Aproximam-se as eleições. É tempo de as preparar. Primeira prioridade, combater a abstenção. Os Açores necessitam duma votação significativa e confirmativa da autonomia política, administrativa e financeira que conquistaram. O aumento da abstenção é sinal de desmotivação e de desconfiança. O apelo mais vigoroso deve ser dirigido à franja mais jovem do eleitorado açoriano incentivando-os a votarem e dizendo-lhes por que necessitam os Açores do seu voto e a esperança que ele representa para o futuro da Região Autónoma.
Todos os partidos concorrentes têm interesse numa votação o mais ampla possível e com toda a certeza, esta não cairá do céu.
Depois, quando reflectimos sobre o progresso e desenvolvimento das nove ilhas dispersas por uma extensão de 700km de mar, geograficamente distantes dos continentes que as cercam, com características próprias que as diferenciam economicamente, de reduzida dimensão humana, com uma história económica marcada pela monocultura, limitada por uma restrita oferta de produtos, só se nos deparam prioridades e, nalguns domínios de difícil hierarquização… Tantas que não sabemos por onde começar.
É difícil planear para um território de pequena dimensão humana e economicamente disperso. O volume do investimento comporta uma forte componente social e humana cuja desvalorização só tem uma consequência: aprofundamento da desigualdade e lentidão na marcha para o desenvolvimento.
De facto é mais fácil planear para uma ilha de 250 mil habitantes do que para nove ilhas com aproximado número de habitantes, mas de acentuada desigualdade populacional e dimensão geográfica. Por isso, o confronto dos PIB de cada revela uma diferença muito acentuada.
Nas últimas cinco décadas, os Açores desenvolveram-se muito e a um ritmo apropriado nos vários domínios da vida: educação, saúde, infra-estruturas portuárias e aeroportuárias, cadeias de abastecimento, turismo, indústria, energia, agropecuária, exportações, criação de uma marca própria para a sua produções – Açores -, notável melhoria na acessibilidade.
Os Açores aproximaram-se dos continentes entre os quais se situam e as suas ilhas uma das outras, independentemente do respectivo grupo de proximidade.
Ainda não completamente, mas objectivamente começaram a substituir a sua relevância como zona geográfica estratégica para um conflito armado de escala internacional pelo possível contributo pacífico proporcionado pela enorme extensão do mar que lhe corresponde para a economia azul como da amplidão marítima do Arquipélago para a investigação e perscrutação do espaço celeste. É muito importante para os Açores ser relevante para a paz, para a ciência, para o conhecimento e não para a guerra.
Persistem, contudo, áreas muito problemáticas, como a necessidade urgente de melhorar o parque habitacional para os extractos populacionais mais vulneráveis, o abandono escolar precoce, a situação periclitante de algumas empresas públicas, comunicações velozes necessárias e adequadas com o exterior – caso do cabo submarino – estabelecimentos prisionais degradados… A economia açoriana necessita de ter acesso a mais liquidez financeira do que aquele de que hoje dispõe, seja por via do crédito ou da capitalização das empresas. Se isso não acontecer a Região autónoma terá sempre boas grandes empresas privadas e muitas pequenas e médias empresas com dificuldades de tesouraria e reduzida capacidade de investimento.
Os Açores necessitam de tornar mais consistente e mais profícuo o diálogo entre os órgãos de governo próprio e os órgãos de soberania nacional. É uma área à qual tem de ser conferida alta prioridade. Sempre foi muito melindrosa independentemente da cor política governante nacional e nos Açores coincidir ou não. Porventura a proximidade das eleições nacionais e regionais possa originar uma boa oportunidade para aprofundar e definir um modo apropriado de relacionamento.
Se à hierarquização das prioridades dermos a forma de uma pirâmide da qual constem os principais programas e acções, no topo devem estar a acessibilidade/mobilidade, o bom relacionamento entre a Região Autónoma e o Estado, o reforço da liquidez financeira para a economia regional, as comunicações e os serviços públicos, o abandono escolar e a habitação para famílias mais vulneráveis.
Álvaro Dâmaso