Os promotores das eleições regionais dos Açores, realizadas a 4 de fevereiro corrente, acabaram por provocar o chamado efeito bumerangue, pois o tiro saiu-lhes pela culatra.
É factual que quem ganhou as eleições nas sondagens, as perdeu nas urnas.
Contudo, a RTP Açores – com comentadores continentais em estúdio em plena noite eleitoral açoriana, o que é inédito e lamentável – quis pôr a tónica na não obtenção da maioria absoluta.
Esta tentação, porém, não passou de uma iniciativa frustrada e viciada em persistir numa forma básica de contrariar aquilo que o eleitorado acabara de dizer, ou seja, de quem queria que assumisse a liderança governativa da Região Autónoma dos Açores.
Aliás, para o cidadão comum, se houver eleições daqui a 6 meses a Coligação obterá maioria absoluta.
Nota-se que muitos dos concorrentes a eleições sofrem de uma crónica impossibilidade real para aceitar os resultados expressos, sempre que estes não lhes surgem de feição.
Trata-se, há que reconhecê-lo, de uma perfeita e caricata alergia, na medida em que enchem a boca com a vontade democrática de quem detém a soberania e depois assiste-se ao que se ouve e vê, isto é, à não-aceitação do que foi escrutinado.
Esta recorrente atitude, no caso atual, nem é justificável pelo excesso de nervosismo gerado com a proximidade das eleições para a Assembleia da República, pois, pura e simplesmente, deve ser sempre condenável.
Tudo isto, porque os episódios que se seguem implicam a obrigação de se cumprir a democracia, ou seja, de deixar governar quem ganhou as eleições.
Em 2020, por exemplo, quem teve mais votos, ao não assegurar o número suficiente de mandatos, viu-se relegado para a oposição, na medida em que foram os partidos entretanto coligados que reuniram condições para se apresentar como solução governativa.
Agora, e a bem da Região, quem ganhou sente-se legitimado para prosseguir na governação, em virtude de as posições de outras forças políticas estarem condicionadas pela clareza do veredito popular e pelo facto de as eleições terem sido perdidas por quem as antecipou.
Em boa verdade uma maioria relativa, na presente conjuntura, representa um desiderato razoável na justa medida daquilo que, inequivocamente, o bom senso aconselha.
Evidentemente que, em nome de uma coerência patética, a retórica da negação de quem tem mau perder vai permanecer e manifestar-se ruidosamente, dada a irreprimível tentativa de distorcer o que aconteceu em função do que desejariam tivesse acontecido.
P. S. Digno de registo é o facto de terem votado mais de metade dos inscritos, o que significa que houve uma diminuição da taxa de abstenção.
Angra do Heroísmo,
11 de fevereiro de 2024
José Gabriel da Silveira Ávila