Com um corpo de 28 elementos, os bombeiros da vila da Povoação enfrentam falta de voluntários, afirma Aurélio Bento, Presidente da Associação Humanitária de Bombeiros Voluntários da Povoação, por se tratar de um concelho com “população reduzida, embora este problema seja transversal a quase todas as corporações dos Açores.” O dirigente lamenta que “muitas vezes, as recrutas são adiadas pelo diminuto número de interessados. Quando chegamos ao fim de uma recruta com meia dúzia de elementos, já nos damos por muito satisfeitos.” Outro grande desafio da Associação é o aumento generalizado dos preços, sendo que no que toca aos valores pagos pelos serviços prestados “até há bem pouco tempo era praticado com valores de 2014, o que nesta fase é incomportável” considera Aurélio Bento, que expõe ainda que o HDES não tem vindo a compensar a subida dos custos, “para além de que procede ao pagamento com atrasos significativos.”
Correio dos Açores- Em 2022 foi inaugurado o novo quartel. Estas instalações dão resposta a todas as necessidades físicas do corpo de bombeiros?
Aurélio Bento (Presidente da Associação Humanitária de Bombeiros Voluntários da Povoação)- O Quartel era uma necessidade de há muitos anos, não só pela dimensão que o anterior tinha, mas também por todas as exigências e alterações que foram ocorrendo ao longo dos anos nos Corpo de Bombeiros, ao que o nosso não foi alheio. O anterior quartel não tinha espaço para albergar todas as viaturas, nem estava preparado para acomodar a componente feminina do nosso corpo de bombeiros. É um quartel onde as condições de trabalho e conforto para os nossos bombeiros são extremamente benéficas para a sua actividade.
Têm observado um aumento do número de serviços realizados?
Sim, principalmente o nível do transporte não urgente de doentes.
Os Bombeiros da Povoação têm veículos suficientes para realizar todos estes serviços?
Relativamente às viaturas, nos últimos cinco anos, foram adquiridas quatro viaturas para o transporte não urgente de doentes, sendo que três delas foram completamente financiadas com o orçamento da Associação e uma delas com um apoio do município da Povoação.
Em que medida a inflação, nomeadamente o aumento do preço dos combustíveis, produtos e equipamentos, está a afectar a associação?
Relativamente a esta questão, o aumento generalizado dos preços afecta em muito a Associação, principalmente quando os serviços prestados, e aí referimo-nos principalmente ao transporte não urgente de doentes, que até há bem pouco tempo era praticado com valores de 2014, o que nesta fase é incomportável. Estamos a falar de aumento de vencimentos, de manutenção de viaturas, dos combustíveis, que não foi devidamente compensado com o valor que recebemos dos serviços que prestamos. De salientar que esses serviços são na sua quase totalidade prestados à Unidade de Saúde de Ilha de São Miguel e ao Hospital Divino Espírito Santo. Se a USISM tem vindo gradualmente a compensar a subida dos custos, o mesmo já não se pode dizer em relação ao HDES, para além de que procede ao pagamento com atrasos significativos.
Com quantos elementos conta o corpo de bombeiros? Faltam recursos humanos?
Neste momento, o corpo de bombeiros conta com 28 elementos, mas, obviamente, que todos são poucos. Também a acrescentar a estes elementos, temos uma Escola de Infantes e Cadetes com cerca de 20 elementos, o que, certamente, será o futuro do corpo de bombeiros.
No entanto, a falta de bombeiros voluntários é um problema com que nos debatemos por sermos um concelho com população reduzida, embora este problema seja transversal a quase todas as Corporações dos Açores. Muitas vezes, as recrutas são adiadas pelo diminuto número de interessados. Quando chegamos ao fim de uma recruta com meia dúzia de elementos, já nos damos por muito satisfeitos. Esta falta de voluntariado também chega aos próprios órgãos sociais da Associação.
Que outras necessidades tem a associação?
Há já alguns anos que a Associação não tem no seu activo uma viatura com a valência do desencarceramento e que todos os anos tem reivindicado junto do SRPCBA a entrega da mesma. Aguardamos que a mesma chegue num futuro muito próximo.
Também ao nível de equipamentos diversos existe a necessidade de se ir atualizando, bem como substituindo equipamentos mais antigos, sendo certo que são equipamentos muito dispendiosos e que por si só a Associação não tem as condições para os adquirir.
Que balanço faz ao ano de 2023?
Do ponto de vista financeiro, foi um ano complicado muito devido ao aumento de preços do combustível e de outras componentes, tendo em conta o clima de guerras em que se vive.
Quais são os projectos e ambições da Associação para 2024?
Pretendemos dar continuidade ao trabalho desenvolvido nos últimos anos por forma a manter financeiramente saudáveis as contas da Associação. Pretendemos ainda abrir o posto de combustíveis, que era para ter ocorrido a par da construção do quartel, mas, por motivos diversos, não foi possível concretizar.
Há alguma outra questão que gostaria de apontar?
Já por diversas vezes referimos publicamente que esta Associação Humanitária de Bombeiros não é exclusiva da vila da Povoação, ainda que nela tenha a sua sede. Assim sendo, todas as freguesias do concelho, e referimo-nos principalmente às juntas, deveriam sentir esta instituição como sua e, como tal, também ajudar o seu financiamento.
Mariana Rovoredo