São cada vez mais os estrangeiros que procuram os Açores para viver, quer seja pelas oportunidades de trabalho, quer pela natureza açoriana e pela busca de um estilo de vida mais calmo.
A fotógrafa Roxane Rambert, natural da Suíça, inclui-se neste segundo grupo. “Fui atraída pela beleza natural e pela riqueza da vida marinha dos Açores. Mudei-me para cá, para o Pico, há sete anos, em busca de uma vida diferente, mais simples, e de uma ligação mais profunda com a natureza.”
Foi precisamente pelo facto de os Açores serem considerados destino de natureza que a suíça conheceu o arquipélago. “Descobri os Açores através de pesquisas sobre destinos de natureza e biodiversidade marinha. Durante minha a primeira viagem aos Açores, com o objectivo de me aproximar da fauna marinha, apaixonei-me pelas maravilhas naturais das ilhas, um paraíso para os amantes da natureza,” conta.
E porque escolheu a ilha do Pico para viver? “Porque foi a que me conquistou primeiro. Para mim, tem tudo: montanhas e o oceano a perder de vista, e claro, a incrível biodiversidade marinha que a rodeia,” lembra.
Antes de vir viver para os Açores, Roxane, trabalhou em várias áreas, como assistente veterinária, recepcionista e secretária, e também gestora administrativa e contabilística. Paralelamente, foi voluntária durante muito tempo e participou em várias formações ligadas à natureza.
Nos Açores, teve oportunidade de desenvolver muito trabalho na área da fotografia, tendo sido recentemente distinguida e vencedora na categoria “Acima de Água” no concurso “Fotógrafo do Ano 2024,” da Fundação Ocean Azores, com uma fotografia de um salto de um golfinho. Cerca de 1.400 foram imagens submetidas a concurso. Roxane Rambert conta que trabalhou em barcos de observação de cetáceos durante três anos, para uma empresa no Pico, onde pôde “capturar momentos mágicos e compartilhar a beleza dos mamíferos marinhos através das minhas fotografias. Mas antes disso, nunca perdia uma oportunidade de sair ao mar para fotografar e filmar a vida marinha e partilhar o que tinha avistado. Além disso, a partilha de algumas fotografias bem especificas tiradas no mar é uma ferramenta importante para a ciência, para identificar espécies, estudar o comportamento animal e monitorar populações, através do trabalho de foto identificação por exemplo.”
A fotógrafa explica que a sua paixão pela fotografia “une-se ao desejo de sensibilizar as pessoas para a importância da conservação marinha,” considerando que “ao compartilharem as suas fotografias, os fotógrafos contribuem para consciencializar o público sobre a importância da preservação da vida selvagem e do meio ambiente.”
A suíça tem um fascínio pelos mamíferos marinhos, que abundam no mar dos Açores, e um carinho especial pelos cachalotes: “sou fascinada pela inteligência, beleza e comportamento dos mamíferos marinhos. Cada espécie tem características únicas que me encantam, mas tenho um carinho especial pelas cachalotes, que aprendi a conhecer aqui, devido à sua presença marcante e sua história nas águas dos Açores. As orcas, as falsas orcas e os golfinhos caldeirão estão entre as minhas espécies favoritas.”
Das 28 espécies de cetáceos já registadas nos Açores, a fotógrafa de 36 anos, já teve oportunidade de observar 22 delas, nomeadamente “as tímidas baleias-de-bico-de-true, assim como os incríveis e tão raros golfinhos caldeirão. Às vezes, não é apenas a espécie em si que torna o encontro inesquecível, mas sim o seu comportamento. Uma espécie muito comum pode se tornar a observação mais incrível do dia quando demonstra um comportamento raro ou diferente do habitual, por exemplo.
Para Roxane Rambert, há sete anos na Região, “sem dúvida os Açores são um lugar verdadeiramente especial quando se trata da vida marinha” e “as águas profundas e a rica biodiversidade tornam os Açores num santuário para os mamíferos marinhos, proporcionando experiências únicas de observação da vida selvagem,” elogia.
Para além das espécies de cetáceos raros, observou, em Maio de 2019, “uma rara ave pelágica vagante, uma freira-de-trindade, apenas o 13º registo nos Açores. Depois de dar três voltas acima do barco, ela desapareceu no horizonte.” No que toca aos tubarões-baleia, que têm feito cada vez mais aparições nos Açores e em cada vez mais ilhas, a suíça observou esta espécie “pela primeira vez em 2022, o que foi um ano marcante para esta espécie, pois foram avistados em grande número perto da superfície se alimentando. Foram observações inesquecíveis!”
Viver “exclusivamente da fotografia hoje em dia é extremamente difícil” e explica, que o faz a tempo parcial: “No meu caso, a fotografia sempre foi um hóbi e uma paixão antes de tudo, permitindo-me compartilhar a beleza da natureza. Embora seja um grande investimento entre a câmara e as lentes de qualidade, o computador e outros equipamentos importantes, o investimento básico é realmente necessário. Portanto, é necessário trabalhar ao lado, sendo a fotografia um bónus.”
“Baleia sardinheira enroscada em cordas, ou uma tartaruga enrolada numa rede”
No mar dos Açores, Roxanne Rambert já teve várias experiências marcantes, lembra, “desde um encontro emocionante com baleias-de-bossa curiosas, que giravam ao redor do nosso barco, ou então com um grupo de orcas que caçavam e alimentavam-se de outro mamífero marinho.”
No entanto, contrapõe, há também experiências menos positivas, relacionadas com a poluição do mar, conta a fotógrafa “Às vezes, também são visões mais tristes que se apresentam a nós, como uma baleia sardinheira enroscada em cordas, ou uma tartaruga enrolada numa rede. Felizmente, conseguimos libertar esta última, mas nem sempre é o caso. Cada experiência deixou uma impressão duradoura em mim e reforçou a minha ligação com o oceano e a natureza circundante.”
Sobre a crescente adesão ao whale-watching, considera que “o aumento do número de pessoas interessadas em fazer whale-watching nos Açores é inevitável. Este aumento reflete não apenas a crescente popularidade do arquipélago como destino turístico, mas também o crescente interesse global na conservação marinha e na observação da vida selvagem. Todavia, diz acreditar ser importante manter atenção especial, “especialmente no que diz respeito às actividades marítimas, para garantir que sejam realizadas de forma responsável e sustentável. Respeitar as medidas existentes, como o número de embarcações, as distâncias e a velocidade, é importante. Também educar os visitantes sobre práticas de observação conscientes pode ajudar a preservar o ambiente marinho e minimizar o impacto negativo sobre a vida selvagem.”
Paixão pelo mar dos Açores
inspira arte
Foi também no Pico que teve oportunidade que começar outro projecto, desta vez ligado às artes e com inspiração no mar açoriano e a vida que lá existe. “Recentemente iniciei um projeto de pintura inspirado na arte tradicional japonesa chamada gyotaku, que os pescadores usavam para imortalizar as suas capturas valiosas, criando impressões de peixes em várias superfícies. Através dos meus trabalhos de pintura, pretendo mostrar e compartilhar a beleza e a diversidade da vida marinha dos Açores e imortalizar e valorizar as espécies de peixes encontradas aqui,” explica.
A intenção é continuar a viver nos Açores, explica a fotógrafa: “A ligação com o mar e a ilha, assim como a comunidade local, tornaram os Açores verdadeiramente especiais para mim.”
Roxane já visitou São Miguel, Faial e São Jorge, mas ainda não teve oportunidade de visitar as outras. Pelo que já conhece, “Cada uma delas tem o seu encanto único, mas tenho um carinho especial pelo Pico, com a montanha e o mar a perder de vista. Nas outras ilhas, lugares como o Poço da D. Beija na ilha de São Miguel, o Topo na ilha de São Jorge e o vulcão dos Capelinhos no Faial deixaram também uma forte impressão.”
Para o futuro, gostava de abrir um pequeno ateliê para partilhar e expor as suas fotos e trabalhos de pintura, “assim como outras actividades manuais, com alguns workshops em perspectiva. O futuro nos dirá!”
Mariana Rovoredo