No dia 17 de Outubro de 2023, comemorou-se o Dia Internacional da Erradicação da Pobreza.
Em Portugal existem 2,4 milhões de pobres, dos quais 1,1 trabalham.
Segundo estatísticas recentes os restantes são idosos, crianças e os do rendimento mínimo.
Os populistas da extrema – direita defendem que muitos que auferem este rendimento recusam trabalhar preferindo a malandragem.
Esquecem-se de mencionar os do rendimento máximo, que também os há e não são tão poucos assim.
Que o diga o pessoal da Judiciária e do Ministério Público, cujos processos sobre corrupção se avolumam aos milhares.
É desse tipo de rendimentos que se está a falar, e de outros que têm escapado às malhas da justiça.
Porque a sofisticada blindagem de que se revestem é de tal ordem, que continuam impávidos, serenos e ainda se riem.
Não só do cidadão comum cumpridor, como daqueles, cujos rendimentos são “transparentes”.
Auferidos com muito suor e riscos, investindo e criando emprego, contribuindo para o desenvolvimento das comunidades onde se inserem de “cara levantada”.
As raízes da pobreza germinam no terreno fértil das desigualdades.
No próximo dia 4 de Fevereiro os Açoreanos irão votar para escolher os seus representantes no Parlamento, donde sairá o próximo Governo dos Açores.
Durante a campanha o tema “Pobreza e Desigualdades”, tem merecido apenas notas de rodapé, não obstante os indicadores de pobreza ou as taxas de abandono descolar precoce serem dos mais elevados de Portugal e da Europa.
Não obstante a posição geoestratégica dos Açores e dos seus considerados recursos, não se compreende que as taxas de risco de pobreza continuem a crescer e não façam parte dos debates, privilegiando – se a discussão sobre eventuais cenários de protagonismo político – partidário.
Sem dúvida que com a Autonomia Democrática os Açores cresceram e muitas obras foram realizadas, como estradas, portos, aeroportos e hospitais.
Contudo, é preciso ter presente que crescimento não é desenvolvimento.
Não basta crescer aumentando-se o produto interno bruto, torna-se necessário uma política de desenvolvimento apostando-se, igualmente, na qualidade de vida, na justiça social, na igualdade de oportunidades, no combate às desigualdades, extirpar a raiz da pobreza e plantar a semente que potencie um verdadeiro desenvolvimento.
Os Açores podem ter crescido mas não se desenvolveram.
Não será possível concertar crescimento com desenvolvimento?
De louvar a atitude de forte cidadania de prestigiados académicos, jornalistas e escritores Açoreanos que tiveram a corajosa decisão de iniciarem um “Manifesto pelo Desenvolvimento Humano e por uma Ideia de Futuro na Região Autónoma dos Açores”
Manifesto transformado em Petição Pública que já leva centenas de assinaturas.
Nos Açores os pobres são cerca de 28% da população. Rondam 70.000 concidadãos.
Números oficiais, que têm deixado as entidades governamentais entre a indiferença e a preocupação.
Desconhecem-se os resultados não só da comissão constituída para estudar e propor soluções, com um horizonte de 10 anos, como dos estudos solicitados pelo último governo a um Académico da Universidade Coimbra.
Não se justificaria um “acordo de regime” nesta matéria?
A palavra que mais se tem ouvido é a da Educação.
Tem de se cuidar das crianças e adolescentes e repensar o “modelo”.
E os progenitores? E os ambientes onde esses jovens crescem?
Um dias destes alguém dizia, e porque não um programa “Voltar à Escola”.
Em que alguém contraponha, mas isso não é voltar à “escola para adultos?
E porque não? Retorquia outro.
Existem ilhas em que a população nos últimos anos baixou para mais de metade.
Outro sai-se com esta.
É convidar estes tipos do rendimento mínimo a emigrar para o Pico, S. Jorge, pois se íamos para a Bermuda, América, Canadá, criar riqueza para essas terras, porque não cá dentro e com menos custos e os primeiros beneficiários eram os próprios.
Com tantas ideias estes cidadãos não deveriam ser chamados para as referidas comissões de estudo?
Estariam preparados para o contraditório? Existem nos Açores várias organizações que generosamente se dedicam à “causa dos pobres”.
Porque não concertam posições? A todos não animará a erradicação da pobreza?
Sugere-se que os responsáveis do Banco Alimentar inscrevam nos seus estatutos como objectivo a sua falência, sinal que o “assistencialismo S.O.S.” se tinha tornado dispensável e a pobreza extrema debelada.
O Zé Açoreano já não é dependente do RSI. Tem emprego. O salário mínimo que aufere apenas, cobre uma refeição diária.
Para aconchegar o estômago da esposa, dos filhos e da sogra, pelo menos, com mais uma refeição, vê-se na necessidade de recorrer ao “Banco”.
Pobreza não é fatalidade.
As raízes da sua existência são conhecidas. Há que extirpá-las e começar a plantar sementes donde brotarão novas gerações libertas do estigma da pobreza.
António Benjamim