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Associação Salvaterra com dificuldade em manter postos de trabalho lamenta reduzido aproveitamento das valências que oferece

Com 25 anos de existência, a IPSS Salvaterra de Santa Maria dispõe de vários ateliês que estão ao dispor da comunidade, onde se inclui o Ateliê de Lavandaria, Costura e Tecelagem, que assegura a venda de roupa em segunda mão em loja social. A Associação investe na formação e integração no mercado de trabalho de beneficiários do Rendimento de Inserção Social. No entanto, a Presidente, Dulce Resendes, alerta para “a crescente dificuldade” que a Associação tem tido em manter postos de trabalho, à medida que os “programas de emprego foram sendo extintos.” Acrescenta que: “Há um potencial enorme na Associação em prol da comunidade, mas que infelizmente não tem sido devidamente utilizado”

Correio dos Açores – Pode falar um pouco sobre a Associação de Desenvolvimento e Solidariedade Social Mariense, Salvaterra, e quais são os principais objectivos da instituição?
Dulce Resendes (Presidente da Associação Salvaterra) – A Salvaterra é uma Instituição Particular de Solidariedade Social fundada em 28 de Julho de 1998. Gerimos um centro de recursos comunitários que dispõe de vários ateliês ao serviço da comunidade. Em 2004 iniciamos a actividade com um ateliê de carpintaria, de costura e um de lavandaria e sapateiro, o único da ilha. Em Maio de 2011, foi criado o Centro de Convívio de Idosos de Santo Espírito onde se realizam várias actividades, entre elas o intercâmbio com os alunos da Escola. Também temos um ateliê de jardinagem e, mediante um protocolo com o Serviço de Desenvolvimento Agrário, cederam-nos algumas estufas e terreno onde produzimos hortícolas para venda na nossa loja. Em 2013 inauguramos uma loja social que recebe os produtos produzidos nas nossas oficinas. Além de que começamos a vender, a preço simbólico, vestuário em segunda mão. Também somos responsáveis pelos contentores de têxteis. Estas são todas actividades desenvolvidas a partir deste centro de recursos comunitário e estão distribuídas por vários espaços.
Neste momento, temos 12 funcionários ao serviço da Salvaterra, dos quais 8 estão no quadro e os outros quatro estão em programas de emprego social. Já chegamos a ter mais colaboradores, mas agora não temos conseguido e esta é uma das nossas maiores lacunas. Há um potencial enorme na nossa Associação em prol da comunidade, mas que infelizmente não tem sido devidamente utilizado.

Quantas artesãos compõem actualmente o Ateliê de Lavandaria, Costura e Tecelagem? Qual é a sua posição profissional?
Já tivemos seis pessoas, mas, neste momento, temos apenas duas. Isto porque os programas de emprego foram sendo extintos e há muita dificuldade de contratar alguém nestas áreas, pois não conseguimos gerar riqueza suficiente para garantir um posto de trabalho.
A pessoa que está a coordenar o atelier pertence ao quadro e é monitora dos três ateliês, Lavandaria, Costura e Tecelagem. E o outro elemento pertence ao programa Prosa. Qualifica.
A nossa dificuldade enquanto IPSS – e este é um problema comum às três IPSS da ilha – está no facto de que os apoios do Governo para a contratação de pessoal não acompanham a evolução do salário mínimo. O salário mínimo cresceu exponencialmente e a actualização dos nossos protocolos faz-se no valor da inflação, o que não corresponde àquilo que é o valor do salário mínimo. Quando estamos a trabalhar pro bono, é difícil garantir emprego a muitas pessoas para uma IPSS com as nossas características. Fazemos aquilo que é possível dentro das nossas capacidades e receitas, ou seja, quando conseguimos gerar mais receita é quando conseguimos contratar mais pessoas.

De que forma é que o ateliê contribui para a Loja Social da Salvaterra?
Abrimos em 2013 com uma “brincadeira” em que apenas dissemos “vamos abrir o espaço com esta remessa, fazemos uma espécie de feira e fechamos. Mais tarde, quando tivermos uma nova remessa, voltamos a abrir.” No entanto, aquilo nunca mais parou. As pessoas queriam um espaço em que pudessem entregar as suas roupas que ainda podiam ser reutilizadas.
No início, o publico alvo eram pessoas de estratos sociais mais baixos e maioritariamente beneficiários do Rendimento Social de Inserção, mas, neste momento, temos muitos pessoas de classe média que já são nossos clientes habituais. O estigma em relação à roupa de segunda mão já está a cair e isto também tem que ver com a evolução das mentalidades.

O ateliê desempenha um papel importante na reciclagem de roupa, calçado e brinquedos na ilha. Quer explicar?
A adesão foi tanta que começamos a ter um problema de acumulação de stock. Numa ilha como a nossa, conseguimos arrecadar à volta de duas toneladas de roupa. E, portanto, uma das nossas dificuldades é a capacidade de escoamento.
Estamos a colaborar com iniciativas na área social e iniciativas humanitárias. Ainda no ano passado, mandamos roupa numa expedição feita por um grupo de veleiros que foi para o arquipélago das Bijagós. Em Março de 2022, enviamos um contentor para a Ucrânia em que cerca de 90% da roupa enviada era originária da nossa instituição. Em 2019 enviámos um contentor de roupa para a Cáritas de Cabo Verde. Tentamos fazer com que a roupa tenha um seguimento e uma utilização. A reutilização faz-se de duas formas, ou com trabalhos de costura criativa, ou em trabalhos de tecelagem. Na tecelagem temos dois teares.
O ateliê preserva os ofícios tradicionais da tecelagem…
A Salvaterra é uma Associação que tem a obrigação, inclusive um protocolo com o Governo que diz que nestas oficinas damos formação a pessoas originárias do Rendimento Social de Inserção. Ao longo dos anos, temos vindo a dar formação a estas pessoas e muitas delas são utentes da nossa Associação, ou seja, elas saem das oficinas com as competências importantes e contratámo-las.
De momento, temos duas colaboradoras nesta situação, uma delas está connosco e outra está a aguardar a aprovação do programa. Receberam formação, estiveram connosco, nós gostamos do trabalho que elas produziram e, neste momento, estão a trabalhar connosco.
Neste sentido, o programa de emprego para pessoas com pouca qualificação deve continuar a existir e tem de haver apoio às Associações que querem proceder à sua contratação. Estamos a falar de pessoas com fraca escolaridade e com vários problemas, como é, inclusive, o caso de problemas psicológicos.
Somos uma instituição com capacidade de absorver pessoas que estavam a ser rejeitadas por outras instituições. Nós estamos a dar formação e apoio e, por exemplo, já contratamos pessoas com problemas de alcoolismo que, neste momento, estão totalmente integradas. Isto é muito importante para nós, mesmo que não as consigamos contratar, estas pessoas, saem do Salvaterra com formação, a desempenhar as suas funções e sem qualquer problema no âmbito da integração.

De que forma é que a comunidade pode apoiar este ateliê?
Não me canso de referir que a comunidade mariense está atenta e quer ajudar. A partir dos ateliês, nós desenvolvemos várias acções de âmbito social e pro bono. Temos o banco do bebé em que distribuímos de forma gratuita e em modalidade de empréstimo roupa e todo o equipamento de bebé que vamos reutilizando.
Temos um banco de bens solidários e, por exemplo, quando as pessoas estão a remodelar a sua casa e têm peças como sofás que ainda podem ser usados, contactam-nos e fazemos a distribuição. Ainda recentemente, uma unidade hoteleira fez uma reforma em todos os televisores que tinha doou-nos. Portanto, tudo isto são situações em que vemos que a população está atenta e a colaborar.
Daniela Canha

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