Na passada semana todos ficamos a saber, pela boca do Presidente do Governo Regional aquilo que, até o menos atento dos cidadãos já sabia; ou seja, vamos para eleições antecipadas.
E porquê? Porque as declarações de alguns políticos da oposição não deixaram dúvidas de qual seria a sua posição, face à apresentação de um novo orçamento regional para 2024.Quanto a mim, foram coerentes.
Em meu entender, que não sou político, e muito menos politólogo como alguns se classificam, esta “encenação” de reuniões à procura de consensos com os hipotéticos apoiantes do “triunvirato governamental” não passou de “fogo de artifício” para eleitor ver. No íntimo, o Dr. José Manuel Bolieiro sabia de antemão qual seria a resposta de cada um deles, até porque, ele próprio, não tinha conseguido cumprir com aquilo que, tinha prometido a eles.
Chegados a este ponto e em boa verdade, há que dar a palavra ao povo destas ilhas. Povo que já não acredita no que os políticos dizem, daí absterem-se de ir votar, apesar das mil e uma promessas que os candidatos (todos eles, de uma ponta à outra) irão fazer durante a campanha eleitoral.
Para quem, como eu, aceita a autonomia como um mal menor, olhando para trás, questiona-se:- terá valido a pena ter havido uma manifestação no dia 6 de Junho de 1975, a qual deu origem ao “aparecimento” de uma autonomia diferente daquela que havia para os Governos Civis e para as Juntas Gerais e que, ao longo destes quase cinquenta anos, não conseguiu tirar estas ilhas da cepa torta?
O objectivo primordial do 6 de Junho de 1975 foi sempre:- tirar este arquipélago do atraso em que vivia então, tornando esta Região mais rica (nunca a mais pobre, como acontece agora) e com melhores condições de vida para as suas gentes e para quem cá quisesse instalar-se.
Decididamente, também não foi para criar uma máquina administrativa pesadíssima como a que temos actualmente; máquina esta que está recheada de amigos de peito, de correligionários partidáriose subservientes com muito poucos profissionais independentes e competentes.
O povo interroga-se: para quê, segundo o que tem vindo a público, haver cerca de vinte mil funcionários públicos para governar uma população de cerca de 236.000 habitantes? Com eles incluídos, claro está.
Para quê haver uma frota automóvel enormíssima, começando pelas câmaras municipais e acabando nas secretarias e presidência do governo, com muitos condutores às ordens de suas excelências, mesmo durante determinados eventos festivaleiros?
Para quê tantas deslocações e viagens para estarem presentes a eventos, alguns deles de cá-cá-rá-cá-cá?
Para quê haver tanto deputado numa Assembleia Legislativa Regional? Como todos sabemos, na esmagadora maioria das vezes, o que ali se faz de diferente é sancionado negativamente pela Assembleia da República, tornando assim a acção da ALR num desperdício de tempo e de dinheiro.
Falando de dinheiro, também como todos sabemos, aquele organismo legislativo custa aos bolsos dos açorianos pouco mais de um milhão de euros por mês!
Quem ouve um político falar acerca da nossa vivência em sociedade, é levado a pensar que eles não vivem no mesmo mundo do cidadão normal.
Como é costume dizer-se, são por estas e por outras que o povo não vai às urnas, optando pela a abstenção, até por uma questão de comodidade.
Eu, raramente me abstenho. Isto porque tenho a consciência de que o meu voto em branco é um voto de protesto contra a situação que se vive no momento.
Também tenho consciência de que, em democracia, mesmo que só votassem os candidatos e “meia dúzia” de amigos do peito, os eleitos seriam validados.
Chamar-lhe-ia inconvenientes da democracia.
Ou, falta de consciência da representatividade.
Carlos Rezendes Cabral
P.S. Texto escrito pela antiga grafia.
3DEZ2023