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“Tudo o que é tradição é cultura e os grupos de cantares procuram músicos e escritores antigos em Vila Franca”, afirma Rute Santos

“Somos um grupo atípico”. É deste modo, com humor, que Rute Santos define o grupo de cantares da Escola Secundária Armando Côrtes-Rodrigues, composto por alunos, professores, encarregados de educação e assistentes operacionais. Vão participar pela nona vez no cantar às estrelas e ao Correio dos Açores, uma das responsáveis da comissão de eventos da escola informou quais são os maiores desafios que um grupo escolar tem e garantiu que o “o futuro do cantar, em Vila Franca, é promissor”.

Correio dos Açores – Como começou a sua participação nos grupos que vão Cantar às Estrelas em Vila Franca?
Rute Santos – A minha participação começa quando a Escola Secundária Armando Côrtes-Rodrigues decide criar uma comissão de eventos. Esta comissão é composta por mim, Zilda Teixeira, Patrício Dias e Joana Gamito. Começamos a desenvolver várias actividades na escola, como o corso de carnaval e a festa de São João e depois fomos convidados a participar no Cantar às Estrelas por parte da Câmara Municipal. Sendo uma escola o nosso principal objectivo é manter e divulgar as nossas tradições junto da comunidade em geral.

Qual é o tema das suas letras?
Apesar de termos três letras e três músicas diferentes, o tema é sempre cantar a Nossa Senhora da Estrela. Este ano a música que vamos levar chama-se Abraço de Luz, música que só por uma vez foi levada ao cantar, da autoria de Mário Pimentel e Ana Furtado. São eles os responsáveis pelas nossas músicas e letras, respectivamente.

Participam há quanto tempo no Cantar?
Esta é a nossa nona participação. Infelizmente não conseguimos participar em uma ou duas edições. Por exemplo o ano passado não conseguimos participar devido a falta de músicos e não tínhamos como fazê-lo. Normalmente participamos sempre e com um grupo composto por um número assinalável de pessoas.

Como evoluiu o evento ao longo dos anos? Quais foram as principais mudanças e as tradições que se foram mantendo?
O evento tem evoluído bastante ao longo do tempo. Antes apenas fazíamos um desfile pela rua e depois tínhamos o nosso cantar em frente à Câmara Municipal. Agora já existe uma nova dinamização com o comércio local que também se envolve, os que aceitam se envolver, no desfile a convite da Câmara. Assim cria-se uma dinâmica grande entre toda a população de Vila Franca o que enriquece a festa.
Para além do cantar às estrelas, temos feito tudo para manter o Carnaval e a participação nas festas de São João.

Como é o processo de preparação para o Cantar às Estrelas? Quanto tempo antes do evento os grupos começam a ensaiar?
Nós não temos a dinâmica de ensaios que um grupo organizado tem, visto que somos uma escola. O grupo de educação também está muito envolvido. Os professores de música vão ensaiando nas suas aulas e depois temos um ou dois ensaios abertos à comunidade. O objectivo é termos não só os alunos, mas também os pais, professores e assistentes operacionais participarem. Fazemos sempre estes dois ensaios e depois no dia fazemos sempre o último ensaio com todos. Como referi a uma colega, nós somos um grupo atípico (risos)

Qual é o papel dos chefes de grupos na organização e preparação?
Os chefes de grupos têm como função dinamizar e, no fundo, convidar a nossa comunidade a participar nas nossas tradições e não deixá-las cair.

Qual é a importância cultural e histórica do Cantar às Estrelas na Vila Franca?
Tem uma importância muito grande até porque, tudo o que é tradição é cultura. Há sempre a preocupação com a letra e com a música, ou então vemos que os grupos estão a contactar escritores e músicos antigos que são de Vila Franca. Podemos testemunhar o gosto pela tradição em Vila Franca.

Quais foram os maiores desafios que enfrentou ao liderar grupos de Cantar às Estrelas? Houve assim alguma situação em especial?
O maior desafio que enfrentamos é o de aparecer mais gente no dia de Cantar do que aqueles que estamos à espera. Há sempre um pai que não teve tempo de vir aos ensaios e decide vir no dia, ou então algum pai que vê o filho a cantar e decide se juntar também. São alguns desafios, mas são desafios saudáveis que vamos tendo.
Não há assim nenhuma situação em especial. O que vemos acontecer é que vários ex-alunos que vêm ter connosco para nos acompanhar no cantar, mesmo já estando há algum tempo fora da escola.

Como a participação no Cantar às Estrelas influenciou a sua vida pessoal e a sua ligação à comunidade?
Sempre fui ligada à comunidade de Vila Franca, uma vez que sou natural da Vila. Sempre participei em grupos de cantares e de marchas. Isto para um vilafranquense já é normal. Nós gostamos da festa, somos bairristas. Gostamos de nos apresentar e de manter vivas as nossas tradições. Sempre esteve presente.

Como pode a nova geração contribuir para a continuidade e vitalidade do evento?
Sendo um grupo escolar, o cantar é mantido por alunos. Eles contribuem com ideias novas e cabe-nos aproveitar as ideias que são trazidas por eles. Posso lhe dar um exemplo do que poderá ser uma possibilidade de contributo dos alunos no próximo ano: fazer uma letra para o cantar de modo a cultivar o gosto pela escrita e estimular a criatividade. Esta é uma maneira de mantermos o gosto pela tradição. Este tipo de desafio já acontece aquando das marchas e tem tido sucesso.

Como vê o futuro do Cantar às Estrelas em Vila Franca do Campo?
Vejo um futuro promissor. Como disse anteriormente, alunos que não tinham grupo onde se integrar vieram procurar-nos para se inteirar se poderiam integrar o nosso grupo. Melhor testemunho não poderíamos passar, pelo que o futuro do cantar está garantido.

Frederico Figueiredo
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