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“Sem zonas húmidas nos Açores, não sobreviveremos às alterações climáticas”, afirma responsável da SPEA

“Se não fizermos mais para proteger as zonas húmidas naturais que temos nos Açores, não sobreviveremos às alterações climáticas”, mensagem do Director Executivo da Sociedade Portuguesa para o Estudo das Aves (SPEA), Domingos Leitão, por ocasião do Dia Mundial das Zonas Húmidas, que se assinalou ontem.
“As zonas húmidas são essenciais para o futuro da humanidade”, afirma Domingos Leitão.
“Perante os Invernos cada vez mais caracterizados por tempestades e chuvas torrenciais que se fazem sentir nos Açores, é imperativo proteger e restaurar os rios e as suas margens, bem como as zonas húmidas de altitude como as turfeiras, que conferem protecção contra inundações e enxurradas. Exemplo disso são as turfeiras do Planalto dos Graminhais, em São Miguel (Açores), onde, graças ao trabalho da SPEA já foram alvo de restauro activo 75 hectares de turfeiras que podem agora cumprir o seu papel fundamental como uma esponja natural”, refere Domingos Leitão.
Adianta que, no Inverno, “quando caem as chuvas torrenciais, as turfeiras captam e armazenam milhares de litros de água, evitando que ela corra monte abaixo de enxurrada e cause derrocadas e inundações. Ao invés, essa água vai-se infiltrando no solo devagarinho, chegando aos lençóis de água e permitindo que as ribeiras tenham sempre água no Verão”.
Como salienta Domingos Leitão, “também as zonas húmidas mais costeiras têm um papel fundamental como barreira contra inundações, e são cruciais para resistirmos à subida do nível da água do mar. Destruir estes sistemas naturais de regulação da água é duplamente prejudicial se for para os substituir por construções de betão que impermeabilizam o solo, impedindo-o de absorver a água,” afirma.
“Em Portugal, muitas das zonas húmidas são, supostamente, protegidas por lei. Mas continuam a surgir projectos turísticos e urbanísticos que ameaçam os habitats importantes. Exemplo do estuário do Tejo e do Sado (Alcochete, Tróia e Comporta-Galé), e até no Algarve (Lagoa dos Salgados, Ria do Alvor, Alagoas Brancas). Temos de fazer mais para proteger a integridade destas zonas húmidas, que são a nossa protecção contra a subida do mar e evitar que isto suceda no arquipélago dos Açores” diz Domingos Leitão.
“E é preciso ir além de impedir a destruição”, afirma o conservacionista, frisando a importância e restaurar zonas degradadas: “O restauro da vegetação nativa dos Açores, ou de habitats naturais como a floresta laurissilva dos Açores, que temos vindo a realizar nos últimos 20 anos é crucial não só para a sobrevivência de espécies únicas como o priolo, como para garantir sustentabilidade do recurso água nos ecossistemas, mas também para todos os açorianos em geral”.
No entender de Domingos Leitão, nos Açores, “o problema pode não ser tão visível”, mas é um facto que “projectos que aumentem significativamente o consumo de água são projectos que não podem avançar nos dias de hoje”. “Se desviarmos a água para mega-empreendimentos sejam eles agrícolas ou turísticos, quando a água é cada vez mais escassa, onde iremos buscar água para beber num futuro próximo?”, pergunta.
“É profundamente irresponsável contemplar projectos como plantações intensivas de abacate ou mirtilo, que requerem milhões de litros e água por ano, no sul de Portugal, onde já se enfrentam problemas de escassez de água”, afirma. “Temos de aprender com os casos que se passam noutros pontos do país e evitar que aconteça nos Açores”, refere. Daí que a SPEA e outras organizações de defesa do ambiente se oponham a diversos projectos a decorrer no continente como o das Herdades da Murta e Monte Novo, mas mantem se atenta ao que se passa nos Açores.”
“Não se pode criar uma necessidade de água daquela maneira, quando sabemos que estamos num cenário de alterações climáticas em que a água é um bem cada vez mais escasso. Aprovar projectos que impliquem destruir zonas húmidas, é criar um conflito entre a utilização de água para a agricultura e a utilização de água para consumo humano, que nunca vai acabar bem”, reitera Domingos Leitão.
“Para sobreviver, temos de diminuir a pressão sobre estes ecossistemas cruciais. Está nas mãos de todo nós, desde as nossas escolhas como consumidores até à participação activa enquanto cidadãos, quer a título individual quer associando-nos ou apoiando associações de defesa do ambiente” conclui Domingos Leitão.

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