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Cabos Submarinos:O tabu eleitoral

As eleições do próximo dia 4 de Fevereiro, para a Assembleia Legislativa Regional, têm proporcionado muitas discussões entre os candidatos a deputados regionais a eleger pelos círculos eleitorais de cada uma das ilhas dos Açores. Infelizmente, demasiadas vezes são debatidos assuntos locais, próprios de eleições autárquicas, ficando esquecidos importantes assuntos políticos regionais. Os candidatos ignoram que são candidatos a Deputados Regionais eleitos pela ilha e não Deputados Regionais da ilha.
Por aquilo a que temos assistido, apenas os candidatos pelo círculo da ilha de São Miguel é que têm uma visão regional. Os candidatos pelos círculos das ilhas Terceira e Faial, pela importância que estas ilhas têm, deveriam ter uma visão mais alargada da política. Todavia, não é assim que acontece. Têm “vistas” muito curtas, que não alcançam mais do que aquilo que vêem. Preferem os temas locais aos temas regionais.
No conjunto de matérias que não têm sido discutidos, saliento o PRR e a problemática dos cabos submarinos. Este último não é debatido, nem faz parte do programa eleitoral dos partidos políticos ou coligações concorrentes ao acto eleitoral. Da esquerda à direita: ninguém se atreve a falar do tema dos cabos submarinos que servem os Açores.
Esta omissão não é certamente um esquecimento. Não o poderá ser. Como é sobejamente conhecido e demonstrado, é por uma decisão política, do ainda actual Governo Regional dos Açores, que poderá ocorrer a transferência da principal amarração do anel CAM (continente – Açores – Madeira) da ilha de São Miguel para a ilha Terceira. Sublinho, decisão política e não técnica ou económica. É incompreensível que uma economia que vale 60% do todo regional – ilha São Miguel – fique tecnologicamente dependente de uma economia que vale 20% – a ilha Terceira. Será a primeira vez em 130 anos!
Não é a primeira vez que nos Açores há transferências entre ilhas apenas por justificações políticas de cálculo eleitoral. Realizada, também, por um Governo do PSD, recordo a transferência nos anos 90 da “placa giratória” do tráfego aéreo da ilha de Santa Maria para a ilha Terceira.
Desta vez, quanto aos cabos submarinos, creio que serão os técnicos a desfazer a incompreensível e errada decisão política do ainda Governo Regional da coligação. Perante a actual crise sismo -vulcânica que afecta a ilha Terceira, não concebo que haja um fabricante de cabos submarinos que preconize a principal amarração do CAM naquela ilha, sem que contratualmente faça uma escusa de responsabilidade. Isto fará toda a diferença. Uma diferença de milhões de euros! Uma enorme diferença na redução da fiabilidade garantida do sistema!
Todas as forças políticas estão a tentar passar “entre os pingos da chuva”. Jogam no tabu político. Não manifestam a sua actual posição, certamente para não perder votos na ilha Terceira e também para não hostilizar o eleitorado de São Miguel. Estamos perante o maior cinismo eleitoral.
As forças políticas regionais também não se manifestam quanto à urgência da substituição do anel inter-ilhas. Este sistema terminou a sua vida útil de 25 anos em Julho de 2023, sem que exista perspectiva de remodelação, com o Governo da República a transferir para a Região a responsabilidade do respectivo custo de 30 milhões de euros. Aqui a omissão dos partidos políticos é mais do que isso: é uma enorme irresponsabilidade.
Como podem os partidos ignorarem uma infra-estrutura regional única e crítica que apresenta enormes desafios e riscos como os actuais cabos submarinos? Qual a parte que não percebem? É, pois, de uma enorme leviandade política que pode sair muito caro a todos os Açorianos.
Estamos a correr riscos que podem colocar todos os Açores novamente no século XIX. Colapsando uma parte dos actuais sistemas de cabos submarinos que servem as ilhas, toda a vida, tal como a conhecemos hoje, irá pura e simplesmente transformar-se numa miragem. Iremos reactivar os “picos dos fachos”?
Os Açores não podem ser governados numa lógica de geometria política que ignora e esconde os principais problemas e riscos que afectam a Região no seu todo, em favor de cálculos eleitorais de circunstância. É um caminho errado que faz um favor à demagogia populista, colocando à margem a verdadeira e nobre acção política.
Ponta Delgada, 24 de Janeiro 2024

João Quental Mota Vieira

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