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Açoriana foi aos 19 anos para os Estados Unidos atrás de um sonho na música e acabou por construir uma carreira empresarial de sucesso

Com apenas 19 anos, Renata Rodrigues, da ilha do Faial, decidiu emigrar para os Estados Unidos da América, Connecticut, em busca de um sonho no mundo da música. Várias oportunidades foram surgindo e está agora a preparar o seu segundo álbum de estúdio. Paralelamente a este projecto artístico, surgiu na sua vida uma outra paixão: a gestão empresarial. Tornou-se mestre em Administração de Empresas (MBA), percorreu um notável caminho profissional no sector tecnológico, sendo promovida várias vezes até chegar a um alto cargo de uma empresa norte-americana. Agora, há 13 anos fora dos Açores, Renata conta que “depois de estar fora algum tempo, comecei a ver os Açores e a ilha do Faial especificamente, com outros olhos.”

Correio dos Açores – Desde que vivia no Faial, sempre esteve ligada ao desporto e à cultura, na dança e na música. Pode contar um pouco sobre a sua vida nos Açores?
Renata Rodrigues – Vim de uma família de músicos. Os meus pais, tios, e bisavôs são todos músicos. Havia sempre algum concerto na nossa família ou algum ensaio e isso fomentou a minha paixão pela música.
Aos 15 anos comecei a cantar a solo, nomeadamente na Miss Faial e na Miss Madeira, em concertos que fui convidada a fazer. Na altura foi um grande desafio fazer estes concertos e viajar para a Madeira. Logo depois disso fui convidada a fazer parte da banda Gerações, de família e amigos próximos e fiz bastantes concertos nos Açores. Tocávamos muito e cantei em bastantes palcos nessa altura. Já mais para os 17 anos, fiz parte de uma dupla, e isso deu-me muita experiência também.
Em 2009 tive a minha primeira experiência num estúdio de gravações, onde gravei a “Marcha da Semana do Mar”. Nesse mesmo verão fui fazer uma formação em Hollywood, na Califórnia, onde desenvolvi habilidades de canto, representação e dança e ganhei experiência com muitos profissionais da indústria. Em 2010 concorri para cantar na banda Fingertips, que foi uma grande viragem para mim. Foi, talvez, a experiência que mais me marcou, chegar a finalista no top 5 dos candidatos a nova voz da banda.
Aos 19 anos decidi emigrar para os Estados Unidos, para ver o que havia mais para além do mundo da música em Portugal.

Saiu do Faial em 2010, com 19 anos, com destino aos Estados Unidos. O objectivo era investir na sua carreira musical?
Foi esse o principal objectivo. Eu tinha sempre aquele desejo de me reinventar e construir algo por mim própria e ver o que havia mais para além dos Açores. Depois de visitar a Califórnia adorei estar nos Estados Unidos e quis ver o que havia lá de oportunidades na música. Sabia que o meu percurso ia passar pela universidade, mas naquela altura, a música estava a correr tão bem. Era esse o objectivo: ir atrás de um sonho.

Qual é o seu perfil musical?
Sinto que tenho um perfil bastante diversificado. Para mim, escrever música é uma das coisas mais giras e criativas que um músico possa fazer. Sempre usei a composição de música para contar algo que se está a passar nessa altura. O meu primeiro álbum é definido por isso mesmo. Estava a passar por certas experiências nessa altura. O álbum em si é um pop rock, com uma vertente alternativa. Não diria que é esse o meu estilo hoje em dia, diria que é mais um estilo singer-songwriter. As minhas influências musicais são os Linkin Park, Taylor Swift, Adele, Bob Dylan e Billie Eilish.

Tem como nome artístico Reena Hart. Vai lançar um segundo álbum de estúdio. Conte-nos um pouco sobre este novo disco.
Neste momento estou a escrever novas músicas e o objectivo é lançar o segundo álbum. O disco tem a ver com experiencias que estou a ter neste momento, e que tive nestes últimos anos, no meu percurso pessoal, que me fizeram chegar à pessoa que sou hoje. Ainda não há data de lançamento. É um projecto bastante recente que estou a começar.
Em relação ao primeiro álbum, em 2011 fui convidada por um produtor de Connecticut para gravar a minha voz em algumas das músicas. Achei uma oportunidade espectacular, porque tinha experiência, mas nunca tinha sido convidada para gravar músicas de outras pessoas. Depois de gravar duas ou três músicas para essa editora, tive o convite para gravar uma das minhas músicas. Nessa altura já tinha escrito bastantes. O processo de gravar com eles foi extremamente criativo e achei que tínhamos uma sinergia muito boa. Então, essa editora convidou-me a gravar um álbum inteiro, depois de ter gravado essa primeira música que escrevi. Foi assim que o meu primeiro álbum, o “Waiting For You”, nasceu. Passamos dois anos a gravar o álbum, lançando-o em 2012. Durante este processo ganhei muita experiência em áreas que nunca tinha aprofundado bem, como harmonias, composição, e publishing. O álbum era do género pop rock, com uma vertente alternativa.
Foi também um marco na minha carreira poder gravar este álbum. Há ainda cópias físicas e está disponível em todas as plataformas de streaming.

Lado a lado com este projecto musical, a Renata tem também prosperado na sua carreira profissional. À paixão pela música, juntou-se a paixão pela área de gestão de empresas.
Quando acabei a licenciatura em Música e Gravação de Som, em 2015, comecei a procurar trabalho como engenheira de som, ou algo semelhante. Nessa altura, em Connecticut não havia muitos trabalhos destes, mas como tinha projectos bastante criativos como o álbum e os concertos, acabei por procurar trabalho na área da tecnologia, que era mais genérica. Fui contratada para uma firma de audio-visuais, e ganhei bastante experiência no mundo dos negócios. Inesperadamente, durante esse processo, desenvolvi uma paixão por gestão de empresas. Em 2015, comecei nessa empresa de audio-visuais, achei que não tinha conhecimentos suficientes nessa área, e decidi começar o mestrado em Gestão e Administração de Empresas com foco em Análise de Negócios. Fui promovida várias vezes nessa empresa e depois de estar lá durante algum tempo, fui recrutada para a empresa onde estou agora, na altura start-up, como gerente de operações de vendas e marketing. O principal objectivo era a expansão dos negócios e o crescimento da empresa. A minha contribuição a nível individual foi inédita, consegui fazer vendas enormes para a empresa, e contribui muito para o seu crescimento. Fui promovida várias vezes, também, até alcançar o cargo de Vice-presidente de Crescimento e Sucesso do Cliente. Depois de a empresa ter crescido muito, o objectivo é um pouco diferente: é manter os clientes que a empresa tem e garantir que as suas operações estão estáveis, para que nada corra mal com esses clientes. Foi uma oportunidade muito desafiante, porque nunca tido este cargo directamente. Sou muito boa a falar com pessoas e sempre que há problemas demonstro ter empatia e mostrar aos clientes que vou resolver esse problema. É o principal objectivo do meu cargo. O foco é manter os clientes e garantir que eles também conseguem atingir os seus objectivos através dos serviços que proporcionamos através da minha empresa.

Está agora novamente a apostar na sua formação, a tirar um mestrado em Estudos Globais.
Enquanto fiz estas coisas todas nos últimos 13 anos, adorei viajar, o que acabou por ser uma grande paixão, explorar culturas. Não era o tipo de férias de ir para a praia e apanhar sol o dia todo, mas explorar mesmo a cultura de certos países. Visitei a Irlanda, França, Espanha, Japão, Inglaterra, México e muitos outros países. Essas experiências fizeram com que tivesse conseguido uma ânsia de ter mais conhecimento sobre o mundo. Sempre tive o desejo de voltar à universidade, voltar a estudar e fazer um doutoramento. Esta paixão influenciou a decisão de começar o doutoramento em Estudos Globais. Este é um projecto diferente, não tem a ver com querer avançar no meu percurso da minha carreira, mas aprender sobre uma área que gosto muito, que é explorar culturas e aprofundar o conhecimento de outras sociedades.
Estou a tirar o doutoramento em Portugal, através da Universidade Aberta, o que é um grande desafio, porque nunca estudei no ensino superior em Português. Isto é voltar às minhas raízes e retomar o Português, especialmente na escrita. Estudos Globais fizeram muito sentido. É um campo interdisciplinar que analisa processos globais com o objectivo de entender problemas e desafios que transcendem fronteiras nacionais.

Divide o seu tempo entre o trabalho e a produção musical. Gostaria de viver apenas da música?
Gostava de fazer vida da música. Sempre senti que as pessoas que me rodeavam sempre me apoiaram muito para ir atrás da minha carreira musical, mas falavam sempre no “plano B,” se a música não resultasse. Pensei tanto no plano B – a gestão empresarial- que acabou por resultar bastante bem. Acabei por colocar toda a minha energia e tempo no plano B. Sinto que nunca pus 100% da minha energia no plano A, que era ir atrás de uma carreira musical.
Adorava poder viver da música. Nunca trabalhei a 100% para tornar isso uma realidade. Tenho consciência disso e estou feliz em dividir o meu tempo entre a minha profissão e a música. Ter um trabalho que paga um salário dá bastante estabilidade para desenvolver projectos criativos de lado. Se outras oportunidades aparecerem no futuro, claro que não as vou rejeitar.

Já viajou por inúmeros países, vive nos Estados Unidos há 13 anos. Sente falta da sua terra?
Sim, muita. Quando sai da ilha, com 19 anos, achei que não foi difícil. Trabalhei naquele Verão, antes de sair, para ganhar dinheiro para começar a minha vida fora. Estava muito entusiasmada por começar uma vida nova. Mas depois de estar fora alguns anos, comecei a ver os Açores e a ilha do Faial, especificamente, com outros olhos. Sempre que vejo fotos ou sempre que volto de férias, sinto que os Açores são um paraíso que a gente nem repara até depois de sair da ilha, e só depois é que se dá o valor. Neste momento, tenho muitas saudades de viver no Faial, onde a vida é calma, conhece-se toda a gente. No Faial, fiz muito mais a nível musical, em concertos, naquela altura.

Do que sente mais falta dos Açores?
Principalmente da minha família. Sou uma pessoa muito próxima da minha família. Estou sempre a mandar-lhes mensagens. Falamos todos os dias, mandamos fotos uns aos outros o dia todo. Temos grupos de família. É do que sinto mais falta: a minha família. Poder vê-los todos os dias, poder ter o almoço de Domingo. Sinto muita falta desse convívio com a família. Há coisas que acabo por perder ao longo do ano, como os aniversários, e isso faz-me muita falta.
A minha família é o número um. Número dois é ver os oceano em todo o lado. Para mim é muito libertador poder ver o oceano e tenho muitas saudades disso. Costumo ir duas vezes por ano, pelo menos, e sempre que há possibilidade, vou. É sempre uma prioridade.

Quais são os seus planos no horizonte?
O doutoramento em Estudos Globais está em cima na minha lista de prioridades. Começou há pouco tempo, mas estou a adorar, os professores e os temas. O novo álbum, também, é um grande objectivo na minha vida poder lançar um novo disco. Na minha carreira em gestão, o plano é continuar a fazer o que estou a fazer agora e tornar-me muito boa naquilo que faço e continuar a aprofundar o meu conhecimento da indústria de tecnologia de saúde. São estes os principais objectivos, e ser feliz.

Mariana Rovoredo

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