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Amamentação: vamos esclarecer mitos

Sabia que os Açores são a região do país onde menos se amamenta e durante menos tempo? Por isso hoje, dedico este espaço ao esclarecimento dos principais mitos que acabam por fazer com que muitas mães desistam de amamentar.

“O meu leite não é suficiente”
ou “O meu leite é fraco”

  • Nos primeiros dias de vida o recém-nascido mama muito pouco em cada mamada, e istonada tem a ver com a qualidade do seu leite. A capacidade gástricado recém-nascido é muito reduzida(20-30 ml)porque o seu estômago é quase do tamanho de uma cereja. Por isso, se o seu bebé chorar de hora a hora com fome, não é porque não tem leite suficiente. É mesmo assim e vai melhorar à medida que o estômago do bebé for crescendo (ex.: com 1 semana de vida, o estômago já tem o dobro da capacidade, sendo mais ou menos do tamanho de uma ameixa).
  • Além disso, apesar do colostro (“primeiro leite”) ser produzido em pequeno volume nos primeiros 2 a 3 dias após o parto, este é muito rico em nutrientes e substâncias protetoras e promotoras do crescimento, muito importantes para a saúde do recém-nascido e prevenção de doenças. Assim sendo, a recomendação é de começar a amamentar na primeira hora de vida. Esta recomendação torna-se particularmente importante no caso de recém-nascidos prematuros que beneficiam ainda mais destas substâncias protetoras e cujo leite é ainda mais rico em proteína para os ajudar a crescer.
  • Atenção: todos os recém-nascidos têm uma perda de peso fisiológica nos primeiros dias de vida por perda de água, e isto nada tem a ver com a quantidade ou qualidade do seu leite.
  • Pode também dar-se o caso de ter leite em quantidade suficiente e de excelente qualidade, mas apenas não conseguir extraí-lo (seja manualmente, com bombas ou através da sucção do bebé) devido ao stress. Isto porque, a produção de ocitocina (hormona responsável pela contração das glândulas mamárias, que faz com que o leite saia) pode diminuir na presença de elevados níveis de stress. Como contrariar isto?
  • Procure um ambiente tranquilo e uma posição confortável para amamentar, (idealmente em contacto pele a pele com o bebé, barriga com barriga, mantendo a cabeça do bebé alinhada com o resto do corpo), estimule a abertura da boca e leve o bebé à mama, e não o inverso. Respire fundo, inspirando o cheirinho do seu bebé e se necessário coloque alguma música que a acalme. Tudo isto promove uma boa pega (o bebé fica com a boca bem aberta, o queixo junto à mama, o lábio inferior virado para fora e a aréola será mais visível acima do lábio superior do que do inferior) e ajuda a aumentar a produção de ocitocina.

“Devo comer Y para aumentar
a produção de leite”

  • A alimentação materna tem pouca ou nenhuma influência na composição nutricional do leite materno ou no seu volume. A produção de leite é estimulada principalmente pela sua ingestão (acaba por funcionar um pouco como a lei de mercado: quanto maior a procura, maior a oferta).
  • Por isso, não defina um horário rígido para as mamadas, deixando que seja o bebé a pedir, garanta o esvaziamento da mama antes de passar para a seguinte (é principalmente quando ela fica vazia que dá o sinal para produzir mais) e na mamada seguinte comece pela mama que deu em último lugar (coloque um elástico no pulso correspondente para não se esquecer).
  • É muito importante que mantenha um estado nutricional adequado, um estilo de vida ativo, hidratação adequada (cerca de 2,7L de água por dia) e uma dieta variada e equilibrada. Contudo, não deve reforçar a ingestão de nenhum alimento em específico (ex.: leite e derivados, bacalhau) para melhorar a qualidade ou quantidade do seu leite.
  • Atenção: as necessidades nutricionais estão muito elevadas nesta fase (equivalentes ao final da gravidez) pelo que esta não é a altura para fazer dietas- se não comer o suficiente, pode ficar desnutrida e/ou comprometer a produção de leite.
    A amamentação por si só acaba por facilitar a perda de peso porque vai buscar às reservas de gordura acumuladas na zona das ancas e coxa durante a gravidez a energia que precisa para produzir o leite materno.
  • E bem sei que nesta altura a principal preocupação de todos é com o bem-estar do bebé, mas nunca deixe de cuidar de si primeiro.
    Para o bebé estar bem, é necessário que os seus cuidadores estejam bem. Assim sendo, antes de dar de mamar tenha o especial cuidado de fazer um lanche que contenha hidratosde carbono (ex.: pão, aveia, tortitas de milho), proteína (ex.: leite,queijo, iogurte, tremoços, húmus de grão) e água. “Se comer X enquanto amamento,
    o bebé vai ter cólicas”
  • É muito frequente associar a alimentação da mãe às cólicas do bebé que surgem geralmente após as 2 semanas de vida. Isto leva a que quase todas as mães evitem vários alimentos durante a amamentação para prevenir a cólica.
  • Na realidade, não existe evidência científica suficiente que comprove que a evicção de determinados alimentos na alimentação da mãe melhore a cólica do bebé.
  • Aquilo que a mãe come influencia sim o sabor do seu leite. Por este motivo, nenhum alimento deve ser evitado, bem pelo contrário. A riqueza destas experiências sensoriais precoces leva à criação de memórias do sabor desses alimentos e a uma melhor aceitação durante a fase de introdução alimentar, promovendo inclusive a curiosidade por alimentos novos.
  • “Mas sempre que como X o bebé fica muito pior das cólicas”. Então aí sim, podemos evitar esse alimento durante uns dias e ver se efetivamente notamos melhorias no bem-estar do bebé.
  • A minha recomendação em relação às cólicas é a seguinte: O facto de a ciência ainda não ter encontrado nenhuma relação entre a alimentação da mãe e as cólicas do bebé não quer dizer que esta relação não exista. No entanto, não deixe de comer certos alimentos apenas porque ouviu dizer que agravam as cólicas.
    Experimente primeiro comer de tudo e, se verificar que sempre que come um certo alimento o seu bebé se sente pior, então deixe de o comer durante uns dias. Se o bebé se mantiver com queixas, pode não estar relacionado com o alimento e ter sido apenas uma coincidência, por isso à partida pode voltar a consumi-lo.

Lia Correia

Ficou com dúvidas? Precisa de ajuda? Mande-me um email (crescercomsabor@gmail.com) ou uma mensagem através das redes sociais (@crescercomsabor), ou marque uma consulta de nutrição comigo na Crescer com Sabor (Rua Padre José Joaquim Rebelo, 4C 9500-782).

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