Na primeira semana do ano ainda bébé que agora dá os primeiros passos, a população mundial terá atingido os 8.100 milhões de pessoas, mantendo um ritmo de crescimento diário da ordem dos 200.000. Significam estes dados que, dentro de 1 ano, existirão mais 70 milhões de almas no planeta, se a taxa de aumento populacional se mantiver nos 0,88% e os cálculos não sofrerem algum revés inesperado, daqueles em que a Mãe natureza é pródiga. Mantendo-se as estimativas, 2050 verá um mundo que excederá 9.700 milhões de seres humanos, mesmo se a taxa anual prevista baixar para 0,51%. A média etária das populações também mudará dos 31 para 36 anos, mostrando um progressivo envelhecimento, fenómeno que será mais acentuado nos países mais desenvolvidos, entre os quais Portugal e os restantes Estados da União Europeia. A sobrecarga sobre os recursos naturais da Terra, já de si em risco devido ao agravamento das alterações climáticas, irá condicionar a vida em várias áreas geográficas, nomeadamente quando aos recursos hídricos, por sua vez altamente influentes na produção agroalimentar. O que acontece atualmente com a salinização do delta vietnamita do rio Mékong, com sinais preocupantes noutras zonas asiáticas (Bangladesh, União Indiana, Indonésia, China), ameaça colocar em crise o abastecimento global de arroz, fazendo disparar preços e despoletando conflitos, tal como irá seguramente verificar-se com o acesso à água. E, como se descreveu atrás, a sobrepopulação só aumentará a pressão sobre os poderes políticos, em geografias onde há mais regimes autocráticos que democracias. De acordo com o relatório divulgado pela organização Freedom House, existem 49 regimes ditatoriais no mundo, das quais 18 na África ao sul do Sahara, 8 na Ásia-Pacífico e 7 na Eurásia, as zonas do globo onde o crescimento populacional mais se faz sentir. Na União Europeia, onde o decréscimo da população é maior e o envelhecimento mais evidente, apenas se regista 2 casos de aparente autocracia, que ocorre na Hungria de Viktor Orbàn, Eleito em abril de 2022, após uma pré-concebida preparação de alguns anos que minou a independência do poder judicial, diminuiu pouco a pouco a liberdade de imprensa e das oposições, o processo que consolidou o regime do PM Orbán dá que pensar.
Deverá refletir-se muito cuidadosamente como evitar erosões nas democracias europeias, porque estão batendo à porta da União Europeia países do leste do Velho Continente que foram treinados na escola soviética e podem conter vírus antidemocráticos de rápida contaminação. Em pleno clima de guerra sem fim à vista dentro da Europa, entretanto agravado à sua beira pelo conflito israelo-palestiniano, quando ainda se lida com a desgraça dos migrantes mediterrânicos, o xadrez geopolítico de 2024 afigura-se jogo difícil para os decisores europeus. Habituados à proteção do aliado americano, descuraram os investimentos na defesa, chegando ao cúmulo de nem conseguirem produzir munições suficientes para sustentar as forças ucranianas. Baralhados nas costumadas divisões internas, fugindo como o diabo da cruz quando ouvem falar de federalismo, enfraquecidos pela saída dos britânicos, resta aos Estados Membros da União Europeia a sorte de pertencerem à NATO. Só que tal pertença exige contributo financeiro adequado, ainda que proporcional, o que para países como Portugal, está longe de ter apoio político consensual. Contudo, se a geopolítica 2024 acender o rastilho no estreito de Taiwan, ou a Venezuela de Maduro resolver invadir a ex- Guiana britânica, ou ainda se o Islão radical intensificar as ações em África, a União Europeia terá de acordar do cómodo torpor consumista, importador e dependente, em que tem andado mergulhada. Não resta alternativa aos defensores do ideal europeu que Jacques Delors, Helmuth Kohl, Robert Schumann, Altiero Spinelli, Mário Soares e tantas outras personalidades históricas exaltaram. Com o aproximar de 3 atos eleitorais sucessivos daqui até junho, seria importante que se discutissem nas campanhas – especialmente na regional e na nacional –os assuntos de fundo e não as trapalhadas e o maldizer habituais, reservando as matérias europeias para a respetiva campanha. Não faltarão, naquela como nestas, ocasiões para se discutirem os manás europeus e a sua boa ou má utilização.
No entanto, nos primeiros dias ditos de pré-campanha eleitoral regional, o que se vê é uns a afirmar o que fizeram, enquanto outros dizem que era o que eles vinham fazendo e vice-versa, numa dança caça-votos que não enobrece ninguém, principiando pelos dançarinos. Para ajudar, acabou a prenda de Natal do IVA=0, sobem os preços da eletricidade enquanto é anunciado nas televisões que as barragens hidroelétricas continentais sonegaram 400 milhões de euros de impostos ao Estado, o primeiro-ministro em gestão ajuda os “pobrinhos” do governo angolano, assumindo um aval de 34 milhões, e o mais que ainda veremos. Para passar tempo, uns patuscos entretêm-se com sondagens de fiabilidade duvidosa, como se deduz das que pontuaram eleições antecedentes. Oxalá desta vez atinem, porque o descrédito, uma vez instalado, cobra o seu tributo na abstenção. Se a geopolítica veio para desanimar o povo, pelo menos evitemos seguir-lhe o modelo em 2024.
Vasco Garcia