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O mês em que celebramos e rezamos pela Unidade dos Cristãos

Janeiro é o primeiro mês do ano. O mês que arranca com a primeira oração explícita pela Paz, no seu Dia Mundial, dia 1 de janeiro, assim definido há 57 anos pelo Papa Paulo VI. Mas, é também o mês em que rezamos especialmente pela unidade dos Cristãos, entre os dias 18 e 25 de janeiro, este ano com um mote desafiador a partir do primeiro e segundo mandamentos: “Amarás ao Senhor teu Deus…e ao teu próximo como a ti mesmo (Lucas 10,2 7)”, segundo orientação do Pontifício Conselho para a Promoção da Unidade dos Cristãos e a Comissão Fé e Constituição do Conselho Mundial de Igrejas.
Esta iniciativa da oração pela Unidade dos Cristãos remonta a 1908, a Paul Watson. Este ano os materiais foram preparados no Burkina Faso, coordenados pela Comunidade CheminNeuf.
O Burkina Faso está localizado na África Ocidental, na região do Sahel, e tem como vizinhos o Mali e a Nigéria. Apenas 26% da sua população é cristã (cerca de 20% católicos e 6 % protestantes), sendo o Islão a religião preponderante.
Segundo a Fundação Ajuda à Igreja que Sofre, atualmente, o Burkina Faso está a passar por uma grave crise de segurança, que afeta todas as comunidades religiosas, sendo ameaçada frequentemente por grupos jihadistas, pró-Daesh. É um país onde o tráfico de pessoas é uma realidade insofismável diante de uma pobreza extrema.
No contexto dessa terrível situação de segurança, a coesão social, a paz e a unidade nacional estão sendo prejudicadas. As igrejas cristãs têm sido alvo específico de ataques armados. Sacerdotes, pastores e catequistas foram mortos durante o culto e o destino de outros que foram sequestrados permanece desconhecido. No momento em que este artigo foi escrito, mais de 22% do território nacional estava fora do controle do Estado. Os cristãos não podem mais praticar abertamente a sua fé nessas áreas. Por causa do terrorismo, a maioria das igrejas cristãs no norte, leste e noroeste do país foi fechada.
Infelizmente é assim em muitos lugares do mundo, onde se invoca o nome de Deus para fazer a guerra.
Em outubro de 2020, o Papa Francisco brindava o mundo com um dos documentos mais eloquentes do seu pontificado. A Encíclica Frattelli Tutti inspirada, novamente, em São Francisco de Assis, apresenta-nos uma proposta de vida com sabor a Evangelho, que consiste em amar o outro como irmão, mesmo que este esteja longe e distante de nós, não só física mas também conceptualmente. É, por isso, um apelo à fraternidade aberta, a reconhecer e a amar cada pessoa com um amor sem fronteiras, que vai ao encontro e é capaz de superar todas as distâncias e tentações de disputas, imposições e submissões.
Mais do que um resumo da doutrina do magistério sobre o amor fraterno, este documento sublinha a dimensão universal deste amor que se expressa a partir da fraternidade universal , fundada num verdadeira amizade social.
O Santo Padre deseja ardentemente que, nesta época que nos cabe viver, reconhecendo a dignidade de cada pessoa humana, possamos conceber entre todos um desejo mundial de fraternidade, que rejeite todas as formas de posse, opressão e violência, deixando um convite expresso às religiões para desempenharem o seu papel principal que é a defesa pela dignidade humana.
O papa coloca a religião ao serviço dessa fraternidade Universal a partir do reconhecimento do valor de cada pessoa humana como criatura chamada a ser filha de Deus e propõe o diálogo entre religiões como caminho para estabelecer amizade, paz, harmonia e partilhar valores e experiências morais e espirituais, num espírito de verdade e amor(FT271).
“A razão, por si só, é capaz de aceitar a igualdade entre os homens e estabelecer uma convivênciacívica entre eles, mas não consegue fundar a fraternidade” (FT272).
“A pessoa humana possui uma dignidade transcendente, é imagem visível de Deus invisível e, precisamente por isso, sujeito natural de direitos que ninguém pode violar (FT273). Tornar Deus presente é um bem para as nossas sociedades, buscar a Deus com coração sincero ajuda a reconhecermo-nos como companheiros de caminho, verdadeiramente irmãos”(FT274).
Destacando a identidade cristã, assente no Evangelho, que nos garante “a alegria que brota da compaixão, a ternura que nasce da confiança e a capacidade da reconciliação que encontra a sua fonte no facto de nos sabermos sempre perdoados-enviados” (FT277), o Papa apela a um caminho conjunto de todos os cristãos, numa convivência serena, ordenada e pacífica, “na aceitação das diferenças e na alegria de sermos irmãos porque filhos de um único Deus” (FT279)).
“Pedimos a Deus que fortaleça a unidade dentro da Igreja, unidade que se enriquece com diferenças que se reconciliam pela ação do Espírito Santo. Contudo, falta ainda a contribuiçãoprofética e espiritual da unidade entre todos os cristãos”(FT280). E prossegue: “Entre as religiões é possível um caminho de paz. O ponto de partida deve ser o olhar de Deus. Porque Deus não olha com os olhos, Deus olha com o coração” (FT281), afastando a discriminação, a violência ou os gritos fanáticos do ódio.
“Nós,líderes religiosos, somos chamados a ser verdadeiros `dialogantes´, a trabalhar na construção da paz, e não como intermediários, mas como autênticos mediadores. Cada um de nós é chamado a ser um artífice da paz, unindo e não dividindo, extinguindo o ódio em vez de o conservar, abrindo caminhos de diálogo em vez de erguer novos muros “(FT284).
O tema da unidade dos Cristãos esteve, de resto, bem presente na Assembleia do Sínodo em Roma, em outubro passado e é o tema que mobiliza o vídeo do mês com a proposta de oração de Francisco para este janeiro marcado ainda por tantas guerras sem fim à vista seja na Ucrânia, há quase dois anos, seja agora na Palestina, terra onde Jesus nasceu, entre animais, numa manjedoura, porque não havia lugar para Ele nem para a sua família em nenhuma outra parte.
Neste vídeo, o Papa Francisco considera que os cristãos precisam de compreender “o dom da diversidade da Igreja”.
“Devemos alegrar-nos por vivenciar esta diversidade”, destaca o Papa, que menciona, em particular, as Igrejas Orientais, que “têm as suas tradições próprias, ritos litúrgicos característicos, mas mantêm a unidade da fé. Reforçam-na, não a dividem”. Entre as numerosas Igrejas Orientais em comunhão com Roma estão os católicos bizantinos, a Igreja Greco-católica ucraniana ou a Igreja Greco-melquita.Além destas, outros exemplos da diversidade de ritos no seio do catolicismo são: a Igreja Siro-malabar e a Igreja Católica Siro-malancar, surgidas ambas na Índia; a Igreja Maronita, de origem libanesa; a Igreja Católica Copta, de origem egípcia; a Igreja Católica Armênia; a Igreja Caldeia, predominante no Iraque; assim como a Igreja Católica Etíope-Eritreia, entre outras.
“Se formos guiados pelo Espírito Santo, a riqueza, a variedade, a diversidade nunca provocam conflito”, afirma o Papa, trazendo à luz que o Espírito lembra que, acima de tudo, todos são “filhos amados de Deus. Todos iguais no amor de Deus e todos diferentes”.
“Para avançar no caminho da fé necessitamos também do diálogo ecuménico com os irmãos e irmãs de outras confissões e comunidades cristãs”, sublinha.
Neste primeiro vídeo do Papa do ano, o fio condutor é a cruz, que remete para o símbolo de unidade e diversidade, uma vez que surge nas portas, nas montanhas, nas igrejas, para mostrar a riqueza das diferentes comunidades cristãs, precisamente nas suas diferenças.
Seria tempo de crescermos num só corpo, o corpo de Cristo porque a fé cresce quando cada um se abre a esta diversidade. Isto é caminhar sinodalmente, na Esperança.

Bom ano a todos os leitores!

Carmo Rodeia

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