Mário Pereira Moniz continua a trabalhar na Rua dos Foros, n.º 8. Este exímio artesão dedica-se ao restauro de móveis e faz serviços em talha, douramento, palhinha, embutidos e miniaturas, para além de ser monitor de Artes Decorativas em Madeira.
Mário Pereira Moniz está quase a fazer 80 anos de idade, data que será comemorada no próximo mês de Fevereiro. Para o nosso entrevistado, “a idade é apenas um número” e continua a fazer restauros “porque é uma forma de passar o tempo”.
Já restaurou peças maiores, como louceiros ou cómodas, que são móveis pesados, mas “hoje em dia, como a massa muscular é menor, faço restauro de peças mais leves, como cadeiras ou imagens”.
“Faço menos restauros do que antes, até porque, como isto é um passatempo, não tenho horário de trabalho. Entro à hora que posso e saio à hora que é preciso, e como já disse, é a forma de poder passar o tempo e de poder estar distraído com as minhas madeiras e com as minhas ferramentas”.
Tivemos a sorte de encontrar Mário Pereira Moniz na sua oficina, numa incursão que realizamos ontem à baixa da cidade de Ponta Delgada e não enjeitamos a oportunidade de falar um pouco com o nosso interlocutor, até porque momentos depois tinha de sair para ir buscar a sua mulher.
“A satisfação do cliente
significa muito”
Como profissional que é, tem de ser minucioso naquilo que faz, mas só faz quem sabe e tem de ter conhecimentos sobre as diversas técnicas para fazer um trabalho perfeito. “O cliente quer o serviço em condições e como tal faço o melhor que sei, para depois ver o cliente levar a peça com um sorriso no rosto por ver o que foi feito. Isto para mim representa muito, porque acabo por notar que o cliente gostou do restauro e quando assim é significa, que o serviço ficou bom e fico satisfeito”.
Contra a vontade do pai, porque não queria que o filho lhe seguisse as pisadas e também fosse marceneiro e carpinteiro, Mário Pereira Moniz via o seu pai trabalhar, quando pequeno e jovem tinha no pai um exemplo a seguir. “Naquele tempo, o meu pai usava muitas plainas e serrotes, mas hoje em dia tenho muitas ferramentas eléctricas, que nos auxiliam a fazer peças, de uma maneira mais fácil e menos custosa do que anteriormente”.
Os mesmos métodos do passado
Por falar noutros tempos, Mário Pereira Moniz “gosta de usar os métodos de trabalho do passado, que incluem o uso de ferramentas manuais e técnicas tradicionais de carpintaria, tanto que ainda hoje usa pregos galvanizados ou de latão, a cola ou grude para executar os restauros”.
Mário Pereira Moniz tem entre mãos o restauro da asa de um anjo feito em alabastro. Para isso, terá de usar uma matéria que se pareça mais com a peça, para que depois não se possa notar a diferença.
De referir, que alabastro é uma designação aplicada de dois minerais distintos: gesso (sulfato de cálcio hidratado) e calcite (carbonato de cálcio).
“O saber não ocupa lugar e é sempre um desafio quando aqui aparece alguém com uma peça, que nunca restaurei. Primeiro analiso e informo, se é possível ou não”.
Livramento, Santa Maria,
serviço militar e banca
Mário Pereira Moniz nasceu na freguesia do Livramento, mas viveu a sua infância e juventude na vizinha ilha de Santa Maria.
O serviço militar, que antes era obrigatório, estendeu-se por quatro anos, dois dos quais exercidos em Angola.
De regresso, veio para São Miguel para trabalhar na banca e reformando-se, encontrou no restauro, uma maneira de passar o tempo.
É casado e pai de dois filhos, um deles economista e outro é arquitecto. Já tem netos, um rapaz e duas raparigas, sendo que o neto adora desportos náuticos, concretamente, a vela. Uma neta está a terminar o curso de Engenharia e outra neta está a terminar o 12.º ano para depois seguir o ramo da Geologia.
A pesca é outra paixão
Para além dos restauros, Mário Pereira Moniz utiliza com regularidade, em casa, o seu computador de secretária, vê alguns filmes de outros tempos e compra, por vezes, algumas ferramentas, numa plataforma digital.
A par, “adoro pescar, e sempre que o tempo permite vou pescar de barco”. Desafiado a falar da importância das pessoas terem um passatempo, respondeu da seguinte forma. “É uma forma de espairecermos e de ocuparmos a nossa mente, com coisas que gostamos. É benéfico para a saúde mental e física, e trazem muito significado e sentido à vida, reduz o stress e proporciona uma sensação de bem-estar”.
Faz caminhadas, mas mais para acompanhar a mulher, mas nem sempre.
Acresce dizer que Mário Pereira Moniz tirou formação em várias áreas. Foi formador numa escola profissional em Rabo de Peixe, na área de carpintaria de limpos, durante dois anos.
Marco Sousa