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“O queijo de São Jorge é uma alavanca do queijo dosAçores” afirma António Aguiar, Presidente da União de Cooperativas Agrícolas de Lacticínios de São Jorge

Criada em 1986, na freguesia das Velas, a Uniqueijo integra hoje todas as cooperativas existentes actualmente na ilha de São Jorge. António Aguiar, Presidente da Uniqueijo, afirma que se está a pagar em São Jorge aproximadamente mais 14 cêntimos pelo litro de leite à produção do que nas restantes ilhas dos Açores. Refere, ainda, que recorrer a mão-de-obra estrangeira é uma das hipóteses para colmatar a falta que existe na ilha.

Correio dos Açores – Por que motivo decidiram criar a União de Cooperativas Agrícolas de Lacticínios de São Jorge – Uniqueijo em 1986? Qual foi o principal objectivo na altura?
António Aguiar (Presidente da União de Cooperativas Agrícolas de Lacticínios de São Jorge – Uniqueijo) – Em São Jorge havia uma série de cooperativas que se juntaram, à excepção dos Lourais e da Finisterra, para criar a Uniqueijo – União de Cooperativas Agrícolas de Lacticínios de São Jorge. A Finisterra aderiu à união de cooperativas no ano de 2000 e os Lourais em 2007.
Quando a Uniqueijo foi criada, existiam nove cooperativas na ilha de São Jorge. Neste momento, existem quatro, nomeadamente a Finisterra, os Lourais, o Norte Pequeno e a Beira e estão todas integradas na Uniqueijo.
Creio que, na época, o principal objectivo foi criar escala e fazer com que houvesse uma porta única de saída do queijo de São Jorge, pois cada cooperativa trabalhava por si e não se conseguia valorizar o produto como devia ser.
Além disso, outro motivo esteve relacionado com os investimentos que eram necessários fazer para melhorar as cooperativas. Cada um por si só seria muito difícil. Com a união das cooperativas foi mais fácil.

Que dificuldades enfrentaram durante o processo de integração das cooperativas?
Praticamente cada freguesia tinha a sua cooperativa. Nesta altura, grande parte das cooperativas começaram a fornecer unicamente à Uniqueijo. As pessoas tiveram, de facto, alguma dificuldade em fechar as cooperativas para criar essa união. Esvaziar as freguesias é sempre difícil. As pessoas tinham as cooperativas muito próximo das explorações e isso deixou de acontecer.

Como a união com outras cooperativas de leite influenciou a produção e a comercialização de queijos pela Uniqueijo?
A Uniqueijo foi muito importante para haver uma única porta de saída de queijo de São Jorge. No passado, um cliente que queria comprar o queijo ia percorrendo as cooperativas à procura do preço mais baixo e dizia que se não baixassem o preço, iria comprar na outra cooperativa, que oferecia um valor mais em conta. As cooperativas acabavam por baixar o preço e o queijo era desvalorizado. Quando a Uniqueijo foi criada, essa situação deixou de acontecer.

Tendo em conta a diversidade das cooperativas envolvidas, como gerem a produção de forma a garantir a autenticidade e a qualidade dos queijos?
Neste aspecto a Uniqueijo veio melhorar porque o queijo ficou mais uniforme. No passado, existiam cooperativas em vários pontos da ilha e havia alguma falta de uniformização no queijo de São Jorge. Neste momento, como o produto está concentrado em apenas três cooperativas, a Finisterra, os Lourais e a Beira, porque o Norte Pequeno entrega o leite também na Beira, há uma maior uniformização do produto.
Para se produzir o queijo de São Jorge existem regras muito apertadas. Costumo dizer que produzir leite em São Jorge é muito mais difícil do que nas outras ilhas, porque nós trabalhamos com leite cru e a exigência à porta das fábricas é elevada. Temos algumas regras internas, tais como não ser permitido dar silo de erva às vacas leiteiras, para que o gosto que existe nas silagens não passe para o animal e consequentemente para o leite e, por sua vez, para o queijo. Há uma série de regras muito apertadas e de difícil maneio, em comparação com as outras ilhas.

A que se deve a diferença que existe no preço do leite entre São Jorge e as outras ilhas dos Açores?
Neste momento, estamos a pagar o leite a praticamente 52 cêntimos o litro [51,37 cêntimos], um valor médio desde 2023. Estamos a pagar mais 14 ou 15 cêntimos do que as outras ilhas, o que corresponde a um valor bastante elevado.
No último semestre de 2022, o mercado estava muito favorável ao sector dos lacticínios e, por isso, subimos todos o preço do leite aos produtores. Depois, chegamos aos meses de Março, Abril, Maio do ano passado, o mercado alterou-se e passou a haver excesso de produtos lácteos na Europa, o que fez com que os preços fossem baixando até Novembro de 2023. No entanto, no caso de São Jorge isso não aconteceu. Conseguimos manter o preço de venda do nosso produto, com o escoamento que queríamos. São Jorge foi a única indústria que não teve que baixar preços, enquanto que as outras tiveram que o fazer.

Na sua opinião, a integração da Uniqueijo na LactAçores foi benéfica?
A meu ver foi benéfica. A LactAçores foi criada em 2004 e é uma união de três cooperativas – a Uniqueijo de São Jorge, a CALF do Faial e a Unileite de São Miguel –, e é a empresa que faz a parte comercial. Nós produzimos e essa entidade faz a parte comercial das três associadas.
A integração na LactAçores fez com que criássemos escala, bem como um leque de várias referências de produto que faz com que consigamos chegar a determinados sítios com o queijo de São Jorge que, sozinhos, não seria possível alcançar.
A LactAçores tem vindo sempre a crescer e actualmente já tem mais de 100 milhões de euros de facturação.

Qual tem sido a evolução da Uniqueijo ao longo dos anos? O que destacaria como momentos altos e baixos?
No que diz respeito aos momentos altos, desde logo, a construção das novas unidades em São Jorge que garantem um produto de qualidade e de segurança, com condições que no passado não existiam.
Nos últimos anos, a inovação – não do produto porque o queijo de São Jorge continua a ser o mesmo –, da forma como os produtos são apresentados é igualmente um ponto muito importante.
A notoriedade do produto. Hoje em dia fala-se imenso do queijo de São Jorge. É um produto que sai em ene revistas e é sempre notícia. Temos cada vez mais chefes de cozinha a quererem trabalhar com o nosso produto e isso faz com que o queijo de São Jorge seja realçado.
Como ponto baixo, reconheço que houve, num passado não muito longínquo, uma situação financeira bastante difícil da Uniqueijo. No entanto, conseguimos dar a volta e estamos numa situação completamente diferente do que estávamos entre 2010 e 2014, uma época muito complicada.

Actualmente, com que desafios a Uniqueijo tem que lidar?
Estamos a ver se conseguimos passar para os nossos lavradores a importância de uma série de certificações, desde logo o bem-estar animal, uma situação que as grandes superfícies estão a pedir; a certificação ambiental, a certificação social, entre outras, são metas que já estamos a começar a trabalhar e que terão de ser conseguidas nos próximos tempos.

Ultimamente, têm sentido dificuldades na venda do queijo de São Jorge com a entrada de queijo proveniente do mercado externo?
Neste momento, não estamos com problemas. As vendas do queijo de São Jorge têm corrido muito bem, assim como a valorização do produto. No passado, tivemos alguns problemas de escoamento do produto que actualmente já não existem.
A concorrência global não está a mexer connosco, até porque temos um queijo diferenciado. É mais caro, mas é único e não há muita concorrência. Diria que a maior concorrência do queijo de São Jorge é o poder de compra das pessoas, apesar de haver sempre quem adquira o nosso queijo.

Os prémios do queijo de São Jorge DOP têm sido uma âncora para os outros queijos?
Costumo dizer que o queijo de São Jorge leva de arrasto os outros queijos açorianos. Dou, muitas vezes, como exemplo o leite das vacas felizes da Bel, um investimento de grande escala feito por esta empresa que também arrastou, posteriormente, os leites das outras indústrias dos Açores.
Entendo que o facto de o queijo de São Jorge ser premiado e falado em toda a parte, ajuda os queijos das outras indústrias. Recebo telefonemas das outras indústrias a dizer que estão contentes por o nosso queijo subir, porque o deles sobe também. O queijo de São Jorge é uma alavanca do queijo dos Açores.

A Uniqueijo tem implemen-tado práticas sustentáveis na produção de queijos? Quais são algumas dessas práticas e qual é o impacto?
Este é um assunto que está na ordem do dia e é um desafio para nós. No nosso caso, não há muito a fazer porque o queijo de São Jorge sai inteiro e não tem impacte ambiental praticamente nenhum.
Quando sai em fatias, existe o plástico que as envolve, mas já diminuímos a micragem dos plásticos. Neste momento, não existe nada inventado no mercado que possa substituir a embalagem que utilizamos.
Em São Jorge temos uma situação diferente a nível de sustentabilidade ambiental. Enquanto nas outras indústrias de lacticínios existe um problema muito complicado que consiste em eliminar o que sobra do queijo – ao que denominamos soro –, em São Jorge isso não se coloca, porque o soro é todo consumido. Os lavradores vêm trazer o leite e levam o soro todo para dar aos porcos e aos bezerros, por isso não tem nenhum impacte ambiental.

Quais são as perspectivas para o futuro?
Para o futuro vejo um grande desafio: continuar a produzir leite em São Jorge. Somos uma ilha pequena, com uma população muito envelhecida e muita falta de mão-de-obra. Há que de ter isso em conta para continuarmos a ter o queijo de São Jorge.

O que se pode fazer para reverter a falta de mão-de-obra?
Melhorar o preço do leite ajuda, porque os lavradores podem pagar melhor à possível mão- de-obra. Penso que será necessário recorrer a mão-de-obra estrangeira, à semelhança do que já se faz com outros sectores. Por exemplo, a indústria de conservas Santa Catarina teve que ir buscar mão-de-obra a Cabo Verde e temos uma série de empresas de construção civil que têm mão-de-obra vinda do Chile e do Brasil. Esta é a forma que vejo de se conseguir a mão-de-obra necessária.

                Carlota Pimentel 
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