Após um breve período de férias natalícias fora da ilha, eis-me de volta ao vosso convívio, com votos de um excelente Ano Novo com “toneladas” de saúde para todos. Vamos ao tema desta semana.
Estão marcadas para o dia 4 de fevereiro as eleições regionais.
Confesso que não simpatizo com aquela data porque, foi nesse dia que a UPA – União dos Povos Africanos, iniciou (com razão, ou sem ela, não interessa) a revolta de Angola contra a colonização portuguesa. Este facto levou-me a passar 28 meses na selva africana, onde o meu batalhão e a companhia de reforço que tinha, perderam 13 elementos.
De regresso ao tema desta semana devo dizer que, o que tenho lido e ouvido nos vários órgãos de comunicação social é uma repetição das campanhas anteriores. Isto é, fala-se mal uns dos outros, porque não se fez isto ou aquilo que se tinha prometido, em campanha ou fora dela, esquecendo-se alguns acusadores que, quando por lá passaram, também não fizeram o que tinham prometido.
Por outro lado, aparecem os mini-partidos a chantagear reivindicando – para ontem – matérias de difícil solução, ou então, que não se fazem de um dia para o outro por falta de verbas.
São atitudes destas, de pura demagogia, que afastam os eleitores das urnas porque não estão para dar o seu aval a “palhaçadas” deste género.
Por outro lado, verifica-se a teimosia na falta de actualização dos cadernos eleitorais. Tanto a CNE – Comissão Nacional de Eleições, como as Câmaras e Governos Regionais, se têm “marimbado” para executar tal tarefa, talvez até por lhes interessar não “mexer”.
Também fiquei espantado com a quantidade de candidatos (efectivos e suplentes) que se apresentam às eleições. Nada mais nada menos do que 850! Convenhamos que é muita gente!!
Como curiosidade fiquei sabendo que, mais de duas centenas deles concorrem por ilhas onde não residem! Pergunto:- que fantochada é esta?
Ainda na área das curiosidades ficou-se a saber que, o actual governo regional tem mais de cem “boys” e “girls” nomeados para executar tarefas nos diversos gabinetes, com a presidência a pontificar com mais de vinte; isto para além de quase duas centenas de prestadores de serviços nos vários departamentos governamentais.
Francamente, isto é muita gente para governar uma população de cerca de 240.000 almas.
Depois falam da autonomia sem sequer saber o verdadeiro significado de tal palavra. Ser-se autónomo é administrar os recursos que tem.
Ser-se autónomo é exigir do Governo Central, ou de Bruxelas, aquilo que nos pertence por direito próprio, ou por via da nossa existência no meio do Atlântico.
Ser-se autónomo é pensar que, quem quer ter ilhas, tem obrigação de pagar por elas; ou seja, dotá-las dos meios financeiros suficientes.
Ser-se autónomo, não é estar de “trela curta” como aparecem alguns em cartazes com os seus chefes da mãe -pátria.
Ser-se autónomo, é falar com toda a verdade e não por meias verdades para confundir o eleitor.
A campanha eleitoral está praticamente na rua. Ainda não ouvi alguém – do governo ou da oposição – falar de simplificação legislativa de modo a facilitar a vida ao cidadão comum.
Todos sabemos quão complicado é tratar de qualquer assunto numa repartição pública. A complicação, foi criada pelos próprios políticos, com a estafada desculpa da transparência. Porém, o certo é que, quando se quer tratar de qualquer problema numa repartição pública é, por vezes, uma tarefa hercúlea que quase leva ao desespero o vulgar cidadão. Contudo, parece que nada disto incomoda a classe política desta região que se diz autónoma.
É, em boa verdade, uma verdadeira tristeza!
Carlos Rezendes Cabral
P.S. Texto escrito pela antiga grafia.
14JAN2024