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António Arruda é dos mais antigos chefes de grupos do Cantar às Estrelas na Ribeira Grande e marcou presença nas 31 edições do evento

Decorre hoje o habitual desfile do Cantar às Estrelas, uma manifestação cultural que reúne milhares de pessoas na Ribeira Grande, em honra de Nossa Senhora da Estrela. Este ano, prevê-se a participação de duas mil pessoas. Dos 33 grupos que vão participar, seis são provenientes de outros concelhos. António Arruda, 59 anos, é funcionário da Câmara Municipal da Ribeira Grande e é um dos chefes mais antigos dos grupos de Cantar às Estrelas. Nascido na freguesia da Matriz mas criado em Rabo de Peixe, foi nesta vila que começou a participar nos primeiros ‘cantares às estrelas’. Marcou presença em todas as edições do evento, desde o seu início. Actualmente, ensaia e prepara três grupos para a ocasião.

Correio dos Açores – Como começou a participar nos grupos que vão Cantar às Estrelas na Ribeira Grande?
António Arruda – No meu caso, participar no Cantar às Estrelas não começou na Ribeira Grande, mas sim em Rabo de Peixe através das nossas filarmónicas. Aos 13 anos, fui integrado na Banda Lira do Norte e, entre 20 a 24 de Janeiro, nas festas de São Sebastião, fiz a minha estreia como músico aprendiz.
A partir daí, comecei também a fazer parte das orquestras, o nome que se dá em Rabo de Peixe a estes pequenos grupos de cantares, que são formadas por vários membros da banda. Divide-se a banda em várias orquestras, compostas por dois cantadores e entre cinco a seis elementos que vão a tocar às portas das pessoas pela freguesia.
Em Rabo de Peixe, percorríamos as ruas na noite de 1 para 2 de Fevereiro e, caso não conseguíssemos percorrer tudo, deixávamos o que faltava para a véspera de Carnaval.
Uns anos mais tarde, comecei a participar no Desfile das Estrelas, que é feito pela Câmara Municipal da Ribeira Grande. Neste desfile participam bandas, grupos particulares, instituições, juntas de freguesia, grupos folclóricos, entre outros. A propósito do primeiro desfile, foi formada uma orquestra na Ribeira Grande e eu participei em alguns cantares às estrelas através desta orquestra.
Depois, com o passar do tempo, comecei a adquirir mais conhecimento e aventurei-me a compor algumas músicas e a escrever algumas letras, apesar de ser maioritariamente música.

Participou em todas as edições do Cantar às Estrelas na Ribeira Grande?
Participo sempre desde que começou. No entanto, de um ano para o outro, posso mudar de grupo. Por exemplo, participo num ano com o grupo da Junta de Freguesia e no ano seguinte com o da Câmara Municipal da Ribeira Grande.

Que temas aborda nas letras que escreve?
Os temas são sempre dedicados a Nossa Senhora da Estrela. Depois, claro, tem umas quadras de agradecimento ou dedicadas à Câmara da Ribeira Grande. Existe na Ribeira Grande uma casa dedicada a cada grupo que vai participar no desfile. Mas, como são muitos grupos e não podemos parar em todas as casas, elegemos uma e fazemos uma paragem para cantar umas quadras, junto com os refrões. Fazemos o mesmo na Câmara Municipal e o desfile termina dentro da igreja com, praticamente, todas as quadras dedicadas a Nossa Senhora da Estrela.

Como o evento evoluiu ao longo dos anos?
Os grupos que começaram a participar neste evento já o faziam nas suas freguesias, como por exemplo as filarmónicas e outros grupos, principalmente de folclore. Depois, ao longo dos anos, foram-se juntando outros grupos, tais como as escolas, casas do povo, juntas de freguesia e até chegam a participar grupos que não pertencem ao concelho da Ribeira Grande.

Como é o processo de preparação para o Cantar às Estrelas? Quanto tempo antes do evento os grupos começam a ensaiar?
Não é necessário ensaiar com muito tempo de antecedência. Duas semanas antes é suficiente, com dois ensaios por semana. Fazemos três a quatro ensaios no total, tendo em conta que as músicas não são grandes. Não é nenhuma peça de concerto, são apenas uns pequenos compassos com um pouco de refrão e estrofe.

Ensaia quantos grupos?
Ultimamente, tenho ensaiado à volta de três grupos. Pedem-me sempre para ensaiar o grupo da Câmara da Ribeira Grande, o da Junta de Freguesia de Rabo de Peixe e o da Casa do Povo da Matriz da Ribeira Grande, freguesia onde nasci.

Qual é o papel dos chefes dos grupos na organização e preparação?
Tentamos ensaiar o melhor possível com cada músico e com cada pessoa que vai estar presente. Vamos corrigindo algumas coisas e dando pequenos conselhos sobre a actuação, para que cada grupo cante o melhor possível.

Na sua opinião, qual é a importância cultural e histórica do Cantar às Estrelas na Ribeira Grande?
É importante porque serve para preservar uma tradição que vem de cada freguesia e que foi colocada neste desfile. Ainda bem que a Câmara da Ribeira Grande teve esta ideia e, felizmente, outras câmaras estão a seguir o exemplo.
A origem é sempre em Nossa Senhora da Estrela, mas noutros sítios é chamado de Cantar a Nossa Senhora das Candeias. Está tudo relacionado com a luz que nos ilumina no dia-a-dia.
Além disso, participam grupos muito grandes e cada um vai tentando fazer o seu melhor. O convívio também é importante para os vários grupos.

Quais foram os maiores desafios que enfrentou ao liderar grupos no Cantar às Estrelas?
Quando era maestro da banda filarmónica, quis criar um grupo diferente e decidi convidar algumas meninas, que faziam parte da banda, para fazer coro, ou seja, cantar o refrão. Antes, o refrão era apenas tocado e os cantadores só cantavam as estrofes. Na altura, criei uma quadra específica para o refrão ser cantado juntamente com a música. Foi algo que me marcou, por ter sido diferente, e que foi elogiado por várias pessoas. Não foi nada improvisado, como antigamente. Não havia nada no papel. As pessoas aprendiam a tocar e depois não precisavam de pauta. Hoje em dia, como é muita gente e já não são muitos os que improvisam, é tudo escrito e lá vai toda a gente olhando para o papel.
Antigamente, o Cantar às Estrelas em Rabo de Peixe era uma forma de pedir ajuda e de recolher ofertas, principalmente em dinheiro. Era mais uma ajuda para as despesas da filarmónica. Esta era a tradição em Rabo de Peixe. Antes disso, segundo me contaram, as pessoas davam ofertas que serviam para, mais tarde, se fazer uma arrematação.

De que forma a participação no Cantar às Estrelas influenciou a sua vida pessoal e a sua ligação à comunidade?
A influência foi total. A minha família também costumava participar. Os meus filhos tocavam música e a minha filha ainda canta e até mesmo a minha mulher chegou a ir connosco. Criámos um grupo através da Associação Musical e Recreativa da Ribeira Grande, onde está incluída a orquestra ligeira assim como as danças de carnaval. Como o grupo era pequeno, juntei com o grupo coral e fomos Cantar às Estrelas. Além disso, festejamos o São João e, às vezes, pedem-me para fazer as músicas e as letras para essas festas. Eu e a minha família estamos sempre prontos para ajudar. Há momentos em que penso em desistir, mas o bichinho fica e vou sempre participando.

Como pode a nova geração contribuir para a continuidade e vitalidade do evento?
O número de participantes podia ser maior, embora já haja muita gente a participar neste evento. Muitas pessoas dizem não ter jeito para cantar ou tocar e que, por isso, não querem participar. Por outro lado, também se nota uma boa adesão do público mais jovem. No geral, vemos uma mistura de pessoas jovens com pessoas mais velhas, a cantar e a tocar nos grupos.
As tradições fazem parte da nossa vida. Não é preciso as pessoas terem receio. Esta é uma tradição muito antiga, que não se pode nem se deve deixar porque faz parte das nossas raízes e dos nossos antepassados.

Como vê o futuro do Cantar às Estrelas na Ribeira Grande?
Vejo um futuro risonho. Penso que o Cantar às Estrelas ainda vai durar muito tempo. Temos sempre que pensar no futuro e isso é o que prevejo. Não se tem visto uma diminuição do número de pessoas nos grupos, aliás, este número até tem aumentado. Vemos muita gente nova a tocar até instrumentos novos, como violas e acordeões.

Carlota Pimentel 
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