Iniciativa começa no Faial, mas quer expandir-se a outras ilhas
Era uma vez um projecto chamado “Dias Contados”, que pretendia ir às bibliotecas e escolas dinamizar situações de mediação de leitura, na ilha do Faial, para promover o gosto pelo livro e a proximidade com a leitura entre as crianças.
Trata-se de um projecto de mãe e filha, Susana Oliveira, professora, e Sara Bettencourt, licenciada em Guias da Natureza. Apesar de laborarem em áreas muito distintas, têm algumas paixões em comum: ler e contar histórias. São de Leiria, mas foi o Faial que escolheram para viver, trabalhar e colocar em prática esta nova ideia.
Foi necessariamente como quem conta uma história que Susana Oliveira começou a explicar o intuito do “Dias Contados” ao Correio dos Açores: “Pretende, essencialmente criar situações de mediação de leitura, entre os ouvintes, nós e o livro, de modo a promover o gosto pelo livro e a proximidade com a leitura. O grande objectivo deste projecto é a promoção do gosto pelo livro e pela leitura.”
O projecto vai desenvolver-se em várias linhas, prossegue a professora de educação básica: “Pretendemos que este projecto se concretize e se operacionalize em várias linhas. Uma delas, que já está a acontecer, é, através de sessões de animação de leitura, mensais, na biblioteca infantil da Horta (que é já uma parceira). Estas sessões de leitura serão seguidas de actividades lúdico-pedagógicas, de expressão plástica e outras, de acordo com as histórias que escolherem.”
O intuito será também abordar temas diferenciados: “Pretendemos que sejam livros diversificados, de diferentes temas. Apesar destas sessões se dirigirem basicamente para crianças, para um público infantil dos três aos 11 anos, pode variar de acordo com a história que escolhermos. Basicamente é esta a ideia.”
O “Dias Contados” terá também uma vertente virtual, através da sua página da rede social Instagram, continua a contar Susana Oliveira: “Outra dimensão deste projecto é a página de Instagram, onde se pretende divulgar, por um lado, o trabalho desenvolvido, e o trabalho a desenvolver, bem como sugerir livros e leituras através de várias rúbricas, sendo que uma delas chama-se Minutos Contados. É um dos trabalhos que já estamos a desenvolver.”
Outro sub-projecto emergente ou vertente, “é internacional e vai desenvolver-se com uma educadora portuguesa que está a trabalhar em Timor, inserindo-se no âmbito da promoção da língua portuguesa junto de um grupo de crianças timorenses. Basicamente vai contar também com animação de leitura, divulgação de livros, vídeo-chamadas. Vamos fazer este trabalho com esses suportes,” conta Susana Oliveira, sobre uma experiência com alunos timorenses do qual o “Dias Contados” vai fazer parte.
A iniciativa está agora a começar, no Faial, em biblioteca, mas Susana e Sara querem levar o projecto mais longe, revelam: “Esta ideia de contar histórias, de termos sessões presenciais, estão a acontecer na biblioteca infantil, mas pretendemos alargar esta actividade a outros locais, nomeadamente as escolas, até entrarem na casa das pessoas. Temos muitas ideias. Elas estão a nascer e a concretizar-se, mas o rumo é por aí.”
Questionadas se pretende levar o “Dias Contados” a outras ilhas, Sara Bettencourt entende que “Idealmente sim, gostaríamos de expandi-lo. Estamos ainda a testar as águas e a ver como é que corre primeiro aqui, mas sem dúvida que gostaríamos de fazer noutros sítios e noutras ilhas.
“Queremos mostrar a beleza dos livros, do escrito, do cheiro do papel,
da tinta, da comunicação”
O projecto, ainda na sua infância e prestes a realizar a sua primeira actividade oficial a três de Fevereiro, “Trata-se de um projecto de duas pessoas, para já. É tudo ainda muito emergente e novo. Há muitas ideias a borbulhar. Somos mãe e filha, que gostam muito de ler e contar histórias e que acreditam eu este gosto pode ser “contagioso” e partilhado,” segundo a professora.
Todas estas linhas vão convergir para alcançar um objectivo essencial: “Queremos mostrar a beleza dos livros, do escrito, do cheiro do papel, da tinta, da comunicação. Para desenvolver esta compreensão leitora e o gosto pelo livro, as histórias, o ouvir e a narração, é muito importante esta mediação, o estar próximo, o fazer sentir. Acho que estes momentos são meios privilegiados para estimular este diálogo com a criança e trazê-la para o mundo das histórias, do imaginário.” Por sua vez, Sara Bettencourt explica que “um livro pode ter várias leituras e também é isso: puxar pela imaginação, pelo pensamento crítico das crianças para que possam ser elas mesmas a interpretar a mensagem e o conteúdo daquele livro em específico, ou qualquer outro.”
Primeira sessão a 3 Fevereiro,
na Biblioteca da Horta
As expectativas são muito grandes para a primeira sessão oficial, e estreia do “Dias Contados,” que vai acontecer no próximo Sábado, 3 de Fevereiro, pelas 16h00, na Biblioteca Pública e Arquivo Regional João José da Graça, na Horta, e realizar-se-á mensalmente. Após a leitura do conto, haverá uma actividade de desenho, com o intuito de criar uma nova manta, com os tecidos levados pelas crianças.
O livro em foco será “A Manta,” uma história com várias histórias em si. “Vamos trabalhar neste livro, de Isabel Minhós Martins e ilustrado por Yara Kono. É um livro com histórias dentro, porque se trata de uma manta de retalhos, sendo que cada retalho tem a sua própria história. Vamos dinamizar isso. É destinado às crianças dos cinco aos 11 anos e vamos precisamente convidar a que essas crianças tragam um objecto com um tecido, ou um tecido que lhes seja especial, que tenha a sua própria história. A ideia é depois fazermos uma actividade em que vamos construir a nossa própria manta. É isto que pretendemos fazer,” conta Sara.
Sara Bettencourt licenciou-se em Guias da Natureza, na ilha Terceira, e encontra-se a trabalhar no Centro de Interpretação do Vulcão dos Capelinhos. Vive no Faial desde 2015.
Susana Oliveira, professora do ensino básico, tem também formação em Psicologia Pedagógica e ainda no âmbito da promoção do livro e da leitura. Está no Faial há precisamente um ano. “Vinha cá com muita regularidade, para estar com a Sara, mas agora estou aqui a viver também, e a trabalhar como professora e a iniciar este projecto com a minha filha,” lembra.
O conceito e ideia do “Dias Contados”, recorda Sara, “surgiu num momento em que fizemos uma leitura em conjunto, no Natal de 2022. Fomos convidadas pelo Centro de Artes do Arrabal, que é uma antiga escola onde a minha mãe andou e aprendeu a ler e a escrever, mesmo ao pé da casa dos meus avós. Fomos convidadas a fazer uma sessão em conjunto, porque a minha mãe é professora e trabalhou muitos anos como professora bibliotecária em Leiria. Ela também se voluntariou a ajudar a construir a biblioteca nesse centro. Surgiu este convite por aí, porque sabiam do trabalho da minha mãe, que sugeriu que eu fosse com ela. O bichinho ficou desde então. Agora que a minha mãe se mudou para cá, decidimos que deveríamos continuar a fazer estes momentos.”
Mariana Rovoredo