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Jornal Incentivo em papel sucumbiu às dificuldades económicas

Devido a dificuldades económicas, deixa hoje de ser publicado em papel o jornal Incentivo, o único diário da ilha do Faial. O seu director, Rui Gonçalves, que assumiu estas funções ao longo dos 20 anos de existência do jornal, considera que se trata de uma suspensão da edição em papel, mantendo a esperança de o reeditar. Enquanto isso não acontecer, o jornal Incentivo está a ser publicado online, com uma redução de despesas que levou ao despedimento de um jornalista, passando a ter apenas dois.

Como é que o Incentivo chegou a essa situação?
Rui Gonçalves (Director do jornal Incentivo) – Esta é uma tendência que já se vem arrastando há algum tempo. Os assinantes são cada vez menos. E são cada vez menos porquê? Os novos não assinam o papel nem a ligação. Assim, os mais idosos vão desaparecendo ou ficando impossibilitados de ler e vai baixando o número de assinantes. Por outro lado, não há praticamente publicidade. O nosso mercado é muito reduzido e é muito difícil encontrar aqui anunciantes. Tudo isso conjugado levou-nos a tomar esta decisão dolorosa. Não podíamos manter o custo que tínhamos da impressão do jornal, visto que não tínhamos gráfica. A impressão era feita numa gráfica de fora e o custo da impressão do jornal era impossível de manter sem receitas. Então, a solução que encontramos foi esta. Já tínhamos um site na internet, era estático, era apenas as notícias do jornal, e agora o modelo que vamos usar é o do site dinamizado com notícias actualizadas que iremos colocar durante o dia. E esperamos que esta actualização motive algum interesse e que as pessoas adiram, porque têm que assinar o jornal online para terem acesso a informação.
Quanto ao outro problema que me parece que tem importância referir é o do apoio do Estado. O Governo Regional que esteve três anos em funções, acabou por não decidir nenhum novo apoio. Tudo ficou como estava e, por outro lado, temos um concelho apenas. Tentamos sensibilizar a Câmara Municipal para o problema, porque o Governo não atava nem desatava, e precisávamos de algum auxílio imediato. Aliás, como acontecia com as câmaras anteriores, Tínhamos aqui um acordo de permuta de serviço em que a autarquia anunciava, nós facturávamos e eles pagavam. Esta Câmara não teve sensibilidade para isso. E nós ficamos praticamente, como se costuma dizer, sem água no leme. Decidimos parar agora para o mal não crescer, para não criar problemas com compromissos que não pudéssemos satisfazer. O resumo é mais ou menos este.

Os jornais diários da Região chegaram a tomar posição em grupo junto do Governo?
Sim. Os jornais já o fizeram há algum tempo e penso até que também junto do Governo anterior. Fizemos propostas ao Governo em conjunto para se encontrar uma solução de apoio, mas isso nunca veio a concretizar-se. Foi anunciado o apoio aos salários mas também não teve tempo de se concretizar. Nunca tivemos da parte do Governo nenhum incentivo. Não houve nenhum contacto do Governo, nem abertura ou manifestação de interesse para tentar saber o que precisávamos. A situação é esta.

O Incentivo tinha quantos jornalistas?
Tinha três. Agora dispensamos um e ficamos com dois. Nós é que fazíamos tudo. Portanto já não precisamos de três, até porque pagar três jornalistas já era incomportável. E, infelizmente, teve de ser assim.

Quanto custava a impressão mensal do jornal?
O custo da impressão do jornal ultrapassava os 2.000 euros por mês para uma tiragem de 500 exemplares. Tínhamos um problema da escala. Quanto menor a tiragem, maior o preço unitário. Isto pesava muito, e sem receitas não conseguíamos manter a edição em papel.

Teme pela imprensa açoriana?
Temo sim, com certeza que sim. O problema, como se sabe, é generalizado. Evidentemente que pode haver jornais que tenham maior possibilidade por estar num mercado maior. O nosso aqui é muito reduzido e não vejo como é que se pode resolver isto, para já, até para os próximos tempos. Perdeu-se muito, com esta questão da internet. A identificação que as pessoas tinham com cada lugar. Este é um lugar pequeno. As pessoas tinham uma identificação muito grande com o seu jornal.
Com a internet, as pessoas derivaram para os seus telemóveis, deixando o papel, e perderam um pouco aquela ligação, aquele sentimento de pertença que tinham em relação ao jornal, com o seu jornal, o jornal da sua ilha. Isto também perdeu-se bastante, o que dificulta e creio que dificulta para todos. Um jornal em papel tem a sua identidade própria, na minha opinião, é uma coisa única, é mais singular. O site na internet, depois, é igual aos outros todos. É tudo muito mais generalizado, muito menos individualizado.

Acredita que o Incentivo volte ao papel?
Acho muito difícil nas actuais circunstâncias. A menos que, voltando ao inicio da conversa, se houvesse da parte do Estado, do poder político quer regional quer municipal, a preocupação compensar, de alguma forma, digamos assim, a ausência da publicidade e também de assinantes, neste caso poderia ser possível voltar a considerar a hipótese.

O Incentivo tem história…
O Incentivo nasceu em 2004. Nasceu depois de fechar o Telégrafo e mais tarde o Correio da Horta, que eram os dois diários que tínhamos aqui. O Incentivo durou cerca de 20 anos.
Quem fundou o Incentivo?

Foram quatro jornalistas. Fui eu (Rui Gonçalves), o Fernando Lemos, oRicardo Freitas e o Souto Gonçalves, que é meu irmão. A empresa era a ‘Escrever e Editar, Lda.’

Ao longo de 20 anos foi mudando de Director?
Não, foi sempre o mesmo. Fui sempre eu (risos). Houve uma evolução aqui, quando o Incentivo apareceu, e nos primeiros tempos, e tinham deixado de existir Telegrafo e Correio da Horta, o Incentivo teve alguma pujança. Tínhamos a capa a cor, tínhamos vários jornalistas, fizemos um trabalho que para a altura era bastante satisfatório para a comunidade. Com o tempo as dificuldades foram-se agravando, pelas razões que já expliquei, perdemos jornalistas, tivemos que reduzir o número de páginas, até tiramos a cor da capa sempre com o intuito de reduzir custos. Mas agora já não era possível.

Foi até à última pinga…
Foi mesmo (risos). Já não se pode esperar por novidades, se elas aparecerem muito bem, senão aparecerem…

A esperança é a última a morrer.
Isso é verdade e eu tenho experiência disso.

João Paz

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