São cada vez mais angustiantes as notícias de guerra no mundo. Podemos ficar indiferentes?
Continua a tentativa russa de dominar a Ucrânia, onde todos os dias morrem pessoas, muitas vezes civis sem intervenção militar. Cidades inteiras ficaram devastadas; foram destruídas linhas de abastecimento, centrais eléctricas; continua a haver milhões de ucranianos deslocados, muitos a viver precariamente no estrangeiro. O horror da guerra dura há dois anos e parece não ter fim, como se a contabilidade das vidas humanas fosse um jogo. A Ucrânia começou por defender apenas o próprio território, mas agora estende a sua acção a objectivos civis no interior da Rússia. De um lado e do outro, acumula-se o ódio e a morte.
A crise na Terra Santa, com a lenta e imparável expansão territorial de Israel e uma longa história de agravos mútuos, agudizou-se dramaticamente no passado mês de Outubro com o ataque do Hamas que vitimou quase 1500 civis israelitas. Israel aproveitou a ocasião para conquistar toda a faixa de Gaza, descarregar o seu ódio contra a população indefesa que ali vivia e avançar na conquista da Cisjordânia. É a chamada doutrina Moshe Dayan, estabelecida em 1950, que consiste em ignorar o agressor e vingar-se barbaramente na população civil. Dayan reconhecia que este método não tem justificação nem é moral, mas considerava que era o único efectivo. Desde então, a média de Israel tem sido matar 20 palestinianos por cada israelita morto. Embora neste momento já falte pouco para atingir os 30 mil palestinianos mortos, para vingar os quase 1500 israelitas vítimas do Hamas em Outubro, a sede de sangue não parece acalmar-se. Além das mortes, a retaliação incluiu desalojar toda a faixa de Gaza, arrasar sistematicamente todas as povoações, cortar as estradas, os apoios humanitários, o abastecimento de água e de comida e bombardear os hospitais. O Tribunal Penal Internacional está a estudar o caso, porque admite que esta acção seja o genocídio do povo palestiniano. Para já, pediu a Israel que respeitasse algumas regras de humanidade. No entanto, o Tribunal não tem força para fazer cumprir as suas decisões, a comunidade internacional não consegue unir-se para travar a ofensiva e a tragédia continua. Israel argumenta que só bombardeia alvos militares, mas a verdade é que nem sequer sabe onde é que o Hamas esconde os prisioneiros israelitas e as 30 mil vítimas foram civis, incluindo o pessoal das Nações Unidas que distribui alimentos à população deslocada. De um lado e do outro, crescem os ódios.
Os locais de conflito armado espalham-se como um incêndio, transformando esta Terra num inferno.
É um erro pensar que a vingança dá alegria. Quem arde em desejo de se vingar nunca fica satisfeito com a maldade cometida contra os outros. O ódio reclama cada vez mais ódio. Não só as vítimas sentem a tentação de responder da mesma maneira, como o próprio fica preso numa espiral insaciável de aversão e de infelicidade.
A paz diz-nos respeito. O Papa pede em todas as audiências que «não esqueçamos as guerras». Não nos podemos habituar a este vento de loucura que varre o mundo, temos de sofrer com o sofrimento alheio, temos de lutar pela justiça e nunca — em momento algum — podemos admitir um sentimento negativo contra alguém.
O demónio não compreende esta estratégia, ri-se daqueles que sofrem por problemas que não lhes dizem respeito e continua a rir-se das bem-aventuranças: «Bem-aventurados os que têm fome e sede de justiça!», «bem-aventurados os pacíficos!».
O ódio não cansa e por isso o Inferno não tem fim. Enquanto que o amor enche plenamente a alma de felicidade inesgotável e por isso o Céu também não tem fim.
José Maria C.S. André