Celebrou-se na passada Quarta-feira o aniversário de Augusto Pimentel numa cerimónia que reuniu família e amigos. Hoje, pelas 15h00, a população da Ribeira Seca reúne-se num convívio organizado pela Junta de Freguesia para celebrar a história deste centenário.
Nascido e criado em Vila Franca do Campo, Augusto Luís Pimentel celebrou, esta Quarta-feira, 100 anos. Filho de João dos Anjos Mansinho e Beatriz Pimentel Mansinho, é uma figura icónica da vila e todos aqueles que o conhecem dizem o mesmo: “o segredo para a sua longa e preenchida vida foi a qualidade de saber sempre dar a volta por cima e não se deixar abater.” É conhecido pela sua força de trabalho, pelo amor à terra, pelo inabalável sentido de humor e por “aproveitar tudo o que tinha à disposição”. Mas, e sobretudo, pelo gosto pelo convívio que o caracteriza e por todo o amor que cultivou naqueles que o conhecem.
A data foi celebrada com um jantar, no qual marcaram presença família e amigos no salão da Junta de Freguesia da Ribeira Seca, localidade onde é o único centenário. Foi emigrante durante 17 anos no Canadá e ainda fala bem o Inglês. Quando os mais novos lhe perguntavam “How are you uncle?”, respondia prontamente “one hundred per cent” (traduzindo do inglês significa: Como estás tio?/ A cem por cento”). Ainda cantou “Uma casa portuguesa” de Amália Rodrigues com a ajuda da sua “neta emprestada”, Lisete Roias que para preparar este evento inspirou-se nos livros porque, como refere, “cem anos são o marco de um livro completo”
Cinco Gerações
O centenário Augusto tem dois filhos com a sua primeira esposa, Maria dos Anjos Branco, que faleceu em 1991: Marta Maria Pimentel Neto, com 68 anos, e José Luís Pimentel, com 72. Tem cinco netos, Jennifer Pimentel, Gina Martins, Hélder, Virgínio e Fábio Neto. Os seus quatro bisnetos são Mackenzie Wallace, Micaela Martins, Helena e Camila Neto. Lourenço Varão é o seu trisneto com 11 meses.
Na década de 80, levou o filho José Luís para o Canadá, para evitar a tropa obrigatória. Por lá ficou e constituiu família. Já a filha, Marta Pimentel Neto, ficou nos Açores e expressa a alegria de ver o pai chegar aos 100 anos. “Ele sempre teve um grande coração, sempre foi um bom pai, ajudou toda a gente e tenho muito orgulho nele”.
Nos caminhos de ferro em Vancouver
Na década de 70, emigrou para o Canadá, onde ficou durante 17 anos. Trabalhou na construção dos caminhos de ferro de Vancouver, onde perdeu o irmão João Mansinho num acidente de trabalho. Vinha todos os Natais visitar a família, trazia as “novidades do Canadá” e mandava o dinheiro para a primeira esposa, Maria Pimentel, que foi comprando algumas das terras que, mais tarde, foram o seu sustento.
“Amanhecia e anoitecia na terra”
Todos os que o conhecem prontamente dizem que um dos maiores segredos da sua longevidade foi o amor ao campo. Augusto sempre trabalhou e nunca perdeu o gosto pela terra que semeou e cuidou até aos 95 anos de idade. Viveu do cultivo das vinhas e plantava desde as batatas aos amendoins, que levava sempre no bolso para oferecer a quem pedisse. “Ele tinha sempre amendoins assados nas algibeiras e em criança pedíamos amendoins,” contam algumas das amigas.
Liberal Manuel Quental Flor de Lima, casado com uma das vizinhas e amigas de longa data do “tio Augusto”, Maria Flor de Lima, conta: “ele vendia-me o vinho e a partir daí ficamos muitos amigos. Ele também vendia o vinho a outra pessoa, mas a dada altura passou a vendê-lo só a mim, o que era demasiado. Mas a responsabilidade de comprar-lhe o vinho, foi o impulso para andar para a frente. Ele obrigou-me a andar com os pés para vender o vinho e a partir daí continuei sempre a andar para a frente”.
“Foi uma pessoa muito inteligente. Comprou as suas terras, mas quando viu que já não podia, vendeu-as. Ele projectava muito bem a sua vida, tinha perspectivas de futuro. Nunca o vi triste. Mesmo nos maus momentos, no dia seguinte vinha com nova energia. Também era muito perfeccionista, queria tudo arranjado e se via uma pedrinha na terra, metia no bolso só para não a deixar lá”, concluiu Liberal Flor de Lima.
Vizinhos e amigos
de várias gerações
Os filhos dos amigos da sua geração, os seus amigos de hoje, cresceram com memórias do “tio” Augusto e os seus próprios filhos também já nutrem um carinho especial por ele.
Maria Flor de Lima afirma que o “tio” Augusto se caracteriza “pela sua alegria, pela sua a forma de viver, conviver e apreciar o comer. Ele trabalhava muito, mas quando era para passear, também passeava. Tirava sempre um dia, se fosse preciso de táxi, e ia às suas excursões e às festas todas. Ele fez sempre os seus rituais. Ia à missa, às festas e às procissões… Ele gozava tudo o que tinha à disposição.”
Margarida Andrade, vizinha e amiga de longa data, conta que a sua capacidade de “dar a volta por cima” e seguir em frente com a sua rotina foi uma qualidade que sempre impressionou aqueles que o rodeiam. Para além disso, ninguém esquece o seu sentido de humor “inabalável” e a sua postura “atrevida”, com que sempre lidou com aqueles que o rodeiam: “Toda a gente conhece o tio Augusto. Toda a gente tem um carinho especial por ele. A Teresa [esposa] também foi muito corajosa e foi sempre muito boa para ele.”
Os amigos dizem que foi para a ilha da Madeira atrás de Teresa Silva Pimentel, com a mesma convicção e força com que sempre encarou a vida. “Eu vou-me apresentar e se ela gostar de mim, vem comigo. Meteu-se no avião e assim foi”, recordou Margarida.
Augusto foi ao encontro de Teresa
na ilha da Madeira
A amiga Margarida Andrade explica que Augusto “não era homem para estar sozinho” e, por intermédio de uma amiga da Lagoa, a Senhora Valentina, encontraram uma “rapariga que era boa para ele.” Conheceram a madeirense Teresa nos dois anos que passou nos Açores a cuidar da irmã, Adelaide Silva, mas quando falaram dela a Augusto, já tinha regressado à sua terra.
Mostraram-lhe uma foto e ele ligou para a Madeira, no próprio dia, a informar Teresa de que se ela não quisesse vir aos Açores, ele ia à Madeira apresentar-se. Nas palavras da agora esposa: “Eu disse que não vinha para casa da minha irmã, em São Miguel, para o conhecer. Então, ele disse logo “se tu não vens, eu vou e fico num hotel. Ele disse-me com que roupa ia vestido para saber quem ele era e fui esperá-lo ao aeroporto. Ficou lá 8 dias. Um dia ele veio de um almoço em casa da Margarida e elas fizeram-lhe a surpresa. Quando entrou na cozinha, viu-me ali sentada”.
A 1 de Dezembro de 1993 casaram-se, ele com 69 anos e Teresa com 44. Muitos amigos afirmam que “este casamento e o amor que perdura há 31 anos foi um dos segredos” da longevidade de Augusto.
A “tia” Teresa e o “tio” Augusto
Actualmente com 75 anos, Teresa afirma que se sente muito feliz por ele ter chegado até aqui: “nunca esperei ter um marido que chegasse aos 100 anos. É preciso ter força e saúde para cuidar dele, mas se ele me falta vai ser muito difícil para mim. Falamos e rezamos juntos à noite. Ele sempre foi uma boa companhia”.
Conta que “ele ajudou muitas pessoas e sempre foi muito amigo do convívio, mas também sempre trabalhou muito. Até por volta dos 95 anos, ainda plantava ervilhas e açafroa no quintal, sentava-se numa eira e ia tratando da terra assim. Ele dizia sempre: “Eu quero é ir trabalhar, não quero ficar aqui parado”. Se todos os homens fossem amigos do trabalho da terra como ele, não havia terras por fazer.” Para além do trabalho, o tio Augusto também é “muito amigo de comer”, afirma Teresa, adiantando que “a alimentação também é muito importante na nossa vida, porque há coisas e horas em que não devemos comer.”
“Mas, se ele chegou aos 100 é porque Deus sabe o que faz. A ajuda de Deus é muito boa. Quando ele se deitava na cama dizia sempre: Jesus dá-me uma boa noite com saúde e a graça de Deus. Também dizia outra que inventou: Jesus dá-me uma boa noite como me deu o dia. Agora já há dias em que ele não se recorda e sou eu que lhe lembro”, conclui.
Daniela Canha