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Lentos em ações e lestos em estudos

A governação política quando nada tem para apresentar como solução, refugia-se em estudos. Lança-se um estudo e a oposição política silencia-se.
Há anos que os Arrifes, Feteiras, São Vicente, e outras freguesias de Ponta Delgada, são vítimas de inundações, derrocadas e transbordo de ribeiras.
Nos Arrifes, a situação não é nova e as soluções efetivas há muito que tardam. As soluções executadas preocuparam-se com o recolher das águas arrastadas (construção de sumidouros) , descurando a origem dessas mesmas águas e os desvios das linhas de água – permitidos pela fraqueza de decisão e contornos na gestão territorial – que se mantêm há mais de 30 anos.
É credível que tenhamos um estudo hidrográfico para todo o concelho de Ponta Delgada com um custo de 30.000 €, como anunciou o responsável da Câmara Municipal de Ponta Delgada? Tudo indica ser uma medida em tempo eleitoral e apenas para tapar os olhos, com alguma verba disponível. Deveria ser público a base da contratação desse mesmo estudo e suas conclusões daqui a dois meses (curiosamente após os dois atos eleitorais).
Como o nosso espaço não é infinito, criar mais pontos de recolha de águas e não olhando para o problema de uma forma global, daqui a nada não teremos mais espaços para construir pontos de recolha de água e os carros continuarão a ser arrastados e as casas inundadas. É assim hoje, como é há décadas.
Somos rodeados por mar, pastagens e floresta. Os agricultores sabem bem o estado das suas explorações, estes que todos os dias acompanham-nas e vêem as suas terras que não absorvem as águas pluviais, vêem os poços de água parados em determinadas zonas e sabem, na esmagadora maioria, que 30 cm abaixo do solo este não está encharcado, mesmo com elevados índices de pluviosidade. Ninguém conhece melhor o solo da sua exploração e tem a consciência de necessitar do ambiente, como o agricultor. Por isso, maioritariamente, o agricultor tende a respeitá-lo (ao ambiente), e com certeza anseia por outras formas de fazer diferente, tal como valorizar a microbiologia do solo e como “alimentá-lo” sem “sufocá-lo” com excesso de fertilizantes arrastados pelas chuvas que voltam ao mar, precisamente do local de onde foram descarregados. Em suma, perda de dinheiro e tantas outras consequências.
Acresce a ausência de limpeza nas ribeiras, nos sumidouros e nos bueiros. Com tecnologia existente e um PRR- Plano de Recuperação e Resiliência – fortemente direcionado para a transição digital, estranha-se o não recurso a soluções digitais para a prevenção de enchentes, derrocadas e dos níveis de capacidade nos bueiros.
Falta coragem política às diferentes entidades para se articularem para resolverem problemas, em vez de contorná-los com mais estudos. À data as políticas públicas têm como resultado as contínuas perdas por parte das famílias e do ambiente, que inevitavelmente resultarão de apoios públicos para suprimirem os prejuízos, e o consumo da despesa pública. É um ciclo vicioso. Quem terá a coragem para atenuar (já para não dizer romper) com este ciclo?

Sónia Nicolau

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