A composição química e a densidade de milhares de inclusões fluidas aprisionadas nos minerais presentes nos magmas extruídos pelo vulcão Tajogaite, ilha de La Palma (Ilhas Canárias), em 2021, juntamente com a análise da sismicidade pós-eruptiva e a observação das características mineralógicas ao microscópio óptico, permitiram calibrar um método capaz de monitorizar, em tempo quase real, o percurso dos magmas e a variação da velocidade de ascensão nos vários segmentos crustais percorridos.
É o resultado duma investigação realizada por Vittorio Zanon e Klaudia Cyrzan, do Instituto de Investigação em Vulcanologia e Avaliação de Riscos (IVAR) da Universidade dos Açores, em colaboração com Luca D’Auria e Matthew Pankhurst, do Instituto Volcanológico de Canarias (INVOLCAN), e Federica Schiavi, do Laboratoire Magma et Volcans, Universitè Clermont Auvergne, França, e publicada na revista Science Advances.
O método, concebido e desenvolvido por Vittorio Zanon, foi testado com análises microtermométricas sequenciais em amostras piroclásticas recolhidas diariamente durante a erupção do vulcão.
O estudo das gotículas microscópicas de fluido presentes no magma em profundidade e aprisionadas nos cristais presentes permitiu definir a arquitectura do sistema de condutas e áreas de armazenamento magmático do vulcão e evidenciar a presença de magmas que emergem de diferentes profundidades.
A combinação desta informação com os dados de sismicidade sin-eruptiva, em termos de profundidades hipocentrais e frequências sísmicas, permitiu adicionar o parâmetro tempo ao modelo, possibilitando assim estimar as variações da velocidade de ascensão, quer ao longo do sistema de alimentação do vulcão, quer durante a própria erupção.
Assim, esta metodologia constitui uma nova e vantajosa forma de monitorização da actividade vulcânica, dado os reduzidos custos de instrumentação e operação e a qualidade da informação.
O método, que exige muita paciência para preparar as amostras e analisar tanto as inclusões como os sinais sísmicos de milhares de eventos, poderá no futuro ser ainda mais acelerado através da criação de um laboratório móvel, a instalar nas imediações do vulcão em erupção, eliminando o tempo necessário para enviar as amostras do local da erupção para o laboratório de análise.