Há 23 anos, quando o Santa Clara iniciou a campanha no campeonato da Segunda Liga de 2000/01, que acabaria por se sagrar campeão, o treinador Manuel Fernandes, já com a prova a decorrer, surpreendeu ao pedir a contratação ao Sporting de Braga do ponta de lança Toni Duarte e ao Estrela da Amadora do lateral esquerdo Leal, depois de muitos anos no Sporting.
Quando questionado porque pretendeu Toni, com 34 anos de idade, respondeu que seria muito útil no jogo aéreo com o 1,84 metro de altura. E foi! Nos jogos ante equipas muito fechadas ou com os resultados empatados ou em desvantagem, colocou-o ao lado de Brandão, para pressionar os defesas, abrir brechas e para marcar golos. Toni fez 7 golos em 19 jogos, alguns determinantes para os 3 pontos. No final do campeonato, dos 67 pontos conquistados pelo Santa Clara nos 34 jogos, Toni contribuiu com 10 pontos (3 vitórias e 1 empate).
Brandão, vindo do Coritiba e após um ano em Guimarães, com 20 golos em 36 jogos, era o titular. Dos 24 golos que marcou nos 35 desafios da Segunda Liga, muitos foram pela acção de Toni.
E porquê Leal, com 36 anos? O antigo treinador, que marcou a história do Santa Clara, respondeu porque a forma como cruzava serviria os intentos dos cabeceamentos de Brandão, com 1,80 metro, e de Toni, adiantando que na Segunda Liga não se pode jogar bonito, mas com objectividade.
Esta recordação vem a propósito do treinador Vasco Matos teimar em não colocar dois pontas de lança quando os momentos dos jogos justificam. Na única vez que o fez virou o resultado ante o Aves/Vilafranquense/SAD (AVS) de 0-1 para 2-1.
Para não recuarmos no tempo, no campo do Belenenses, onde um candidato não pode perder pontos – ali o Santa Clara perdeu dois com o empate a zero – o treinador só colocou João Marcos ao lado de Rafael no segundo dos 6 minutos de compensação da segunda parte. No futebol a incerteza paira, mas os golpes de sorte ou de azar não sucedem sempre. Foi uma muito tardia opção de Vasco Matos. Em 4 minutos!!!
Sábado, com o Mafra defendendo quase sempre com 8 elementos, procurando um ponto e tentando, como conseguiu, os três, voltou a não por Rafael Martins e João Marcos em simultâneo. Como está no compêndio, aos 71 minutos saiu Rafael Martins e entrou João Marcos, que ficou só na área a lutar, porque Vinicius Lopes não é ponta de lança. É um avançado móvel, que traz desequilíbrios quando embala de trás para a frente.
João Marcos tem 1,80 metro de altura e Rafael Martins, apesar de ter bom jogo aéreo, tem 1,77 metro. Por isso, a contratação de Safira, que tem estado ao serviço do Vitória de Guimarães, com os 1,85 metros, é fundamental para a luta na área.
Se não mudar a estratégia, dificuldades semelhantes vão aparecer.
20=0/3=1
No futebol ter mais ataques, mais posse de bola e mais remates nem sempre é sinónimo de golos. A equipa do Santa Clara no jogo de Sábado com o Mafra rematou por 20 vezes, mas não teve um número de oportunidades de golo de acordo com o número de remates. Ficou em branco. No Restelo, na anterior ronda, concretizou 14 remates e não marcou. Foi o segundo jogo consecutivo sem usufruir de um golo.
O Mafra rematou somente por 3 ocasiões na partida do estádio de São Miguel e além do golo, teve, na segunda parte, um remate à barra. Dividiu a posse de bola (50% para cada equipa), só teve um canto e…ganhou por 1-0.
A equipa de Mafra, a realizar um campeonato muito regular, foi, das 16 que já enfrentaram o Santa Clara, a que menos remates realizou, sendo, por ironia do destino, a única a aplicar uma derrota ao segundo classificado da Segunda Liga (1-0, golo de Diogo Almeida aos 90+3m).
A realidade é que o Santa Clara já desperdiçou 9 pontos com equipas que não pode desperdiçar: 0-0 com o Leixões, fora; 0-0 com o Penafiel, em casa, 0-0 fora com o Belenenses e 0-1 em casa com o Mafra.
A partida teve um número excessivo de faltas (39, sendo 19 do Santa Clara), originando muitas interrupções e a consequente quebra no ritmo, principalmente para quem tem como prioridade ganhar.
Na segunda subida, o Santa Clara não perdeu no estádio e só teve um empate. No final somou 67 pontos, sendo primeiro com 7 empates e com 7 derrotas. Com 16 jogos tinha os mesmos 33 pontos de agora. Na anterior promoção perdeu um jogo como visitado.
Ainda há muito para disputar, mas é imprescindível outra dinâmica. Como a já demonstrada diante dos principais opositores.
Arbitragem esquisita
João Gonçalves, da AF Porto, apitou o Santa Clara pela primeira vez esta época e a terceira desde que está nos quadros profissionais. Sempre com derrotas do conjunto micaelense (0-3 em Tondela e 0-1 em Barcelos).
Efetuou um trabalho esquisito, com uma enervante dualidade de critérios no capítulo disciplinar. Tecnicamente, no lance do livre que proporcionou o remate de Diogo Almeida à barra, esteve mal e pior ainda quando assinalou um fora de jogo inexistente a Serginho, deixou o jogo prosseguir para mais tarde assinalar. Com os jogadores do Santa Clara descontrolados e desconcentrados, desenrolou-se a jogada do golo.
Já no Restelo, Anzhony Rodrigues também conseguiu enervar a equipa, pelo que começa a pairar se outros valores não se estão a levantar.
Vasco novamente
O jogo com o Mafra assinalou a estreia em casa de Vasco Matos como treinador principal na ficha do jogo, depois de ter recebido a cédula com o grau 3. Aos 12 minutos foi admoestado com o cartão amarelo e aos 67m foi expulso. Pela segunda vez nesta época e no espaço de um mês e uma semana. Se somarmos a ausência por via da expulsão na época passada quando servia o Casa Pia, convenhamos serem expulsões a mais e prolongadas ausências do local onde tem de estar…
Sendo um treinador “marcado”, terá de se conter porque o que disser não tem o mesmo peso de outros. Está provado!
Menos público
Depois de um período de ascensão de espectadores, Sábado registou-se a terceira pior assistência da época. Apenas 1347 pessoas. O horário das 14h30, num Sábado, não foi convidativo? Talvez…
Quanto ao relvado, recebeu pela terceira vez a classificação de 3,38. Melhorou em relação ao anterior jogo com o FC Porto B.
FM
