O Fórum de Davos 2024 que decorreu na Suíça sob o lema “Reconstruindo a confiança” para enfrentar os desafios globais mais urgentes e com a confiança na sua capacidade de impulsionar soluções voltadas para o futuro, contou com a presença de líderes políticos e económicos de todo o mundo.
Parece, para a maior parte de nós, que este é um acontecimento longínquo, que pouco nos diz respeito, que estamos aqui neste cantinho sossegado do arquipélago dos Açores, mas não podemos descurar o quão importante é para toda a humanidade os resultados do que vier a ser decidido naquele encontro.
Na altura, António Guterres teve uma oportunidade de, mais uma vez, e de forma desinibida, considerar que a invasão russa da Ucrânia ou os conflitos em Gaza e no Sudão, têm perigosamente ignorado o Direito internacional, o que mostra que o mundo está a sofrer uma “epidemia de impunidade”.
Tem razão o nosso homem forte das Nações Unidas, na medida em que o mundo assiste impassível à morte de civis, na sua maioria mulheres e crianças, que são mutilados, bombardeados, expulsos das suas casas e a quem é negado o acesso à ajuda humanitária, sem que haja o mínimo de respeito pelas convenções internacionais que até agora eram respeitadas escrupulosamente pela grande esmagadora maioria dos países.
Para tentar ultrapassar esta impunidade António Guterres tem um sonho e por isso está emprenhado na organização de uma “Cimeira do Futuro”, que terá lugar no próximo mês de setembro e será organizada pela própria Nações Unidas, na esperança de que se chegue a acordo para um Pacto para o Futuro e será um meio para reduzir riscos e criar um mundo mais seguro e pacífico. Sonhos que valem a pena prosseguir, mas que ninguém acredita, atendendo ao rumo a que este mundo está a tomar.
A ONU está a estruturar esta cimeira no sentido de se poder debater reformas essenciais à arquitetura financeira global para que responda aos desafios de hoje e represente o mundo atual, incluindo muitos países do Sul Global que ainda eram colónias quando esse sistema foi criado e que a realidade do pós II Grande Guerra Mundial é totalmente diferente e precisa que as respostas concertadas sejam adequadas ao tempo que corre, pelo que “as reformas no Conselho de Segurança, outro pilar fundamental do atual sistema multilateral, sirvam de facto para prevenir e resolver conflitos, reequilibrar as relações geopolíticas e dar aos países em desenvolvimento uma voz proporcional na cena mundial”.
Este Fórum de Davos 2024 que decorreu a semana passada na Suíça abordou temas tão importantes para a humanidade, como a segurança e cooperação, a criação de empregos e crescimento numa nova era, a Inteligência Artificial como motor da economia e da sociedade e, não menos importante, a estratégia para o clima, a natureza e a energia.
Vamos aguardar com ansiedade para ver que resultados palpáveis brotarão daquele encontro, porquanto, a situação no Oriente Médio precisa, quanto antes, de encontrar formas que possam ajudar todos os implicados neste conflito desumano a chegar a um acordo positivo para todas as partes e acabemos, enfim, de assistir em direto pelas televisões a uma mortandade sem paralelo na história do mundo, com tanto sofrimento que ninguém fica alheio.
Uma outra grande preocupação é o desenvolvimento da Inteligência Artificial que é atualmente uma das questões mais importantes que se depara ao homem, em relação ao futuro da nossa sociedade, e é preciso avaliar que usos serão benéficos para a sociedade, já que se vislumbram nuvens negras relativamente a esta área, em que o ser humano será dominado pelas tecnologias e não se sabe se será capaz de controlar os avanços assustadores desta nova ferramenta.
António Guterres, que se tem batido por esta temática e tem demonstrado a sua apreensão, salientou mesmo que o desenvolvimento ilimitado da inteligência artificial constitui uma das “ameaças existenciais” do mundo atual, a par do aquecimento global, mas também tem o potencial para ajudar no desenvolvimento sustentável, ou no desenvolvimento de sistemas de governação adaptados ao mundo de hoje e que possam tecer redes multilaterais.
Vamos ver como será o mundo no futuro, agora com uma nova e terrível ameaça com o Vírus X.
António Pedro Costa