Um inquérito aos comportamentos aditivos de jovens com 18 anos que participaram no Dia de Defesa Nacional em 2022 realizado pelo SICAD – Serviço de Intervenção nos Comportamentos Aditivos e nas Dependências do Ministério da Saúde, revela que os Açores são a Região do país com maior prevalência ao longo da vida e nos últimos 12 meses em tranquilizantes e sedativos não prescritos e em drogas duras.
Quanto às drogas ilícitas, em 2022 face a 2021, os Açores não acompanham a tendência nacional de subida, registando um decréscimo do consumo que faz com que esteja agora ligeiramente abaixo do total nacional.
Paralelamente, segundo o estudo, os Açores não acompanham a tendência nacional de descida no que diz respeito à utilização da Internet para jogos de apostas, traduzindo-se numa discrepância muito acentuada face ao total nacional. A experiência de problemas relacionados com a ingestão de bebidas alcoólicas, consumo de drogas ilícitas e a utilização da Internet “pouco se alterou, não acompanhando a tendência nacional”.
Campeões em tranquilizantes
e sedativos não prescritos
Os Açores (10,9%) são campeões no consumo de tranquilizantes e sedativos não prescritos em termos de prevalência ao longo da vida. A média de prevalência ao longo da vida no país é de 7,3% e, na Madeira, é de 7,9%. Todas as outras regiões portuguesas têm uma prevalência, a este nível, abaixo da que se verifica nos Açores.
Em todas as regiões do país, o consumo recente de tranquilizantes/sedativos sem receita médica por parte dos jovens de 18 anos é uma prática sem grande expressão. A maior prevalência de consumo não prescrito deste tipo de medicamentos nos últimos 12 meses regista-se na Região Autónoma dos Açores (9%), enquanto a menor (5%) se verifica em Lisboa, Norte e Algarve. Mesmo tendo em conta que os valores são de pouca ordem de grandeza, não se verificam discrepâncias regionais assinaláveis, com excepção dos Açores, que se destaca claramente das restantes (+3 pontos percentuais face ao total nacional).
Maior consumo de drogas
pesadas nos Açores
Já em termos de prevalência de consumo de substâncias ilícitas ao longo da vida, por tipo e substância e região em Portugal, é nos Açores que existe uma maior prevalência no consumo de alucinogénicos (5,9%) à frente da Madeira (5,2%) e da média nacional (4,2%). A prevalência é também mais elevada nos Açores em termos de consumo de cocaína (6,7%) acima da Madeira (5,3%) e da média nacional (3,7%); e também do consumo de heroína/opiáceos (4,4% nos Açores), enquanto na Madeira a prevalência é de 3,2% e a média nacional de prevalência a nível nacional é de 1,8%.
Ainda segundo o estudo de 2022, os Açores lideram a prevalência de consumo de novas substâncias psicoactivas ao longo da vida (6,1%); à frente do Alentejo (5,5%) e da Madeira (5,4%), sendo a média nacional de prevalência de 4,3%.
Já quanto ao consumo de canábis, os Açores são a Região de menor prevalência ao longo da vida (24,9%; quando na Madeira é de 25% e a média nacional é de 28,4%.
Em termos de anfetaminas, os Açores (6,9% em termos de prevalência ao longo da vida) estão acima da prevalência média nacional (6,4%) e abaixo da Madeira (7,4%).
Em termos de prevalência de consumo de substâncias ilícitas nos últimos 12 meses, por tipo de substância e região, os Açores lideram ao nível das novas substâncias psicoactivas (4,9%); dos alucinogénios (4,8%); da cocaína (prevalência de 5,6%); e da heroína (3,9%).
Consumo de bebidas alcoólicas
Segundo o estudo, a prevalência do consumo de bebidas alcoólicas ao longo da vida na população açoriana (84,6%) é inferior à média nacional (87,6%) e superior à Madeira (82,3%). As prevalências mais elevadas verificam-se no Alentejo (91,1%); e no Algarve (90,7%).
Quanto à prevalência do consumo de tabaco na população ao longo da vida, a percentagem é mais elevada nos Açores (56,1) do que a média nacional (52,2%) e muito mais elevada do que na Madeira (47,4%). É na região do Alentejo que a prevalência do consumo do tabaco na população ao longo da vida é a mais elevada (60,2%).
A prevalência do consumo de substâncias ilícitas ao longo da vida é de 32,5% nos Açores, uma prevalência que é mais baixa que a média nacional (33,7%); mas superior à da Madeira (27,5%).
Seja qual for a região, a grande maioria dos jovens de 18 consumiu uma ou mais bebidas alcoólicas nos 12 meses anteriores à inquirição. Ainda assim, o panorama não é bem o mesmo em todas as regiões do país. As prevalências de consumo recente são mais elevadas no Alentejo (89%) e no Algarve (88%) e menos na Madeira (78%) e nos Açores (80%), o que traduz, portanto, uma diferença muito considerável (11 pontos percentuais) entre a região com o maior e o menor consumo de álcool nos últimos 12 meses.
No que respeita à embriagues severa nos últimos 12 meses, mais uma vez o Alentejo destaca-se das restantes regiões, registando a maior prevalência do país (46%), muito acima do total nacional (+10 pontos percentuais), enquanto os Açores se destacam em sentido contrário (30%).
Quanto à embriagues ligeira nos últimos 12, verifica-se a mesma tendência de valores muito elevados no Alentejo (73%) e menos expressivos nas Regiões Autónomas dos Açores (57%) e da Madeira (58%).
O Alentejo (24%) é a região onde mais jovens associaram, na mesma ocasião, duas ou mais substâncias lícitas e/ou ilícitas nos últimos 12 meses, sendo o policonsumo menos prevalente na Madeira (16%), um pouco abaixo do total nacional (20%). Em causa está uma discrepância de 8 pontos percentuais entre as duas regiões, o que é bastante considerável.
Tal como na experimentação, os valores mais elevados nos diferentes indicadores do consumo recente registam-se no Algarve, nos Açores e no Alentejo, sendo que esta última região se destaca por um cenário mais gravoso no que se refere aos comportamentos nocivos.
Utilização da Internet
No que respeita à utilização da Internet, a percentagem de inquiridos que declararam jogar videojogos online é semelhante em todas as regiões do país, enquanto a prática de jogo de apostas online é mais prevalente nas Regiões Autónomas dos Açores e da Madeira.
Quanto ao tempo passado online, a percentagem de utilizadores da Internet que passam 6 ou mais horas por dia em redes sociais é maior na Região Autónoma dos Açores (seja durante a semana, seja durante o fim-de-semana) e também nas regiões do Norte e do Alentejo (embora apenas no caso da utilização durante a semana). As Regiões Autónomas destacam-se no estudo pelo maior tempo diário passado a jogar videojogos e a jogar jogos de apostas online.
Entre 2021 e 2022, a percentagem de jovens de 18 anos que declararam usar a Internet desceu muito ligeiramente (-1 ponto percentual) no conjunto do país, sendo que também a utilização da Internet para fazer jogos de apostas se tornou menos prevalente (igualmente -1 ponto percentual). A nível regional, contudo, o panorama é diversificado, embora as discrepâncias não sejam muito acentuadas. Assim, face ao estudo anterior, as apostas online tornaram-se mais prevalentes nas Regiões Autónomas dos Açores e da Madeira (+2 pontos percentuais, em ambas as regiões) e menos em Lisboa, Centro e Algarve (-1 ponto percentual, em todas estas regiões). No Norte e no Alentejo a percentagem de inquiridos que declararam jogar jogos de apostas através da Internet pouco se alterou entre 2021 e 2022
Os inquiridos
Refira-se que, no conjunto do país, 119.942 jovens responderam a este inquérito, sendo a taxa de prevalência de 33,7%. Destes, 1963 eram residentes dos Açores, onde a prevalência era de 32,5%.
Em todo o país os inquiridos são mais do sexo feminino do que do sexo masculino, sendo que tal é mais acentuado no Algarve e menos nos Açores, onde praticamente não se verifica diferença em função do sexo (1 ponto percentual).
Quanto à escolaridade dos inquiridos, a maior percentagem de jovens de 18 anos com menores qualificações (9º ano ou menos) encontra-se nos Açores, a larga distância das outras regiões, enquanto a maior proporção com maiores qualificações (isto é, estudantes do ensino superior) se regista no Centro.
Na Região Autónoma da Madeira encontra-se a maior percentagem de jovens que frequentam ou terminaram os estudos ao nível do ensino secundário. A maior proporção de jovens que estudam a tempo inteiro encontra-se em Lisboa, enquanto nos Açores se destaca em sentido contrário. Esta última região apresenta também a maior percentagem de jovens de 18 anos que trabalham, estão desempregados ou são trabalhadores-estudantes (neste último caso, juntamente com o Algarve).
Em todas as regiões do país a esmagadora maioria dos inquiridos é constituída por solteiros, sendo que tal é ligeiramente menos acentuado no Alentejo e nos Açores.
As maiores discrepâncias regionais verificam-se no que diz respeito ao nível de escolaridade e à situação face ao trabalho, enquanto o panorama é muito semelhante nas diversas regiões no que se refere ao sexo e ao estado civil. Tendo em conta as características sócio demográficas dos inquiridos, os Açores destacam-se ligeiramente das restantes regiões do país.
João Paz