Edit Template

Cesto da Gávea: Geopolítica 2024

Na primeira semana do ano ainda bébé que agora dá os primeiros passos, a população mundial terá atingido os 8.100 milhões de pessoas, mantendo um ritmo de crescimento diário da ordem dos 200.000. Significam estes dados que, dentro de 1 ano, existirão mais 70 milhões de almas no planeta, se a taxa de aumento populacional se mantiver nos 0,88% e os cálculos não sofrerem algum revés inesperado, daqueles em que a Mãe natureza é pródiga. Mantendo-se as estimativas, 2050 verá um mundo que excederá 9.700 milhões de seres humanos, mesmo se a taxa anual prevista baixar para 0,51%. A média etária das populações também mudará dos 31 para 36 anos, mostrando um progressivo envelhecimento, fenómeno que será mais acentuado nos países mais desenvolvidos, entre os quais Portugal e os restantes Estados da União Europeia. A sobrecarga sobre os recursos naturais da Terra, já de si em risco devido ao agravamento das alterações climáticas, irá condicionar a vida em várias áreas geográficas, nomeadamente quando aos recursos hídricos, por sua vez altamente influentes na produção agroalimentar. O que acontece atualmente com a salinização do delta vietnamita do rio Mékong, com sinais preocupantes noutras zonas asiáticas (Bangladesh, União Indiana, Indonésia, China), ameaça colocar em crise o abastecimento global de arroz, fazendo disparar preços e despoletando conflitos, tal como irá seguramente verificar-se com o acesso à água. E, como se descreveu atrás, a sobrepopulação só aumentará a pressão sobre os poderes políticos, em geografias onde há mais regimes autocráticos que democracias. De acordo com o relatório divulgado pela organização Freedom House, existem 49 regimes ditatoriais no mundo, das quais 18 na África ao sul do Sahara, 8 na Ásia-Pacífico e 7 na Eurásia, as zonas do globo onde o crescimento populacional mais se faz sentir. Na União Europeia, onde o decréscimo da população é maior e o envelhecimento mais evidente, apenas se regista 2 casos de aparente autocracia, que ocorre na Hungria de Viktor Orbàn, Eleito em abril de 2022, após uma pré-concebida preparação de alguns anos que minou a independência do poder judicial, diminuiu pouco a pouco a liberdade de imprensa e das oposições, o processo que consolidou o regime do PM Orbán dá que pensar.
Deverá refletir-se muito cuidadosamente como evitar erosões nas democracias europeias, porque estão batendo à porta da União Europeia países do leste do Velho Continente que foram treinados na escola soviética e podem conter vírus antidemocráticos de rápida contaminação. Em pleno clima de guerra sem fim à vista dentro da Europa, entretanto agravado à sua beira pelo conflito israelo-palestiniano, quando ainda se lida com a desgraça dos migrantes mediterrânicos, o xadrez geopolítico de 2024 afigura-se jogo difícil para os decisores europeus. Habituados à proteção do aliado americano, descuraram os investimentos na defesa, chegando ao cúmulo de nem conseguirem produzir munições suficientes para sustentar as forças ucranianas. Baralhados nas costumadas divisões internas, fugindo como o diabo da cruz quando ouvem falar de federalismo, enfraquecidos pela saída dos britânicos, resta aos Estados Membros da União Europeia a sorte de pertencerem à NATO. Só que tal pertença exige contributo financeiro adequado, ainda que proporcional, o que para países como Portugal, está longe de ter apoio político consensual. Contudo, se a geopolítica 2024 acender o rastilho no estreito de Taiwan, ou a Venezuela de Maduro resolver invadir a ex- Guiana britânica, ou ainda se o Islão radical intensificar as ações em África, a União Europeia terá de acordar do cómodo torpor consumista, importador e dependente, em que tem andado mergulhada. Não resta alternativa aos defensores do ideal europeu que Jacques Delors, Helmuth Kohl, Robert Schumann, Altiero Spinelli, Mário Soares e tantas outras personalidades históricas exaltaram. Com o aproximar de 3 atos eleitorais sucessivos daqui até junho, seria importante que se discutissem nas campanhas – especialmente na regional e na nacional –os assuntos de fundo e não as trapalhadas e o maldizer habituais, reservando as matérias europeias para a respetiva campanha. Não faltarão, naquela como nestas, ocasiões para se discutirem os manás europeus e a sua boa ou má utilização.
No entanto, nos primeiros dias ditos de pré-campanha eleitoral regional, o que se vê é uns a afirmar o que fizeram, enquanto outros dizem que era o que eles vinham fazendo e vice-versa, numa dança caça-votos que não enobrece ninguém, principiando pelos dançarinos. Para ajudar, acabou a prenda de Natal do IVA=0, sobem os preços da eletricidade enquanto é anunciado nas televisões que as barragens hidroelétricas continentais sonegaram 400 milhões de euros de impostos ao Estado, o primeiro-ministro em gestão ajuda os “pobrinhos” do governo angolano, assumindo um aval de 34 milhões, e o mais que ainda veremos. Para passar tempo, uns patuscos entretêm-se com sondagens de fiabilidade duvidosa, como se deduz das que pontuaram eleições antecedentes. Oxalá desta vez atinem, porque o descrédito, uma vez instalado, cobra o seu tributo na abstenção. Se a geopolítica veio para desanimar o povo, pelo menos evitemos seguir-lhe o modelo em 2024.

Vasco Garcia

Edit Template
Notícias Recentes
Hospitais e Centros de Saúde dos Açores devem mais de 700 mil euros aos bombeiros pelo transporte não urgente de doentes
Nova carreira para os assistentes operacionais terá retroactivos, mas há processos que continuam por concluir
Universidade dos Açores acolhe a exposição “Frágil & Resiliente” até final de Maio
“Através do desporto, podemos promover turisticamente a Região e o Clube União Micaelense tem feito isso com excelência” afirma
Ex-Presidente do HDES defende-se e diz que “não fazia nem rasurava” as actas do conselho de administração do hospital
Notícia Anterior
Proxima Notícia
Copyright 2023 Correio dos Açores