No Mercado da Graça, mais concretamente no 1.º piso, encontramos a Isi’shop, loja de artesanato, pequeno negócio familiar com artigos exclusivos de fabrico próprio e a gosto do cliente.
No local chegamos à fala com Manuel Isidro Gaspar, de 65 anos de idade, mais conhecido por Isidro, que estava na companhia da sua cara-metade e de um dos netos.
O nosso entrevistado optou um dia por trabalhar por conta própria, nesta que foi uma decisão importante na sua vida, depois de ter feito de tudo um pouco no mercado do trabalho. Como empresário em nome individual já leva quase 30 anos de actividade.
Mas, para além de comerciante, Isidro é, do mesmo modo, um exímio artesão, pois muitos dos artigos que ali são vendidos, são da sua autoria.
Com 17 anos conheceu a mulher
Isidro é natural da freguesia da Relva, mas antes de cumprir o serviço militar, que no tempo era obrigatório, conheceu a sua mulher, da freguesia da Fajã de Cima, quando ele tinha 17 anos de idade e ela 16.
Na tropa habilitou-se a conduzir veículos automóveis, quando esteve na Bateria do Pico da Castanheira erguida no contexto da Segunda Guerra Mundial com a função da defesa da cidade de Ponta Delgada, especialmente o seu porto próximo ao Forte de São Brás.
A Relva tinha muita fama de produzir boa batata-doce
“Na minha freguesia só há gente de boa boca”, respondeu Isidro, quando desafiado a recordar a gastronomia de outros tempos. “A Relva tinha muita fama de produzir muito boa batata-doce. Tinha terras e muitas vinhas, mas depois meteram lá muitas vacas, e tudo isto acabou”, acrescentou.
Casado há 43 anos com Maria Jesus, o casal tem uma filha e três netos.
Para começar a ganhar uma vida, Isidro trabalhou com o pai como ajudante de pedreiro, antes de ser profissional responsável pela limpeza e manutenção das vias públicas. “Varredor, com muito orgulho” realça, chegando ainda a ser fiscal no Mercado da Graça, “mas por pouco tempo”.
Como tinha de estar sempre ocupado começa a explorar um quiosque que vendia gelados na Avenida Marginal. Esse quiosque era da fábrica de gelados chamada Gelados Esquimó, gerido por João Carreiro.
No entanto, Isidro era mais ambicioso e queria vender mais alguma coisa, que não só gelados, que João Carreiro não queria e não teve outro remédio senão adquirir outro quiosque, este junto ao Campo de São Francisco.
No Mercado da Graça começaram
por vender fruta
No entretanto, e quando era varredor, Isidro conseguiu um espaço para a mulher começar a trabalhar no Mercado da Graça, que é onde Maria Jesus continua, passado todo este tempo, a loja n.º 1.
O nosso entrevistado só começa a trabalhar com a mulher passados alguns anos, mais concretamente aquando da presidência de Mário Machado (já falecido), na Câmara Municipal de Ponta Delgada, entre 1989 e 1992.
No tempo só vendiam fruta, mas como as vendas ficavam aquém das expectativas começaram a vender artesanato, revelando-se então muito mais rentável.
Surgem assim, t-shirts, aventais, sacos de pão, porta-chaves, ímanes, pratos decorativos, caixas para chás e até búzios com desenhos diversos e expressões açorianas.
“Eu sou chef 5 estrelas” ou “Corisca mal amanhada” são algumas frases de alguns aventais pintados por Isidro, chamando ainda a atenção o pião, que era um brinquedo de outros tempos, mas que ali tem.
Diogo Rocha é um dos netos do casal, que tinha “muito gosto em poder continuar com o negócio dos avós”, realidade, que o avô nem gosta de todo. “Preferia, que ele tocasse outro tipo de música”, justificando, que por “estes dias não há muito movimento, a não ser à Sexta-feira e ao Sábado”.
Marco Sousa