O Presidente da Federação Agrícola dos Açores, Jorge Rita, afirmou ontem ao Correio dos Açores que “não afasta a possibilidade de promover uma grande manifestação nos Açores” se as conversações que vão encetar com os industriais de lacticínios, a ANIL, a grande distribuição e o Governo dos Açores não resultar num entendimento que proporcione uma distribuição equitativa dos ganhos da fileira do leite por todos os intervenientes, incluindo os produtores.
Neste enquadramento já foram pedidas reuniões à Lactogal, à Lactaçores e à ANIL – Associação Nacional de Lacticínios.
“Temos que ter uma estratégia de fileira de agenda nos Açores para haver um preço justo na venda e na compra do leite e não só”, disse Jorge Rita, defendendo “uma maior articulação desde a produção até ao consumidor em que tudo seja repartido. Não podem uns ter mais lucro e outros menos lucros. Uns têm nada; e outros têm muito. Acho que esta será a forma mais próxima de estarmos numa fileira e de todos podermos ser competitivos”, salientou.
Questionado sobre se acredita que a indústria e a grande distribuição vão estar abertas a uma distribuição mais equitativa dos lucros por todos?, Jorge Rita respondeu: “Esse é o nosso caminho. É um caminho de diálogo e discussão que tem de ser permanente e constante. Para juntar a essa discussão os Governos Regional e da República e depois a União Europeia. E se, por acaso, isso não se conseguir, se esgotarmos todas as vias do diálogo e as coisas não forem concertadas, aí, sim, vamos pensar seriamente numa manifestação.”
“Vamos aguardar mais uns dias e, nesse entretanto, vamos fazendo várias reuniões a nível de Federação contando todos os responsáveis de todas as fileiras. Quer na área de leite, quer na área da carne, quer na área da própria distribuição. É esse o nosso objectivo”, completou.
“Não pomos fora de hipótese a realização de uma manifestação. Agora o que nós não queremos, isto é seguro, é os agricultores uns contra os outros nem contra as suas associações”, afirmou Jorge Rita.
As reivindicações “têm que ter alvos e os alvos não podemos ser nós. Entre uns e outros, a divisão da lavoura. O que nós precisamos é de estar articulados e a Federação Agrícola mostrou isso claramente”.
Os agricultores “têm as suas associações, têm os seus mecanismos próprios. (…) O que não pode acontecer e é mau para os agricultores a nível regional é termos agricultores contra agricultores e agricultores contra as suas associações. Eu penso que essa situação não é razoável,” concluiu Jorge Rita.
A Federação Agrícola dos Açores manifestou-se “solidária” com as manifestações a nível nacional e de toda a Europa. “Concordamos com aquilo que são as suas preocupações, algumas delas estão resolvidas na Região…”
Federação reforça defesa
dos agricultores
A Direção da Federação Agrícola dos Açores (FAA) promoveu ontem uma conferência de Imprensa, na sua sede em Angra do Heroísmo, onde o seu Presidente, Jorge Rita, fez um ponto de situação do sector, nomeadamente com “a generalidade da insatisfação” dos agricultores europeus, nacionais e regionais sobre o futuro da Política Agrícola Comum, “a perda real de rendimento”, o qual tem “obviamente” a solidariedade da Federação e das suas associadas e “reforça a importância” da missão do movimento associativo na defesa intransigente dos interesses dos agricultores.
A Federação Agrícola dos Açores e as suas associadas “têm trabalhado num caderno reivindicativo que atende as preocupações do grupo cívico que já se manifestou”.
A Federação releva “a falta de solidariedade do Ministério da Agricultura, que mais uma vez deixa os agricultores dos Açores fora do pacote de ajudas complementares ao sector agro-pecuário”.
A Federação Agrícola dos Açores destaca “a importância de existir uma solução de governação estável nos Açores, para que se possam implementar as medidas necessárias para mitigar os constrangimentos actuais, assim como da República porque a arquitectura da Política Agrícola Comum vai sofrer uma reconfiguração e é por isso muito importante que os nossos interesses sejam salvaguardados”, refere.
A Federação anunciou que já solicitou reuniões com as indústrias de lacticínios dos Açores para que “possa existir uma articulação mais eficiente entre produção, transformação, distribuição e consumo para uma formulação justa do preço ao produtor”, apesar de considerar que “é necessário continuar a reestruturação do sector, por exemplo através da reconversão ou das reformas antecipadas”.
Considera “Importante que o Observatório do Agroalimentar nos Açores deia “informação sobre a formulação do preço desde o produtor ao consumidor, o que reforçará a importância do setor primário, em todos os setores de produção, na valorização dos produtos”.
Caderno reivindicativo quer
apoio do Governo aos juros
Um Caderno Reivindicativo da Federação Agrícola de São Miguel reafirma a defesa de um “apoio directo” da União Europeia ou do Governo dos Açores aos jovens agricultores micaelenses para “diminuição dos pagamentos á Segurança Social”.
Preconiza a manutenção do adiantamento dos apoios comunitários relativos ao prémio dos produtos lácteos e a aplicação e reformas antecipadas.
A Federação preconiza um apoio a todos os agricultores referentes ao aumento das taxas de juro bancárias através do programa SAFIAGRI que, no passado, já esteve em vigor na Região.
Defende-se, no caderno reivindicativo, a “manutenção do apoio à compra de sementes de milho ou de sorgo” e das “ajudas POSEI sem rateios”.
A Federação é apologista da “necessidade de um calendário indicativo de pagamentos das ajudas regionais” definido pelo Governo dos Açores.
Quer que continue a “reestruturação do sector leiteiro através da reconversão da produção leiteira em produção de carne”, além de “apoios à redução voluntária da produção de leite”. Quer que o Governo dos Açores faça a “distribuição do lote de 3.000 direitos à vaca aleitante.”
E apologista que o Governo dos Açores pague a “ajuda aos detentores de bovinos para abate e que sofreram os efeitos negativos da covid-19 sobre os preços”.
Preconiza a alteração da Portaria Regional relativa ao gasóleo agrícola.
Considera a “necessidade da manutenção dos caminhos agrícolas.”
Critica a “discriminação” dos agricultores dos Açores face às ajudas da República aos produtores do continente2”.
Defende a “instalação do Observatório Agroalimentar dos Açores.”
Reivindica, no âmbito do Plano Estratégico da Política Agrícola Comum (PEPAC), medidas de apoio para se alcançarem os objetivos específicos para a Política Agrícola Comum (PAC)2”.
Consideram “necessário” um apoio aos alimentos fibrosos “considerando as condições meteorológicas deste inverno”; e “um controlo eficaz e integrado das principais pragas”.
João Paz/Frederico Figueiredo