Para além de socialistas e sociais-democratas, existe uma panóplia grande de partidos que auguram fazer-se representar no parlamento regional. Noutras ocasiões, esta ambição comportaria uma mera participação na vida democrática, acomodada ao veemente papel de oposição, nuns casos mais aguerrida e ideologicamente fundada, noutros casos mais populista ou meramente circunscrita ao palco parlamentar.
Nos tempos que correm, os partidos que disputam a eleição de uma representação parlamentar, ou ambicionam a criação de um grupo de deputados, podem fazer a diferença na indicação do putativo presidente do governo, e decidir os destinos da região para a próxima legislatura. Tal como tem acontecido na república e aconteceu em 2020 na região, um deputado pode fazer toda a diferença.
A disputa entre Vasco Cordeiro e José Manuel Bolieiro alarga-se, assim, a mais intervenientes, que lhe dizem diretamente respeito, pois irão influenciar as suas possibilidades de chegar a Sant’Ana, ou não.
Chegamos assim aos alinhamentos viáveis, que também devem ser analisados não apenas pelas convergências de 2020, mas igualmente pelas expectativas criadas durante os últimos três anos, eventualmente espelhadas nas já conhecidas sondagens e estudos de opinião.
Não obstante a enorme incerteza que rodeia a eleição de deputados por ilha, acrescida do círculo de compensação no qual todos os partidos apostam os seus melhores candidatos – que não têm de ser os mais conhecidos ou mais competentes – à eleição, quaisquer extrapolações serão sempre dúbias e incorrem em erros de análise.
Vejamos por exemplo a ilha das Flores. Em 2016 elegeu um deputado da CDU, que passados quatro anos trocou por um eleito do PPM, mantendo o segundo eleito pelo PS e o terceiro pelo PSD. Não parece credível que estes florentinos comunistas tenham passado a monárquicos em quatro anos. Não sabemos sequer se serão os mesmos, daqui advindo as enormes dúvidas que se colocam a quem pretende analisar o sentido de voto nestas ilhas. Ainda assim, certas parecem ser algumas premissas. Para se chegar a uma maioria de deputados, as ilhas de São Miguel e Terceira são fundamentais.
O círculo de compensação, por eleger um número considerável de parlamentares (5) nunca é desconsiderado, em particular pelas forças mais pequenas. Para a obtenção de uma maioria parlamentar que suporte o executivo, os votos tanto do Bloco de Esquerda como do Chega devem ser mais necessários que o habitual. Neste particular caso de alianças, a AD parece ter mais condições de triunfar, tal como fez em 2020, podendo aliar-se tanto aos liberais e ao PAN, como à direita radical preconizada pelo Chega. O que não pode, é servir-se de todos ao mesmo tempo.
E se assim for, se optar por André Ventura, será um embaraço para Luís Montenegro, que lá invocará a autonomia partidária regional, esperando que esta não o queime demasiado lá para o início de março.
Sabendo desta realidade, também os socialistas já disseram que estão abertos a entendimentos com todas as forças políticas, à exceção das consideradas pelo partido não democráticas, na ocasião o Chega e o ADN. Mas dificilmente terão mais portas abertas para além do PAN, se conseguir manter o deputado, e do Bloco que deve manter o grupo parlamentar, mantendo-se como a única força política à esquerda dos socialistas. A estratégia de Vasco Cordeiro, que em tempos idos assegurou uma maioria absoluta a António Costa, pode já não funcionar da mesma forma. A colagem do Chega a um governo do PSD pode mover-se contrariamente ao pretendido, numa altura em que os portugueses estão profundamente descontentes com os políticos profissionais. Para muitos eleitores, na fase que atravessamos da vida nacional, ter a direita radical no governo, que diz tudo querer «limpar», pode vir a ser um estímulo.
De uma forma ou de outra, as legislativas regionais antecipadas trarão novo governo ao arquipélago, liderado por sociais-democratas – e restantes companheiros – ou socialistas, que terão pouca margem na obtenção de apoio parlamentar, que crescerá à medida que crescer a vontade de afastar José Pacheco do governo e a direita radical de capacidade negocial junto do presidente eleito. Num caso ou no outro, o importante é mesmo sair de casa e ir votar.
Fernando Marta