Durante o confinamento imposto pela pandemia, Francisco Cunha apercebeu-se que ‘O Vampiro da Canada Nova’, escrito inicialmente na altura em que frequentava o liceu, poderia dar uma saga composta por cinco livros. Nesta entrevista, o autor conta qual foi a sua inspiração, explica a origem do nome da obra e avança ainda que pretende publicar o último livro da colectânea.
Correio dos Açores – Publicou quatro livros da saga “O Vampiro da Canada Nova”. Pode explicar a sua linha temporal?
Francisco Cunha – A história começou há muito tempo. Como sempre gostei de escrever, escrevi, na brincadeira, um livro sobre vampiros que tinha 26 páginas, na altura em que andava no liceu. O tempo foi passando e fui fazendo outros trabalhos, incluindo o “IDN 1851 – The Santa Maria Air Disaster”.
Com a pandemia, e fruto do facto de termos que reinventar um pouco a nossa forma de diversão, decidi pegar na versão original e estendê-la para ver se as pessoas iriam ler. Basicamente, quis cruzar a história do Conde Drácula de Bram Stocker e replicá-la como se se passasse na freguesia do Livramento. A primeira edição teve, no máximo, cerca de 20 livros e vendi-os todos num dia. Isto levou-me a pensar que, afinal, este poderia ser um livro com potencial já que, para além da venda rápida, o feedback que tive foi sempre positivo.
Passados uns tempos, decidi fazer outra edição do livro, um pouco maior que a anterior, já com ISBN (número padrão internacional de livro), com um registo formal e com a capa desenhada por um artista. As pessoas gostaram e foram-me pedindo para fazer mais.
O segundo livro surgiu na altura da pandemia. O objectivo nunca foi sentir prazer com as situações graves descritas, mas sim contar algumas histórias de um ponto de vista mais cómico. Por exemplo, estávamos no café até às 20h no Livramento e, de seguida, íamos rapidamente para a Lagoa porque lá podia-se estar até às 22h. Estas situações, apesar de cómicas, mostram uma certa falta de preparação por parte das autoridades. Existiam, também, muitas contradições nesta altura, como por exemplo o uso da máscara, que contribuíram para a história do livro.
O terceiro livro é inspirado, em parte, no episódio especial de halloween da série “Os Simpsons”. Neste especial, eles costumam ter três histórias separadas de terror inspiradas em filmes, mas contadas sob a forma de sátira. Na altura, decidi fazer o livro inspirado em quatro histórias de terror, nomeadamente “Drácula”, “Blair Wich Project”, “Shinning” e “Parque Jurássico”. Tentei sempre inspirar-me nas histórias, misturando-as com a parte burocrática que existe na nossa ilha.
O quarto livro chama-se “O Vampiro da Canada Nova 4 – A Digressão” e é inspirado num videojogo, denominado “Castlevania”, que joguei durante muito tempo.
Neste livro as personagens vão viajando pela Europa atrás do vampiro. Contém sempre com um toque de sátira social.
Porquê a Canada Nova do Livramento?
Estava com muitas dúvidas na altura de escolher o título do livro, até porque queria algo diferente. No princípio, tinha como título “O Vampiro” e depois queria colocar o nome da rua onde moro. O problema é que a rua se chama “Rua Igreja à Lapa” e isso dava quase o nome de um capítulo. Então, lembrei-me de colocar o nome de uma rua da freguesia do Livramento que fosse pequeno. E assim ficou ‘O Vampiro da Canada Nova’. Até pensei em mudar mas como chamava à atenção deixei ficar. A título de curiosidade, o Livramento tem duas canadas novas.
Conclui no quarto livro, o arco da epidemia?
O próximo, que será o último, terá um arco novo. Como o segundo livro acaba em aberto e o terceiro é um pouco à parte, visto que as personagens contam histórias que lhes aconteceram no segmento da história principal, teria que acabar o arco no quarto livro.
Qual o próximo livro?
O quinto livro será um cruzamento entre uma sátira à série “Rabo de Peixe” e um homicídio real que ocorreu em Inglaterra. Uso o discurso de um político que, por si só, é cómico. Também é preciso que quem está a concorrer como candidato às eleições perceba que não é imune à crítica, sejam eles melhores ou piores. A obra tem como base temas actuais e o objectivo é fazer uma sátira sobre as coisas de freguesia e locais também.
Sinceramente, não tinha grandes ideias até ver a série “Rabo de Peixe”. Achei muita piada à série e não percebo como é que muita gente não conseguiu diferenciar a ficção da realidade. A história está engraçada e muito bem-feita, e já foi elogiada por pessoas do outro lado do mundo. Na minha opinião, critica-se muito o que é feito. Estamos em 2024 e o mundo é global. As coisas mudam e temos que fazer o trabalho para fora também.
Pode adiantar o título do próximo livro?
Em princípio chamar-se-á ‘O Vampiro da Canada Nova – A Branca’. Também estava na dúvida sobre este título. Hoje em dia, as pessoas ofendem-se com muita facilidade e não sabia se, por exemplo, a Branca, uma senhora que vivia na Canada Nova, iria ficar ofendida. Ainda estou indeciso se será uma epidemia de cocaína ou de aspartame, aquele adoçante que se põe no café.
Como tem reagido a população do Livramento aos livros?
Tem reagido bem. Tenho muitos leitores da freguesia e alguns até perguntam se podem aparecer no próximo. Gosto de usar expressões, conversas ou maneirismos de pessoas reais que possam ser cómicos. As pessoas identificam-se com as histórias.
O que me espanta, por vezes, é que pessoas que não são de cá conseguem entender muito bem a história, visto que não é escrita com português formal e aparece algum calão. Mesmo assim, conseguem entender.
Como tem corrido em termos de vendas?
Não olho muito para vendas, como também não faço uma grande quantidade de livro. Vendo os que são produzidos, mas não estou a par. No geral, as vendas têm corrido bem e dão para pagar as contas.
Quer deixar alguma mensagem?
A mensagem que quero deixar é que as pessoas comprem o livro, para se divertirem. O livro é escrito com uma linguagem menos formal, para não ser muito pesado. Tentei escrevê-lo como se fosse um filme de comédia e não como um romance mais maçudo.
Queria agradecer à Junta de Freguesia do Livramento, em especial ao Presidente Manuel António Soares, ao Mike’s Place, ao Sunset Beach Bar, ao Mike’s Barber Shop e à LGM Publicidade, porque sem eles não existiriam os livros.
Frederico Figueiredo