O corso carnavalesco, organizado pela Casa do Povo do Pico da Pedra, acontece desde 1979 e é uma tradição que acompanha várias gerações de picopedrenses. De acordo com o Presidente da Casa do Povo do Pico de Pedra, este corso “só é possível através da boa vontade e do entusiasmo dos participantes que trabalham gratuitamente ao longo de muitas semanas.”
Correio dos Açores – Qual é o tema do corso este ano?
José Maria Jorge (Presidente da Casa do Povo do Pico da Pedra) – Fazemos sempre reuniões preparatórias. Fizemos uma em Dezembro para reactivar a memória do último corso, corrigir as falhas detectadas e não cometer os mesmos erros e, ao mesmo tempo para programar o corso deste ano, o 43º Corso Carnavalesco do Pico da Pedra. Nesta reunião, as instituições manifestaram o desejo de serem elas a criarem o seu próprio tema, o que não irá fugir aos temas habituais, como a sátira social, um bocadinho de samba e também sei que haverá um carro que se irá basear no circo. Portanto, temos várias temáticas que são sempre acompanhadas numa mensagem pedagógica e utilizando a reciclagem, que é a nossa grande aposta. Para já, é uma acção ecológica e pedagógica junto das crianças que participam no cortejo e, para além disso, se utilizarmos novos materiais todos os anos, há uma grande quebra em termos financeiros.
Quantas trelas e participantes terá o corso?
Temos 13 representações a participar este ano. Estarão presentes as principais instituições da freguesia, nomeadamente o agrupamento dos escuteiros, a Filarmónica Aliança dos Prazeres, o Vitória Clube do Pico da Pedra, alguns grupos informais, e também contamos com participação dos tambores da Associação Âncora da Vila de Rabo de Peixe, que integra o nosso cortejo todos os anos.
Temos 361 inscritos, o que representa um número muito bom para uma freguesia como a nossa. Teríamos um corso muito maior e mais rico caso a escola primária participasse, mas desde o ano passado que, infelizmente, esta não se mostra disponível, com a justificação de que é muito trabalhoso e de que as professoras não estão disponíveis ao fim-de-semana. No entanto, temos muitas crianças da escola que pertencem aos nossos ATL e vão participar.
Este ano temos cinco trelas. Para já, quero deixar um agradecimento muito especial aos empresários que nos emprestam as trelas, pois, de ano para ano, é cada vez mais difícil consegui-las devido ao encargo que significa para a própria empresa. Para além do carro, é necessário que venha o condutor e muitos deles não estão disponíveis para sacrificar o seu Domingo no Corso Carnavalesco. Portanto, há aqui um esforço administração das empresas junto dos seus condutores para que tudo seja possível.
Quanto tempo leva a preparação?
Os preparativos estão a acontecer desde Janeiro. Como as pessoas trabalham todas, só se juntam aos serões. Ao fim-de-semana, como é óbvio, dão mais um bocadinho da sua disponibilidade, mas como já todos têm alguma experiência, sabem mais ou menos o tempo que levam a efectuar a preparação do carro. Como as trelas só são dispensadas muito em cima do dia, pois as empresas precisam das mesmas durante a semana, todo o material que é planeado e construído ao longo das semanas, só começa a ser transferido por volta de Sexta-feira e Sábado (ontem e hoje) de acordo com os esquemas planeados.
Quem são os reis deste ano?
São dois jovens da freguesia, a Isabel e o Gonçalo, têm os dois por volta dos 15, 16 anos e devem ser dos reis mais novos. E isto para nós é importante porque começamos a incutir neles o bichinho do corso. As gerações têm de se renovar. Nós, os organizadores, estamos a caminhar a passos largos para a nossa aposentação das instituições e têm de ser os novos picopedrenses a pegar neste legado.
Acredita que os jovens aderem a esta tradição em massa?
Sim. Posso dizer que, por exemplo, o Vitória Clube do Pico da Pedra, uma instituição que trabalha com centenas de jovens todos dias, vai ter uma representação interessante. O nosso próprio ATL também vai participar e a Filarmónica que, apesar de ser das melhores filarmónicas do concelho da Ribeira Grande, é também um grupo de músicos muito jovem. A filarmónica tinha uma participação um pouco simbólica, mas no ano passado presentearam-nos com uma representação de luxo que foi admirada por todos, não apenas pelos picopedrenses, mas pelos milhares de pessoas que foram visitar a freguesia. Acredito que este ano também não vão desiludir.
A nossa única preocupação é São Pedro. Se nos der bom tempo, o cortejo será novamente um êxito. Estivemos a trabalhar para tal. Muitas pessoas passam de Sábado para Domingo (de hoje para amanhã) junto das trelas, precisamente para que elas não sejam vandalizadas e, por conseguinte, tudo isto é feito com muito sacrifício, mas também com espírito de alegria, camaradagem e entreajuda. Mas, tendo em conta que não há um pavilhão grande na freguesia, depende muito do tempo. Geralmente, as trelas param perto de postes de iluminação pública para que não se gaste muito gasóleo na geradora e utilizam também a iluminação pública para decorar os seus carros.
Qual é a importância do corso para a freguesia do Pico da Pedra?
É muito importante. Em primeiro lugar, é uma oportunidade para que as pessoas das associações trabalhem em conjunto e para um objectivo comum. E também se começam a integrar pessoas que residem há poucos anos no Pico da Pedra. Inclusive, este ano temos duas representações familiares de pessoas que residem cá há relativamente pouco tempo, o que para nós é um motivo de alegria porque temos a prova de que a freguesia não serve só para dormitório e de que as pessoas que decidem viver cá querem integrar-se na vida da freguesia, a qual tem uma certa fama pelo seu dinamismo cultural e social.
Para além disso, o corso atrai para a freguesia muitas milhares de pessoas que, não estando familiarizadas com local, passam a conhecer as suas potencialidades. Este dia também é importante para os próprios empresários da restauração que têm um movimento maior. Estão desde quinta-feira a reforçar o seu stock para que não falte bebida, bem comida aos aos nossos visitantes. Por fim, o corso é importante porque o nome do Pico da Pedra é também ventilado por toda a comunicação social.
Quer deixar uma mensagem para o Domingo Gordo?
Quero deixar uma mensagem de agradecimento às empresas que todos os anos colaboram connosco, tanto no que diz respeito à cedência das trelas, como de materiais. Um agradecimento especial à Câmara e à Junta de Freguesia pois sem estas duas entidades o corso dificilmente poderia sair à rua pois, apesar de tudo, ainda se gastam uns milhares de euros nessa actividade. A todos os participantes, pois este corso só é possível através da boa vontade e do entusiasmo dos participantes que trabalham gratuitamente ao longo de muitas semanas.
Por último, queria convidar todos a vir ao Pico da Pedra às 15h00 pois não vão de modo algum arrepender-se. O feedback dos anos anteriores tem sido muito positivo e ninguém se arrependeu de ter passado a tarde de Domingo Gordo na freguesia que tão bem sabe receber todos aqueles que nos vistam.
Daniela Canha