Está provado que rir aumenta a nossa qualidade de vida e o comediante Miguel Neves, que só ontem soube da existência do Dia Internacional do Riso, alerta-nos para importância de sermos vigilantes para com a nossa saúde. Dos Açores recorda os “pólens da vasta e variada flora” que estão na origem da sua rinite crónica, a psoríase, que muito presumivelmente surge das saudades de casa e, por fim, reporta o seu recente encontro com a periodontite, uma doença que ameaça o sorriso de quem depende do riso dos outros para viver.
Natural de Ponta Delgada, o comediante residente no Lisboa Comedy Club, conta com participações em programas de televisão como “Levanta-te e Ri” e “5 para a Meia Noite”. Já actuou de Norte a Sul do país, com destaque para o NOS Alive, Sol da Caparica, Teatro Micaelense, Festival F e Porto Comedy Fest, entre outros. Recentemente, começou também a fazer stand-up comedy em inglês, tendo já actuado em Londres, Berlim, Amesterdão e Nova York, com actuações marcadas ainda para Atenas e Barcelona. Tem uma filha alfacinha, nunca perdeu o sotaque e tem como iguaria favorita da sua terra um maço de cigarros ‘Além-Mar’.
Correio dos Açores – Pode falar um pouco sobre o percurso que o levou à comédia?
Miguel Neves – Talvez por exclusão de partes. Um acumular de erros e más decisões levou-me a um afunilamento de opções. Agora estou preso a isto. Não tenho jeito para rigorosamente mais nada. Ainda não sei como é que um carro funciona.
Qual é a importância do Dia Internacional do Riso?
Soube ontem através desta entrevista que este dia existe.
O que o faz rir?
Coisas muito sérias.
No continente, é um comediante que não perde o sotaque micaelense. Como é que os Açores influenciaram a sua carreira?
Quero salvaguardar que a permanência do meu sotaque não é fruto de nenhum esforço propositado. É como ter psoríase. Que por acaso também tenho. Manifesta-se de uma forma ligeira, como se tivesse caspa nos cotovelos. Em relação aos Açores, não sei como influenciaram a minha carreira. Mas decerto influenciou a minha psoríase. Esta doença crónica está ligada ao stress e à ansiedade e só depois de deixar de viver nos Açores é que ela apareceu. É um arquipélago muito relaxante e a minha pele tem saudades.
Tem alguma história dos Açores que o tenha inspirado particularmente?
É uma terra com muita natureza e talvez o que mais inspirou foram os pólens da vasta e variada flora que compõe o retrato da minha memória. O que foi complicado porque além de psoríase também tenho rinite crónica. Julgo que a primeira vez que respirei pelo nariz foi aos 18 anos quando fui habitar na cidade do Porto.
Sente que hoje existem mais oportunidades para os artistas na Região?
Talento desbrava talento. Os que vieram antes de mim permitiram que esteja onde estou. E só espero que possa fazer o mesmo pelos que ainda estão para vir.
Qual é parte mais gratificante do seu trabalho? E os maiores desafios?
Ser eu próprio. Poder apresentar-me tal e qual como sou. Com todas as minhas qualidades e defeitos. Inclusive as minhas doenças. Já referi que tenho psoríase e rinite crónica? Também sou alérgico a penicilina. Não é necessariamente uma doença, certo, mas encontra-se dentro do foro medicinal.
Até agora, qual foi o momento mais importante do seu percurso na comédia?
Ter actuado no Teatro Micaelense.
Qual foi a história mais caricata da sua carreira?
Não sei se é uma história, mas é caricato. Recentemente fui diagnosticado com periodontite. É uma doença inflamatória crónica que leva à retracção da gengiva e à perda do osso de suporte dos dentes. Não é grave porque foi descoberto a tempo. Culpo a família da minha mãe porque é genético. O caricato disto é que para quem se dedica a gerar sorrisos nos demais, o meu está em jogo.
Há algum espectáculo que o tenha marcado particularmente?
Uma vez actuei no Chapitô dentro de uma banheira.
Quer deixar alguma mensagem no Dia Internacional do Riso?
Rir é supostamente o melhor remédio, mas em muitos casos não é bem assim. Façam análises, tenham cuidado com a saúde, tentem ir ao médico com regularidade, porque a idade não perdoa.
Daniela Canha