Através da comunicação social, li num jornal local, que está marcada para um dos próximos dias da segunda quinzena deste mês, uma reunião da Assembleia Geral do Marítimo Sport Clube para eleição de novos Corpos Sociais. Pela noticia, verifico e confirmei que o velho clube contínua vivo e… para as curvas!
Clube que foi criado e fomentado, pela “saudosa classe de pescadores” que povoava o velho Bairro da Calheta, que morava nas suas tão características Travessas e que, através do seu já saudoso “porto de pescas” iam, diariamente, para o mar pescar o necessário “peixe” para seu sustento e de milhares de micaelenses!
Hoje, o “velho porto” é saudade. Os pescadores, ou são raros, ou já não existem, mas o velho Marítimo, pelas notícias, continua vivo!
Foi na longínqua década de 30, que no velho e tradicional bairro da Calheta, com a sua população virada, na sua quase totalidade, para a “pesca e seus derivados”, bairro popular e pacato, com as suas características “Travessas” – becos sem saída – denominadas as “travessas da Calheta”, bem diferente dos dias de hoje em que, subjugado ao progresso, serve, como “via cosmopolita” de “passageira rolante” ao vazame da cidade para aqueles que utilizando viaturas se dirigem aos seus trabalhos pela manhã e voltam à tarde aos dominados “dormitórios da cidade”, “roubado” que foi o seu já saudoso “Porto de Pesca”, que “meia dúzia” de homens de boa vontade, com vistas largas, interessados na promoção do seu semelhante, na valorização de todos, tentando formas de alterar hábitos de vida, de maneira a evitar que o pescador – grosso da coluna – grande parte na flor da idade, encontrassem processos de modificar o seu modo de vida, a preencher os “seus tempos livres”, na taberna, “curtindo” a dureza da vida, e procurando esquecer os defeitos sociais, bem significativos na época, possibilitando a prática salutar do desporto e afastando-os do “vício”, da taberna, da degradação moral e social.
Foi nesta perspectiva que, dando corpo à ideia, nasceu, o hoje popular Marítimo Sport Clube, com o seu equipamento azul e branco, lembrando o azul do mar e o branco da espuma das águas, que batiam nas traseiras do casario.
Os preparativos finais foram concluídos nos finais de 1934, concretamente, e oficialmente, foi em 7/2/1935 que, por alvará do Governo Civil, foram aprovados os indispensáveis estatutos, tendo figurado, como sócios fundadores, os seguintes senhores: José Carvalho Valério, António Olímpio Soares de Sousa, João Ferreira Travassos, João Carvalho Dias, António de Medeiros Ramos, Álvaro Soares do Carmo, José Domingos Cipriano, Joaquim Arruda Coutinho, José Cristiano Sousa Jr., Germano Joaquim Madeira, Paulo Baptista Vasconcelos, Urbano de Medeiros Helhazar, Álvaro Carreiro, José Hipólito de Melo e Jaime Vieira.
Iniciada a actividade, e nos bons velhos tempos, era vê-los, o rapazio, chegados de uma noite passada na fauna da pesca, e terminadas as suas tarefas no velho cais, rumarem ao campo a fim de, madrugada a rasgar, poderem participar nos treinos com a esperança de poderem ao domingo dar a sua colaboração à jovem equipa do Marítimo, proporcionando aos adeptos, jornadas de alegria e vitórias saborosas com os seus rivais!
Passados 89 anos (completados em Fevereiro) sobre a sua entrada em actividade, os “sucessores” destes “bravos” que corporizaram a iniciativa, poderão sentir-se orgulhosos da herança recebida, e vaidosos do glorioso passado do Clube. E se hoje o velho Clube não tem a força aglutinadora dos velhos tempos, devido às transformações sociais e às modificações físicas verificadas no antigo bairro, não será também de excluir, o “descaso” dos homens de hoje, entregues ao seu comodismo.
Em ligeira pincelada, aqui e agora, queremos salientar que, na sua sede localizada na Rua da Boa Nova, em determinada altura foi, nas traseiras da mesma, construída uma esplanada que possibilitou e originou, que o cinema tivesse um forte arranque, a que se juntou inesquecíveis peças de revista teatral levadas à cena para regalo e satisfação de uma população carente de espectáculos do género. Foi neste local que, mais tarde, surgiu o Cine Marítimo.
O popular Marítimo praticou várias modalidades. O Futebol e o Hóquei mereceram realce destaque.
Foram conquistados, na categoria de honra no futebol, os campeonatos distritais nas épocas de 41/42, 53/54, 54/55, 72/73 e 73/74.
O Marítimo Sport Clube é delegação em São Miguel do Futebol Clube do Porto.
Ligeira pincelada, tirada dos meus velhos arquivos, sobre um histórico clube do desporto micaelense.
Gaia/Vilar do Paraíso,
7 de Agosto de 2023
Rogério Oliveira