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“O maior desafio é tentar que a Matriz volte a ser um centro aglutinador de pessoas”

Após sete anos no Santuário da Esperança, o cónego Adriano Borges, actual pároco da Matriz de São Sebastião em Ponta Delgada, fala, nesta entrevista, sobre a transição para a paróquia da Matriz. Passados três meses, Adriano Borges partilhou a sua visão sobre a comunidade e os desafios que enfrenta, desde a atracção de fiéis à resolução de problemas estruturais nos templos da Matriz e na Ermida de Nossa Senhora das Mercês.

Correio dos Açores – Como foi a transição do Santuário da Esperança para a igreja da Matriz?
Cónego Adriano Borges (Pároco da Matriz de São Sebastião de Ponta Delgada) – Quando somos colocados numa paróquia ou serviço, temos um mandato que são normalmente seis anos. Findo este prazo, há conversações entre o Bispo e o padre. Temos o voto de obediência, mas obviamente é uma obediência dialogada entre ambos.
Eu estava no Santuário do Senhor Santo Cristo há sete anos. Já tinha passado um ano do final do meu mandato, devido à questão da transição de bispos. Estivemos praticamente um ano sem Bispo e eu fiquei a aguardar pela decisão do Sr. Bispo, que entendeu dar-me uma nova missão que passa pela Matriz de São Sebastião, como pároco. Embora sejam funções bastante diferentes das que tinha como Reitor do Santuário, não são estranhas para mim. Já fui pároco em Santa Maria e na Terceira. Em São Miguel é a primeira vez. Estou muito satisfeito com a paróquia da Matriz.

Como está a ser a experiência na Matriz?
Na paróquia da Matriz temos algumas questões que são um pouco diferentes das outras. Para já, é uma paróquia de cidade, o que faz diferença para a parte mais rural. Temos uma paróquia um pouco envelhecida, sobretudo o centro da cidade que está deserto e com uma população bastante envelhecida.
A população mais activa e concentrada é na zona dos Bairros Novos. A Matriz é uma paróquia que está dividida em duas partes. Temos dois centros de culto: a Matriz de Ponta Delgada e a igreja Nossa Senhora das Mercês, nos Bairros Novos, onde temos o Centro Pastoral que está aberto para a catequese e para outras reuniões que são necessárias na paróquia.
Tenho tido uma excelente relação com todos os grupos de paroquiais, desde o Conselho Pastoral, o Conselho dos Assuntos Económicos, o Grupo Coral, Vicentino, Legião de Maria, Escuteiros.

Como foi aceite pela comunidade?
Fui bastante bem aceite. Tenho sentido imensa colaboração das pessoas a nível geral e uma boa aceitação da paróquia. Da minha parte, tenho tentado aos poucos conhecer a vida da paróquia, porque apenas cheguei há três meses. A experiência tem sido bastante positiva.

Sente que existe um menor número de praticantes na igreja Matriz em relação ao Santuário da Esperança?
O Santuário é um espaço muito diferenciado do que são as paróquias. Ao Santuário, vem gente de todo o lado, da ilha e de fora da ilha. Apesar de haver um núcleo de pessoas que frequentam assiduamente e até diariamente o Santuário, existe outro grupo de pessoas que é muito volátil, que vêm de vários lugares da ilha e fora da nossa ilha, não esquecendo os nossos emigrantes.
A Matriz é diferente, é uma paróquia. Como paróquia, a maior parte das pessoas que a frequentam são naturais da freguesia de São Sebastião, apesar de haver um grupo bastante razoável composto por pessoas de fora da paróquia que frequentam a Matriz.
A Matriz é um templo muito grande e enchê-lo em nada se assemelha com encher o Santuário, que é um espaço relativamente pequeno. Na Igreja da Matriz cabem três vezes mais pessoas do que no Santuário.
De qualquer forma, estou muito satisfeito, sobretudo neste tempo de Natal, em que senti uma grande adesão às celebrações natalícias e de final de ano. Vejo que a paróquia está activa e que as pessoas ainda participam nas comemorações.

Como constrói e mantém uma relação próxima com a comunidade paroquial?
Por exemplo, a iniciativa das sopas solidárias é uma forma de nos aproximarmos, relacionarmos e de conhecermos as pessoas mais perto, além do convívio.
Esta atitude é que faz com que as pessoas conheçam o padre e vice-versa. Já fiz algumas visitas, na altura do Natal, a algumas famílias, especialmente aos doentes da paróquia. A relação com os diversos grupos paroquiais dá-nos uma proximidade com a comunidade.
Além disso, a disponibilidade é essencial. O padre está na paróquia para servir as pessoas. Claro que há burocracias que também temos que resolver, mas o mais importante é a disponibilidade para ouvirmos e falarmos com as pessoas, para ajudarmos espiritualmente com serviço de confissões e direcção espiritual. Assim, dá-se uma boa relação com a comunidade.
A Matriz também possuiu uma creche. A relação com os funcionários e com os pais das crianças é igualmente algo que pretendo que se cimente ao longo do tempo. Dois meses é relativamente pouco tempo, no entanto temos seis anos para nos conhecermos e para nos ajudarmos mutuamente, e isso vem através da confiança, do respeito e do acolhimento.

O que se pode fazer para levar mais pessoas à Igreja, especialmente os jovens?
Desde logo, há que ver a cidade como um todo e não particularizar cada uma das paróquias.
Temos missas ao fim-de-semana a quase todas as horas do dia. Não há falta de celebrações, mas há falta de pessoas, sobretudo dos mais jovens. Ora, os horários nunca podem servir de desculpa para não irem porque existem muitas missas em horários diferenciados e as pessoas poderiam optar.
Por outro lado, é responsabilidade do pároco e dos grupos paroquiais tornar as nossas celebrações um pouco mais apelativas. Isso implica cuidar bem do canto e da palavra que é dirigida às pessoas. Temos de ser, essencialmente, acolhedores na diversidade das pessoas que nos aparecem e ter uma palavra dirigida aos mais velhos, aos casais, aos jovens e às crianças, que participam nas nossas celebrações sobretudo ao Sábado às 16h00.
Consegue-se cativar as pessoas através de uma palavra que diga algo a quem lá vai. Não pode ser muito teórico ou piedoso apenas, tem de contemplar uma mensagem útil e que seja alimento para a vida das pessoas.

De que forma a Ouvidoria de Ponta Delgada contribui para a vida da comunidade paroquial?
A Diocese tem uma organização própria, que passa por substratos de organizações, nomeadamente as paróquias e, como fase intermédia, pode-se dizer que existe a ouvidoria.
A ouvidoria permite que haja trabalho de conjunto e de reflexão dos vários intervenientes, como os párocos naturalmente, mas também e, sobretudo, dos conselhos pastorais de Paróquia com o Conselho Pastoral de Ouvidoria.
Há actividades e formações que promovemos, que fazem todo o sentido ser em conjunto ao invés de ser cada paróquia a fazer o “trabalhinho no seu quintal e não olhar para o quintal do vizinho”.
A Ouvidoria permite-nos ter uma visão mais alargada do que é a zona onde estamos a viver e, ao mesmo tempo, facilita tudo o que são formações e reflexão, e apontar caminhos para o futuro.

Quais são os maiores desafios que enfrenta como líder eclesiástico na Diocese de Ponta Delgada?
Creio que, neste momento, o maior desafio é tentar que a Matriz volte a ser um centro aglutinador de pessoas.
Claro que é um desafio grande o facto de o trânsito não poder chegar, com maior facilidade, à Matriz. É um desafio continuar a trazer as pessoas à Matriz, apesar de não se poder andar de carro aqui à volta.
Além disso, existem os problemas estruturais que temos na igreja Matriz, um edifício grande que está a necessitar de resolver sobretudo problemas de infiltrações, por causa da chuva. O problema da torre também não está resolvido, mas espero que nos próximos tempos se resolva.
Temos mais um templo, a ermida de Nossa Senhora das Mercês dos Bairros Novos. As estruturas paroquiais de ajuda à catequese precisam também de uma manutenção e de resolver alguns problemas estruturais. Acredito que estamos a caminhar no bom sentido e que, num futuro próximo, possamos resolver estas questões.
Resumidamente, o desafio maior será, de facto, trazer mais gente à Igreja. Um segundo desafio serão as questões estruturais que temos de resolver nos dois templos, tanto na Matriz como na ermida de Nossa Senhora das Mercês.

Como espera ver a comunidade crescer espiritualmente e envolver-se mais activamente?
O futuro é sempre uma incógnita. Creio que vamos ter um futuro, não muito distante, bastante desafiante. A maioria das pessoas que frequentam e praticam em todas as nossas comunidades já têm alguma idade, o que significa que nos próximos 10 a 20 anos essas pessoas, infelizmente, já não estarão connosco e os nossos templos vão enfrentar grandes desafios.
Com menos gente a frequentar e a colaborar, será um desafio manter um templo do tamanho da Matriz e mesmo outros da nossa ilha. Como se mantém esses templos se as pessoas já não estiverem ligadas afectiva e espiritualmente à sua paróquia e à sua comunidade?! Este é um grande desafio para o futuro, tanto para a nossa paróquia como para as outras.


Carlota Pimentel

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