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Micaelense André Sousa já foi preparador físico no Sporting e no Benfica e treinou alguns atletas olímpicos na China

Com o sonho de fazer parte do desporto de alto rendimento, André Sousa formou-se como preparador físico. Depois de trabalhar nos principais clubes de Lisboa (Sporting e Benfica), foi para o outro lado do mundo (China), decidido a expandir os seus horizontes pessoais e profissionais. Regressou a Portugal continental onde criou uma empresa de performance de alto rendimento com um conceito inovador, que tem crescido com o tempo. Admite que “adorava fazer parte de um projecto de desenvolvimento de desporto de alto rendimento na Região”

Pode falar-nos do seu percurso?
André Silva (Preparador físico) – A nível escolar, tive um percurso normal. Aos 18 anos, entrei na licenciatura em Ciências do Desporto e fiz o mestrado em Treino Desportivo na Faculdade de Motricidade Humana em Lisboa. Enquanto estudava no mestrado, comecei a trabalhar no Ginásio Clube Português. Como queria fazer o estágio de mestrado em desporto de alta competição, falei com o professor Pedro Mil Homens, que na altura tinha acabado de sair da Academia de Alcochete, para ser meu orientador. Com ele, consegui fazer o estágio no Sporting Clube de Portugal, na modalidade de andebol. Foi aí que começou, efectivamente, a minha carreira no desporto de alta competição.
Fiz este estágio com a equipa do escalão júnior e, no ano seguinte, fui convidado para integrar a equipa técnica no escalão sénior. Ainda não era trabalho a tempo inteiro, uma vez que só estava com a equipa da parte da tarde e da manhã ainda estava a trabalhar no ginásio, tendo ganho a Taça de Portugal. Finda a época, volto a ser convidado por membros do Sporting para integrar a equipa de futebol como preparador físico, tendo estado envolvido em todas as equipas dos escalões de formação até aos seniores B, isto na época 2014/2015. Em Abril deste ano, saí uma vez que a proposta que me foi apresentada não me agradou.
No Verão deste mesmo ano, em 2015, fui de viagem para a China e lá encontrei um conhecido que entrou em contacto com o presidente de um centro de treinos da província de Zhejiang, e fizeram-me uma proposta muito apelativa. Estive, numa primeira instância, num regime experimental de três meses e, depois, renovaram-me por mais um ano e meio esse contrato. Trabalhei com atletas de natação, badminton e voleibol onde até cheguei a trabalhar com atletas que faziam parte da selecção olímpica. Foi uma experiência muito interessante e desafiante quer do nível pessoal, quer a nível profissional.
No final de 2017 retorno a Portugal e em 2018 criei a Go Athlete, juntamente com um amigo.
Em 2019, volto a ir para a China, ficando o meu parceiro responsável pelo nosso projecto em Portugal. Estive todo o ano, de Janeiro a Dezembro, num centro de treinos de preparação em Xangai.
Apesar de ter recebido uma nova proposta, decidi, em conjunto com a minha esposa, voltar para Portugal e apostar no projecto que tinha cá deixado.
Na época de 2021/2022 fui abordado pela equipa de andebol do Sport Lisboa e Benfica e integrei a equipe sénior como preparador físico. Foi uma época muito gratificante porque fizemos um feito histórico no andebol nacional uma vez que vencemos a Liga Europa de Andebol nesta época. No fim da época voltei apenas a estar envolvido na Go Athlete. Na actual época decidi aceitar a proposta da União de Leiria, onde ainda me encontro. Também lecciono na Faculdade de Motricidade Humana numa pós-graduação.

Quais foram as principais diferenças, em termos culturais, com que se deparou ao chegar á China?
Realmente, existem muitas diferenças. A primeira foi a língua. Existe uma barreira linguística muito estranha e o meu tradutor, na altura, não falava muito inglês. Foi muito complicado. Felizmente, hoje em dia consigo falar mandarim porque, na minha opinião, se vamos para outro país temos que nos adaptar à sua língua. A nível cultural, ainda existe a ideia de hierarquias. Os atletas e equipa técnica não questionam, por exemplo, aquilo que o treinador diz, independentemente da mensagem. Isto, para mim, foi um choque já que era pago para dar a minha opinião que podia não ser coincidente com a do treinador. No início a minha principal batalha na China, passei a mensagem de que a quantidade de horas de treino não significa aumentar a qualidade e teríamos sim que aumentar a intensidade dos treinos. Com o tempo, conseguimos chegar a um meio-termo, fruto da minha adaptação às ideias locais e também de alguma aceitação das minhas ideias.
Os interesses deles são diferentes, a maneira de lidarem com as coisas é diferente, as expressões faciais perante as situações são diferentes. Isto, ao inicio, foi muito difícil mas superado isso, sei que fiz amizades para a vida.

O que o levou a criar a Go Athlete?
Como cheguei fora da época competitiva, uma vez que cheguei em Outubro, e só tinha as aulas da universidade, tinha pensado descansar um pouco. Na China o trabalho tinha sido muito intenso.
Em Janeiro de 2018, e em conjunto com o meu parceiro, decidimos criar algo que ainda não existia em Portugal, que era o acompanhamento de atletas individuais que não têm esse acompanhamento no clube ou então de clubes que queiram comprar esses serviços. Conseguimos criar a ideia, o conceito, o site e tudo o resto. Hoje temos um ginásio físico em Algés e damos preparação física tanto a clubes como a atletas individuais. Felizmente, é um projecto que tem vindo a crescer. Hoje em dia damos formação a vários preparadores físicos, somos responsáveis pela preparação de alguns clubes de primeira liga de diversas modalidades como futsal ou rugby. A nível de atletas individuais, temos clientes que actuam nas mais diversas modalidades e divisões a nível nacional, chegando a ter atletas da Premier League inglesa que requisitam os nossos serviços nas férias.

A maneira como prepara um atleta varia consoante a modalidade…
Se pensarmos bem, os principais desportos de pavilhão não são assim tão diferentes. Todos eles exigem deslocamentos, travagens, mudanças de direcção, saltos e contacto físico. Obviamente que cada modalidade. Depois, tem as nuances. Quando vou trabalhar, vejo sempre os indicadores de performance das modalidades, ou seja, quais são as variáveis a nível físico que potenciam o jogador desta modalidade a ter sucesso. Outra coisa que tem que se pensar é quais são as principais lesões que existem no desporto em questão.
Depois, se queremos evoluir e chegar a um nível mais alto, é preciso ver como se integra o que se quer integrar na componente física em campo. Isto para ser o mais eficiente em campo e é algo que estou a aprender muito este ano. A arte está em conseguir integrar o que queremos do ponto de vista fisiológico com o que queremos do ponto de vista técnico-táctico.

Tem planos para trazer a Go Athlete para Ponta Delgada?
Gostava muito que acontecesse. Se o Governo Regional possuísse um projecto de desporto a sério e se me convidassem para encabeçar ou fazer parte deste projecto que levasse o desporto regional para outro nível, adorava fazer parte dele. Acho que o desporto é algo que está subdesenvolvido. E existe muito talento na Região que está muito pouco aproveitado.
Chegamos a fazer uma proposta ao Santa Clara que, infelizmente, não avançou. Teria imenso gosto e não era preciso ser com a Go Athlete. Mas se fosse criado um projecto de desenvolvimento de desporto de alto rendimento na Região seria algo que teria todo o gosto em fazer parte.
Frederico Figueiredo

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