Universidade Sénior.
Eduardo Manuel Ferreira, de 76 anos de idade nasceu no Livramento, mais concretamente na Canada Nova. Naquela freguesia estudou até fazer exame da quarta classe, realidade que marcou o fim de uma fase para muitos portugueses. O fim da escolaridade marcava o início de uma vida de adulto que começava cedo, aos 12 anos.
“Tinha uns amigos de infância, que trabalhavam no campo. Regra geral perguntava-se aonde tinham ido e não raras vezes respondiam que tinham ido para as terras. Na altura ganhava-se seis escudos por dia e, assim, depois da quarta classe começávamos a trabalhar”.
Quando Eduardo Manuel Ferreira começou a trabalhar ganhava sete escudos por dia. Nas freguesias havia uns tanques junto às estradas, que se enchiam de areia, composto que depois era aproveitado para as terras, porque sendo a areia constituída por material de origem mineral, a terra ficava mais solta.
“Parte da minha vida foi trabalhar no campo, mas na Freguesia do Livramento havia um local conhecido por canto das Socas, onde reuníamo-nos. Depois, chegavam os donos das terras que seleccionavam quem quisesse ir trabalhar. Quase que éramos arrematados, porque se alguém tivesse já recebido uma proposta de trabalho, alguns patrões chegavam a dar um escudo a mais, para poder assegurar este ou aquele trabalhador. Naquele tempo andávamos descalços”, complementou.
Eduardo Manuel Ferreira esteve assim até atingir a idade de cumprir serviço militar, onde esteve dois anos e três meses, muito diferente dos tempos actuais, cujo serviço já não é obrigatório. No entanto, o nosso entrevistado esteve também na Guiné-Bissau, durante 22 meses.
De regresso a São Miguel, Eduardo Manuel Ferreira foi ainda músico na Banda Filarmónica Lira do Rosário, onde para ir para os ensaios “íamos e vínhamos a pé”.
Mais tarde começa a trabalhar na Prolacto, ali permanecendo durante três dezenas de anos. Após negociação com a empresa, acaba por reformar-se com 50 anos.
Antes porém, Eduardo Manuel Ferreira colaborou com a fábrica das velas Horta e Leandro.
Entretanto conhece a sua cara-metade, que disse “ter sido amor à primeira vista”.
O gosto pelo artesanato
Estando a gozar o seu tempo de reformado, Eduardo Manuel Ferreira nunca quis estagnar no tempo, até porque parar não é sinal de preguiça nem falta de ambição. Assim, soube da existência da Universidade Sénior de Ponta Delgada, acabando por ingressar nessa instituição de ensino, onde tirou o Curso de Escamas de Peixe, Arraiolos, Estanho, entre outros. Faz trabalhos de artesanato como poucos fazem, entre eles, Registos do Senhor Santo Cristo.
Maria Ferreira sonhou e executou
Maria Ferreira, de 71 anos de idade sempre trabalhou toda a sua vida e desde os 11 anos. Colaborava nas limpezas, em casa de muitas famílias, granjeando assim muitas amizades.
Começou a namorar Eduardo Manuel Ferreira, quando tinha apenas 14 anos e casou seis anos depois, quando fez 20 anos.
O casal começou a fazer vida na Freguesia de São Roque, mas depois foi morar para o Livramento, onde esteve durante 18 anos, antes de regressar a São Roque.
Do casamento nasceram quatro filhos: Emanuel, João, Sónia e Carolina.
Emanuel Ferreira e João Ferreira sempre tiveram uma ligação forte ao desporto, mais concretamente ao futebol. Dessa ligação ao futebol surgiram amizades com outras pessoas conhecidas, nomeadamente Pedro Galvão, Mário Brum ou Luciano Melo.
Emanuel Ferreira vive agora uma nova fase da sua vida, após muitos anos de ligação ao Grupo Desportivo de São Roque.
Maria Ferreira chegou a trabalhar na Escola Secundária da Lagoa, onde foi cozinheira durante 17 anos. No entanto, uma questão de saúde fê-la aposentar-se aos 54 anos de idade.
O homem sonha, a obra nasce, é uma frase que expressa a ideia de que a acção humana depende da vontade divina e da imaginação criadora. “Um certo dia sonhei com um búzio, onde estava o Menino Jesus. Como tinha búzios em casa foi o ponto de partida para começar a gostar de artesanato e é um passatempo que me ajuda a passar o tempo”. Maria Ferreira aprendeu sozinha e é como uma inspiração divina.
Marco Sousa