Estamos a menos de um mês das legislativas regionais, e as campanhas andam na rua. Após a pausa natalícia, o tempo até fevereiro passará a voar, e por muito que os partidos e coligações tentem esclarecer os açorianos, deverão ser poucos, nesta fase, com claras dúvidas sobre qual será o seu sentido de voto. Os principais atores políticos regionais mantêm-se inalterados, sob a égide das mesmas bandeiras partidárias, e nem a mudança de Carlos Furtado do Chega para o JPP deverá fazer alterar estas águas. Teremos um escrutínio mais polarizado, com o povo açoriano a ser mais exigente com aqueles a quem decidir atribuir o seu sentido de voto, após ter retirado a maioria absoluta aos socialistas em 2020, e com isso tê-los afastado do poder, abrindo um ciclo novo no panorama político regional.
Convém recordar o que aconteceu em 2020 e como chegámos a estas eleições antecipadas. E recordar os decisores políticos que os açorianos andam mais preocupados com a sua vida do que com a vida dos políticos que serão eleitos, nem que seja com uma percentagem a rondar os vinte por cento. A decisão política tem vindo a ficar cada vez mais afunilada, rodando protagonistas entre os lugares disponíveis a cada eleição, e o povo, usado como adereço garantístico da sua sobrevivência, tem vindo a afastar-se cada vez mais. Ainda assim, em 2020, a queda de Vasco Cordeiro da liderança do governo regional promoveu a criação da coligação que agora se candidata, de forma pré-eleitoral, com vista a continuar a governar a região. E se em 2020 Vasco Cordeiro pagava pelos seus erros, mas pagava fundamentalmente pelos erros de 24 anos de poder socialista, este interregno que não chega a 4 manter-se ou não, cabendo a José Manuel Bolieiro a única responsabilidade. E se este tempo de governação for, de facto, um mero intervalo, então o resultado das eleições de 2020 foi um ocaso político que ditou o adiamento da morte política do presidente social-democrata. Se não for, e a coligação se mantiver, então José Manuel Bolieiro deve alguns agradecimentos. Pode começar por Sofia Ribeiro.
Voltemos novamente atrás, agora a novembro de 2018. O tempo de serviço dos professores que lecionam na região esteve suspenso, à espera da decisão do governo de António Costa, que se mantinha relutante, como ainda hoje acontece, a fazer contar esse tempo lecionado. Já no quadro do orçamento regional para 2019, Vasco Cordeiro, depois de muito tempo a assumir o contrário, decidiu dar instruções aos membros do seu governo, com as pastas da Educação e Administração Pública, para que se criasse um mecanismo para a contagem e recuperação desse tempo de serviço durante seis anos, com algumas nuances pelo meio. O então presidente referia que queria evitar o «pântano de indefinição» que se vivia no executivo da República, e que se mantém. Esta alteração radical acontecia depois do desgaste do secretário e do diretor regional da época, forçados a negar diariamente que tal tempo pudesse vir a ser recuperado. Esta alteração radical acontecia já quando Miguel Albuquerque, na Madeira, tinha assumido prontamente tal recuperação. Depreende-se que, à altura, o presidente do governo regional não o fez para não incomodar ou afrontar António Costa, cuja posição era – e é – outra, com se sabe. Ganhou as eleições, manteve o maior grupo parlamentar, e foi arredado do poder por causa dessa decisão. Aliás, por causa das duas.
A primeira, a negação de um direito que deveria ter sido assegurado aos docentes que lecionam na região. A segunda, o volte-face, que a generalidade dos professores considerou ser apenas uma mudança para conservar os votos de milhares de professores e suas famílias – alguns por norma desalinhados convictos de quem detiver o poder, muitas vezes reforçando a esquerda, mas nos últimos tempos contribuindo para o crescimento da direita radical – normalmente intelectuais moderados que votam ao centro, decidindo entre socialistas e sociais-democratas. José Manuel Bolieiro sabe-o e entregou a pasta da Educação à atual secretária. Que cumpriu, diga-se em abono da verdade, e em tempo recorde, alterações legislativas e regulamentares que possibilitaram a contratação sem termo de muitos docentes, estabilizando os quadros como há muito não se via. Falta saber se estes docentes, que poderiam votar no PSD irão, ainda assim, votar na coligação. Se elegem Bolieiro ou se lhe abrem a porta de saída.
Fernando Marta