Antevendo mais dificuldades no sector do tabaco devido ao aumento dos impostos, Graça Ornelas, Administradora do grupo Empresa Madeirense de Tabaco, de que faz parte a Fábrica de Tabaco Estrela, traçou ao nosso jornal um cenário ‘negro’ para a indústria do tabaco na Região. Fez um balanço das dificuldades vividas pela Fábrica de Tabaco Estrela (FTE) no ano transacto e indicou o possível aumento de preço do tabaco na Região entre os 5 e os 7%.
Correio dos Açores: Como avalia o desempenho da Fábrica de Tabaco Estrela em 2023?
Graça Ornelas (Administradora do grupo Empresa Madeirense de Tabaco, proprietária da ‘Estrela’) – Foi mais um ano muito difícil, onde as marcas regionais, que concorrem com as marcas internacionais, propriedade de multinacionais, que fazendo uso dos seus recursos financeiros e de marketing, pressionam, junto do ponto venda, a venda das suas marcas, bem como nos novos produtos, sucedâneos dos cigarros convencionais.
Houve algum acontecimento relevante que tenha tido um impacto significativon o sector do tabaco o ano passado?
O aumento do preço das matérias-primas e do custo da energia,que foi totalmente absorvido pela FTE.
Quais são as expectativas para o sector do tabaco este ano de 2024, considerando o actual contexto económico e regulatório?
O aumento significativo do imposto sobre o tabaco e extensão da exigência de rastreabilidade, aos charutos e às cigarrilhas, deixam antever mais um ano difícil para as tabaqueiras regionais.
A Fábrica de Tabaco Estrela ainda utiliza tabaco açoriano nos seus cigarros?
A FTE possui equipamentos de tratamento da folha de tabaco, pelo que é a única que produz, localmente, o tabaco dos seus cigarros, e inclui, naturalmente, o tabaco “Burley Insulano”.
De que forma o Orçamento de Estado do ano passado influenciou a Fábrica de Tabaco Estrela e o sector do tabaco?
O significativo aumento dos impostos sobre o tabaco, transversal ao sector, continua a criar sérias dificuldades às duas empresas regionais do sector, face às multinacionais que operam nos Açores, sem qualquer investimento no fabrico de cigarros, subcontratando capacidade instalada em Ponta Delgada, impondo condições negociais, extremamente exigentes.
Existem medidas específicas que tiveram impacto positivo ou negativo na indústria tabaqueira?
Não se verificou nenhuma medida positiva para o sector tabaqueiro.
Há planos para aumentar os preços do tabaco este ano?
Ainda é cedo para aferir sobre os ajustamentos a efectuar nos preços de venda, sendo, não obstante, previsível, o seu aumento entre os 5% e os 7%.
Que factores influenciam a decisão de ajustar os preços?
Os impostos, o aumento do custo de mão-de- obra e demais matérias e serviços.
Como descreve a relação actual entre o Governo e o sector do tabaco nos Açores? Existe uma percepção de falta de apoio?
A maioria das normas é de cariz europeia, sendo transversal a sua implementação, pelo que o Governo Regional está muito limitado na sua capacidade de acção. Adicionalmente, os apoios à indústria tabaqueira são vedados pela legislação europeia. Não obstante, está prevista, a nível europeu, a protecção dos pequenos produtores de tabaco, sendo que o Governo Regional deveria promover, ao nível da tributação do tabaco, o tratamento diferenciado, entre as marcas regionais e as marcas internacionais, as quais beneficiam de estruturas sofisticadas de marketing e de materiais de promoção, investimentos avultados, incomportáveis, para os pequenos produtores regionais de cigarros.
Que áreas carecem de apoio governamental, na perspectiva da Fábrica de Tabaco Estrela?
Os Açores têm duas das quatro fábricas de tabaco existentes no país, as duas restantes estão na Madeira e em Sintra, e, na nossa opinião, deveria ser maior a diferenciação do imposto sobre o tabaco produzido e consumido localmente. Por outro lado, deveria existir uma diferenciação do imposto, para as marcas regionais produzidas e consumidas localmente sob pena das duas fábricas existentes em Ponta Delgada, poderem ser, a muito curto prazo, meras empresas distribuidoras das multinacionais desaparecendo o sector produtivo com a consequentemente redução do pessoal afecto a essa actividade centenária.
Quais são as maiores dificuldades enfrentadas actualmente pelo sector do tabaco?
As normas cada vez mais restritivas ao comércio e produção, aliada à equiparação de impostos e consequentemente do preço de venda das marcas regionais às marcas internacionais, irão ditar o fim da indústria tabaqueira nos Açores.
Qual é o impacto da produção local na qualidade e autenticidade dos cigarros?
A produção local de cigarros, incorporando tabaco regional, permite a homogeneização dos lotes de tabaco e consequentemente da consistência do sabor distinto e inconfundível dos seus produtos. É um produto açoriano, para os açorianos.
F.F.