O dia de hoje é muito importante para os Açores e, como nunca, também é relevante para o País inteiro. Por isso, o título do presente trabalho. O voto massivo dos açorianos é sempre fundamental em qualquer eleição seja para a Junta ou Assembleia de Freguesia, Câmara ou Assembleia Municipal, porém, a expressão “voto de qualidade” sublinha o valor destas eleições regionais para o todo nacional.
Neste dia começa um intensivo calendário eleitoral nacional que se prolongará, em princípio até ao mês de junho. Seguem-se já em fevereiro as eleições para a Assembleia da República e mais tarde para o Parlamento Europeu. Esperam-se ainda eleições para a Assembleia Legislativa Regional da Madeira.
Os açorianos ao longo do dia terão a oportunidade de eleger o principal órgão de governo próprio da Região Autónoma, a Assembleia Legislativa Regional, cujo resultado eleitoral determinará a constituição do governo regional. Para os Açores a votação livre, universal e justa que hoje se efetiva tem, para além do seu valor próprio, um alcance que excede, em muito o conjunto das nove ilhas, reconhecido pelos mais ativos e representativos líderes nacionais que estão todos presentes no Arquipélago.
O Arquipélago é o primeiro território eleitoral a testar a direção e a intensidade dos ventos cruzados da tormenta política gerada e desenvolvida no País e também na Madeira como a expor-se ao juízo dos eleitores cansados da instabilidade política e estupefactos com as suas causas.
Neste dia, o País observa com muita atenção como se comportam os partidos políticos, as suas bases militantes e eleitorais nesta complexa e imbricada situação política que domina e perturba a paz política.
É verdade que os Açores com os seus menos de 250 mil habitantes poderão não ser considerados uma amostra muito significativa para fundamentar projeções seguras sobre o estado do eleitorado nacional e os efeitoseleitorais.
Todavia, dispõem duma vantagem sobre qualquer outro território eleitoral nacional porquanto as suas eleições são desencadeadas por uma causa normal em democracia e em política, a não aprovação pela Assembleia Legislativa do orçamento da Região Autónoma para 2024. Até que ponto estas eleições regionais serão influenciadas pela crise política nacional e com que expressão e alcance?
As circunstâncias que condicionam o atual ato eleitoral facilmente o configuram como uma experiência laboratorial, no âmbito da qual os Açores são a “cobaia”, o que em política é uma verdadeira novidade.
É aceitável que a afluência dos eleitores e os resultados das eleições de hoje não permitam com desejável certeza projetar os eventos eleitorais futuros designadamente no caso do Continente com uma população mais de 25 vezes superior à dos Açores.
Apesar de tudo, considerando a dimensão populacional e a votante, o momento da realização das eleições, as circunstâncias determinantes, a afluência do eleitorado insular, a distribuição dos votos pelos concorrentes poderão dar indicações preciosas sobre o comportamento do eleitorado nacional num futuro próximo.
As eleições nos Açores têm uma caraterística permanente: a elevada abstenção. No entanto, a perceção do seu significado ampliado poderá ter como efeito, assim creio, uma procura das urnas eleitorais muito expressiva, porventura a maior de sempre. Constituirá um bom e incentivador exemplo para o todo nacional. O País necessita deste tipo de cooperação.
A crise política nacional só será resolvida com votações massivas nos próximos atos eleitorais. Só assim se poderá afirmar que é o povo quem mais ordena. O eleitorado açoriano é sensível e compreensivo e neste dia dispõe dum voto de qualidade… Use-o!
Álvaro Dâmaso