Quando começaram as revoltas nas colónias portuguesas de África, na década de 60 do século passado, o então Presidente do Conselho de Ministros de Portugal, Doutor António de Oliveira Salazar, em comunicação televisiva ao povo português sobre aqueles acontecimentos, disse esta frase que ficou célebre em Portugal:- para África já e em força!
Esta semana, ao ver o telejornal da RTP-1, fiquei espantado com a demonstração de força levada a cabo pelo Ministério Público de Lisboa ao enviar para a colónia (?) Madeira, nada mais nada menos do que 300 (trezentos) agentes da Polícia Judiciária (quase tantos como um batalhão de caçadores no meu tempo) utilizando até aviões da Força Aérea Portuguesa, numa espécie de operação surpresa, não fosse o diabo tecê-las e os “visados” fugirem “a sete pés” das terras madeirenses.
Francamente, era necessário tal espectáculo? Que dirá o mundo desta atitude para com uma região que vive essencialmente do turismo? Que consequências terá a atitude de força desmedida tomada pelo Ministério Público de Lisboa?
Todos sabemos que, infelizmente, vivemos num país onde a corrupção e o tráfico de influências grassa a olhos vistos, parecendo ser transversal a tudo o que é administração pública, ora por isto ora por aquilo, desde a Presidência da República às Juntas de Freguesia, passando pelos governos da República e Regionais e ainda pelas Câmaras Municipais. Fica-se até com a sensação de que os políticos sérios em exercício são excepções à regra.
Desde que a denúncia anónima foi institucionalizada muitos têm sido os visados. Porém, após inquérito, ou mesmo após julgamento judicial se verifique que estão inocentes das acusações formuladas, da fama de desonestidade não se livram e será sempre uma mancha no seu percurso de vida.
Pergunta-se:- que acontece ao delator anónimo? Porque não é também exposto ao público em geral, para que se saiba quem é, uma vez que acusou um inocente?
Ainda no passado sábado, este Jornal publicou um esclarecimento do ex-Presidente do Governo Regional, Carlos Manuel Martins do Vale César, hoje Presidente do Partido Socialista, sobre uma acusação feita acerca dos seus rendimentos.
Após inquérito feito na altura (há três anos) ficou provado pela justiça portuguesa que, as acusações eram falsas e que, Carlos César, não era nem mais pobre nem mais rico do que era quando governou. De resto o Tribunal Constitucional recebe as declarações anuais daquele político.
Se bem me lembro, também eu escrevi na altura não acreditar naquela calúnia. Isto porque, pelos contactos que com ele tive, e mantenho quando ocasionalmente nos encontramos, algumas vezes no supermercado, considero-o um homem íntegro e honesto.
Acerca de favorecimentos, o nosso povo costuma dizer que quem não tem padrinhos não se batiza. Penso ser natural que, alguém que precise desesperadamente de determinada coisa, recorra a alguém bem posicionado para interceder nessa matéria.
Nestes casos, penso que a pessoa influente, só terá de verificar se o pedido que lhe foi feito se enquadra dentro da legalidade e sem custos adicionais para o erário público. Em caso de haver mais de um pretendente ao mesmo, só terá de ver se a igualdade de circunstâncias se verifica. Neste caso poderá haver o chamado voto de qualidade satisfazendo assim o pedido formulado.
Mas isto, a meu ver, não é corrupção por não haver qualquer pagamento, mesmo que seja em espécie.
Claro que, quem perde não fica contente sendo, talvez por isso mesmo, que promove denúncia anónima.
No caso vertente da Madeira parece-me que o Dr. Miguel Albuquerque está sendo vítima da sua própria estratégia política. Isto porque os adversários não ficaram contentes com os resultados das últimas eleições naquela Região Autónoma. Dos outros suspeitos não me pronuncio porque não os conheço.
São por estas e por outras que está havendo cada vez menos pessoas a querer envolver-se na política, porque sabem que ela é demasiadamente porca.
Para terminar, gostaria de chamar à atenção dos candidatos que se encontram em campanha para a as eleições de 4 de fevereiro próximo, que não enveredem por acusações pessoais porque podem incorrer em erro e acusar sem fundamento plausível.
Em política não pode valer tudo.
Há regras!
Carlos Rezendes Cabral
P.S. Texto escrito pela antiga grafia.
28JAN2024