DISTRITO DE PONTA DELGADA – Nas décadas de 1840-50, a par da intensa actividade da Câmara dos Deputados para a reforma metrológica, fazia-se em todos os concelhos do Reino o levantamento exaustivo dos pesos e medidas e sua equivalência no sistema métrico decimal.
A maioria dos nomeados para essa missão eram oficiais do exército, cujo dispositivo territorial cobria todo o país, pois havia unidades militares de diferentes escalões nos principais centros populacionais.
Portugal chegou a ter mais de 900 concelhos municipais. Na década de 1840 teria perto de 300. Os Açores tinham então os actuais 19 concelhos, acrescidos de outros quatro: Capelas e Água de Pau (S. Miguel) e S. Sebastião (Terceira), extintos em 1855; Praia (Graciosa) e Topo (S. Jorge), extintos em 1867.
Para proceder à comparação dos pesos e medidas em uso nos concelhos dos Distritos Oriental, Central e Ocidental dos Açores com os do novo padrão do sistema métrico decimal, foi nomeado, por portaria do Ministério do Reino de 25 de Julho de 1845, o tenente-coronel de artilharia António Homem da Costa Noronha (Porto, 1787 – Angra do Heroísmo, 1868), militar com uma brilhante folha de serviços, que se reformou no posto de brigadeiro. Munido das instruções anexas à portaria, iniciou esta comissão de serviço pelo Distrito Oriental do arquipélago.
PONTA DELGADA
Em 25 de Outubro de 1845, houve sessão pública na Câmara Municipal, estando presente o tenente-coronel Noronha, para fazer a comparação dos pesos e medidas em uso nas Ilhas de S. Miguel e Santa Maria. Presente também Luís d’Almeida, aferidor e nomeado pela Câmara para apresentar os pesos e medidas deste concelho: arroba, alqueire, canada, vara e côvado.
Recorda-se que a terminologia usada neste levantamento a nível nacional era a da reforma, decimalizada, de D. João VI (1814), com os seguintes valores:
Mão-travessa (10 cm); libra (1 kg); arroba (10 kg); canada (1 l); e alqueire (10 l).
Para o desempenho desta tarefa havia os “Instrumentos e modo de fazer as aferições na comparação dos pesos e medidas”, que incluíam uma tripeça de nivelar para aferir medidas, com uma tampa plana de vidro para “rasourar” a água e eliminar as bolhas de ar; sendo as medidas de madeira, de boca larga, em que não se pudesse rasourar com o vidro, em vez de água usava semente miúda para fazer a aferição “pelo modo vulgar”.
O resultado da comparação foi o seguinte:
Achou-se que o alqueire para a medição dos secos era igual a alqueire e meio [15 l] do novo padrão métrico decimal; a canada para a medição dos líquidos, igual a duas canadas [2 l] do padrão mencionado; a vara, igual a onze mãos-travessas [1,10 m]; o côvado, a seis mãos-travessas e nove décimos [69 cm]; e a braça de medir terreno a vinte e seis mãos travessas e quatro décimos [2,64 m]; notou-se que a arroba do padrão da Câmara era igual a uma arroba, quatro libras e meia, oito centésimos e seis escrópulos [14,586 kg] do padrão real.
VILA DO PORTO
No dia 13 de Novembro de 1845, o tenente-coronel Noronha embarcou para a Ilha de Santa Maria, aonde chegou no dia 15. A 17, em sessão pública da Câmara Municipal, procedeu à mesma comparação dos pesos e medidas em uso no concelho com as do sistema métrico decimal, de que resultou a seguinte relação:
O alqueire em uso para a medição de secos, igual a catorze canadas e trinta e três centésimos [14,33 l] do novo padrão; a canada para a medição de líquidos, igual a duas canadas e quatro centésimos [2,04 l); a vara para efeitos manufacturados, igual a onze mãos-travessas e quinze centésimos [1,15 m]; o côvado, igual a seis mãos-travessas e setenta e cinco centésimos [66,75 cm]; a arroba, igual a uma arroba e seiscentos e oitenta e seis milésimos [10,686 kg]; e finalmente a braça para medidas agrárias, igual a vinte e duas mãos travessas e três décimos do mencionado padrão [2,23 m].
No mês de Abril 1846, o tenente-coronel Noronha visitou os restantes concelhos do Distrito Oriental, resultando da comparação das novas medidas do sistema métrico decimal com as actualmente em uso nos mesmos concelhos a seguinte relação:
VILA FRANCA DO CAMPO
A canada em uso, igual a duas canadas do novo padrão; o alqueire, igual a 15 canadas; a vara, igual a 10, 97 mãos-travessas; o côvado, igual a 6,85 mãos-travessas; a vara de medir terrenos, igual a 26,4 mãos-travessas; a arroba igual a 14, 719 libras [kg].
VILA DA POVOAÇÃO
A canada, igual a 2 canadas do novo padrão; o alqueire, igual a 15,01 canadas; a vara, igual a 11 mãos-travessas; a vara de medir terreno, igual a 26,45 mãos-travessas; a arroba, igual a 14,67 libras.
VILA DE NORDESTE
A canada, igual a 2 canadas do novo padrão; o alqueire, igual a 15 canadas; a vara, igual a 11,04 mãos-travessas; a vara de medir terrenos, igual a 26,37 mãos-travessas; a arroba, igual a 14,665 libras.
VILA DA RIBEIRA GRANDE
A canada, igual a 2,04 canadas do novo padrão; o alqueire, igual a 14,8 canadas; a vara, igual a 11 mãos-travessas; o côvado, igual a 6,9 mãos-travessas; a vara de 10 palmos para medir terrenos, igual a 22 mãos-travessas [2,20 m]; a vara de 12 palmos [2,64 m] para medir terrenos, igual a 26,33 mãos travessas; a arroba, igual a 14,5 libras.
“N.B. Parte dos terrenos do Concelho da Ribeira Grande são medidos com vara de 10 palmos, e parte com a de 12. A caixa do novo padrão Real foi entregue no dia 2 do corrente à Câmara Municipal desta cidade, para a aferição das medidas dos Concelhos do Distrito, quando se levar a efeito o uso do novo sistema métrico decimal.”
Apoio:
Semanário “Açoriano Oriental”, edições de 8 de Novembro de 1845; 10 de Janeiro; 28 de Março; 16 e 30 de Maio de 1846.
Ferreira Almeida