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“A Educação é o instrumento mais válido para impulsionar o desenvolvimento social e económico da Região”, afirma a professora Maria Isabel Condessa

Correio dos Açores: Que relevância atribui ao Dia Internacional da Educação?
Maria Isabel Condessa (Directora do Mestrado em Educação e Formação): Este dia internacional, que se celebra este ano pela sexta vez, é fruto da resolução n.º 73/25 de 03 de Dezembro de 2018, da Assembleia Geral da Organização das Nações Unidas e, na minha opinião, é um momento de excelência para dar dignidade à Educação, relevando a sua importância na formação do indivíduo em sociedade. Particularmente, acho que é o momento ideal para fazer um “balanço” entre o que tem sido feito até agora e o que se perspectiva ser uma Educação de excelência, que não se prende exclusivamente com resultados escolares, mas com o bem-estar, a cultura e o conhecimento de um povo.

Qual é o retrato actual do ensino em Portugal? Quais são os seus pontos fortes e pontos fracos?
Temo não conseguir responder adequadamente a esta questão. Tomando por referência dados da educação mundial, na sociedade actual – tecnologicamente avançada, estima-se existirem ainda elevados níveis de analfabetismo na população, com muitas crianças que ainda não vão à escola, situação agravada pelas crises mundiais que se vivem.
Contudo, em Portugal, desde a revolução de 25 de Abril, a situação melhorou substancialmente e vai fazer este ano cinquenta anos que as condições de acesso à Educação em Portugal passaram a ser bem melhores. Por exemplo, de acordo os dados do Instituto Nacional de Estatística a taxa de abandono escolar em Portugal que em 1992 era de 50%, em 2020 passou a ser de 6,5%, registando-se em 2023/34 o mais elevado número de candidaturas ao ensino superior e universitário.
Ora, considerando as dificuldades acrescidas pela situação pandémica que vivemos recentemente, observo que estes são bons indícios para a evolução da educação em Portugal.
Falar do ensino é particularizar e, aqui terei mais dificuldade em elencar aspectos positivos e negativos, contudo realço como elementos de valorização o alargamento da educação pré-escolar na rede pública e a maior oferta de ensino profissional. Destaco a situação da falta de profissionais habilitados para a docência em alguns grupos disciplinares, como aspecto mais negativo.

Como explica o facto de as escolas da Região ficarem sempre nos últimos lugares do ranking nacional?
É unânime que este ranking apresenta grandes limitações e que os critérios de apreciação nem sempre respeitam os princípios de clareza e de equidade. Quer seja no Açores, ou noutra parte do país, não podemos comparar desempenhos escolares sem olhar para os contextos, quando não, subverte-se a verdadeira realidade do ensino. Os níveis sócio-económicos e culturais dos jovens e das escolas são distintos, e essas diferenças não são consideradas na apreciação dos resultados que servem de base aos rankings. Claramente, estes rankings não determinam o trabalho diário feito nas escolas, estruturado em prol de maiores conhecimentos nas várias áreas, mas apenas desempenhos finais, fruto de provas utilizadas, o que nos deixa numa posição menos confortável. Creio que as escolas dos Açores avançam no bom caminho se não se compararem por estas métricas e se mantiverem o esforço e determinação para a construção de uma Educação de qualidade e orientada para as crianças e jovens da nossa Região.

Na sua opinião, qual é o papel da Universidade dos Açores na promoção da Educação na Região?
Muito importante, já que é missão da universidade contribuir para a transmissão e valorização do conhecimento e da cultura.
A formação na academia é inspirada em valores humanistas, relevando a aquisição activa do saber, através da reflexão e do pensamento divergente e a criatividade. Actualmente, a Universidade dos Açores integra a formação e aprendizagem ao longo da vida – desde a Academia Júnior à Academia Sénior; tem repensado o papel das artes e do desporto na sociedade, perspectivando uma educação orientada para o bem-estar.
Há a realçar que a academia tem contribuído para a educação da sociedade, mantendo uma oferta de cursos de várias áreas e, especificamente, na Educação tem oferecido formação inicial e continuada a muitos profissionais das escolas açorianas.

Qual é o papel das escolas de formação profissional na Região?
A meu ver, a escola profissional tem um papel muito relevante na educação dos jovens e do adulto da Região, contribuindo para a sua qualificação e formação profissional, em função das necessidades empresariais – mercado de trabalho a nível regional, nacional e internacional. Mantêm os jovens mais tempo num contexto educacional, de escola pública ou profissional, e garantem uma aprendizagem ao longo da vida, sobretudo para resolução de situações de desemprego continuado e de necessidade de requalificação. Este tipo formação tem canalizado muitos jovens, que em algum momento da vida estão desconfortáveis com o ensino regular, para áreas de especialização e, muitos, numa fase posterior de vida ingressam no ensino superior.

Quais são os principais desafios educacionais enfrentados pelos Açores? Como os professores podem contribuir para um maior sucesso escolar na Região?
A análise do ensino tem evoluído ao longo dos tempos e acompanha sempre a evolução da sociedade e das novas tecnologias. Para a aquisição do conhecimento existem actualmente vários recursos essenciais para o acesso à informação, organizada e adequada à aquisição de competências. Para isso, o professor é fundamental. São eles os agentes privilegiados de qualquer mudança e a sua formação é um instrumento elementar, pois, para além da forma como apresentam a informação a transmitir, têm um papel único na formação da pessoa, desde as crianças mais pequenas até aos jovens e adultos. Não queremos que apenas transmitam a informação, queremos que sejam empáticos com as crianças/ jovens e a suas necessidades, que contribuam para a formação das suas atitudes e a criação dos seus hábitos de vida.
Actualmente, os professores são muito pressionados para o desempenho de resultados escolares pelas próprias famílias.

Na sua opinião, que níveis deve atingir a Educação para impulsionar o desenvolvimento social e económico da Região?
A Educação é o instrumento mais válido para impulsionar o desenvolvimento social e económico da Região. Há que manter o esforço que tem sido feito nas últimas décadas para conseguir que os jovens açorianos criem competências essenciais para que adquiram uma qualificação desejável para a sociedade em mudança.

Considerando a sua área de especialização em Educação/Análise da Educação e Formação, que temas específicos relacionados com os Açores têm sido objecto de investigação e/ou análise?
Actualmente, o Departamento de Educação da Faculdade de Ciências Sociais e Humanas da Universidade dos Açores, onde me integro, recai na área predominante de Educação e Formação, oferecendo várias formações desde a preparação para a Educação Pré-Escolar até à qualificação para o ensino em áreas disciplinares. Ao longo da minha carreira, relevo a investigação realizada no âmbito da oferta da licenciatura em Educação Básica, dos mestrados em Educação Pré-Escolar e Ensino de Primeiro Ciclo, em Supervisão Pedagógica, Projectos Educativos, Educação e Formação – especialidades de Inovação e Promoção do Sucesso Educativo, Educação de Adultos e Formação e Intervenção Educativa com Crianças e Jovens. Actualmente, precisamos de crescer e, pensando no futuro, era importante oferecermos um Doutoramento em Educação para produzirmos mais investigação com impacto na Educação e no Ensino, investindo-se mais em áreas como a Aprendizagem e Bem-estar, Inovação Educacional e a Tecnologia Educativa.

Já existem relatos de alunos que recorreram à inteligência artificial no contexto de avaliações? Que retrato faz desta problemática?
Se se refere à tentativa de fazer passar trabalhos académicos pelo Chat GPT, esta é uma questão que no último ano se debateu muito no ensino-aprendizagem. Claro que quando as escolas, e aqui falo também no Ensino Superior, têm evoluído para integrar a Tecnologia Educativa e Computacional, é normal que estejamos todos atentos para esta questão que a “Inteligência Artificial” coloca ao nosso ensino. Pessoalmente, creio que os professores têm sensibilidade suficiente para perceber quando está a ser usado. A tendência de muitas das unidades curriculares da área da educação e formação de professores é ter metodologias activas e avaliações continuadas. Deste modo, será difícil recorrer a trabalhos efectuados exclusivamente com o chat GPT. Iriamos notar, pois acompanhamos muito a concepção dos trabalhos. Não sou contra o recurso à inteligência artificial no ensino-aprendizagem, desde que haja tempo para perceber como a utilizar adequadamente.

Que mensagem quer deixar no Dia Internacional da Educação?
Para a Educação a escola é a referência, mas não o único espaço de acção. Olhem primordialmente para as crianças e jovens, valorizando o seu desenvolvimento integral e o seu bem-estar!


Daniela Canha

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