As linguagens de programação desempenham um papel fundamental na criação de software que permite a resolução de problemas complexos. São essenciais para atender às exigências da tecnologia contemporânea e impulsionar a inovação e o desenvolvimento de aplicações e sistemas em diversos setores indispensáveis para a infraestrutura digital da sociedade moderna (sistemas operativos, aplicações móveis, plataformas sociais, serviços de computação em nuvem, …), permitindo aos cidadãos, organizações e comunidades, inovar, colaborar e prosperar num mundo cada vez mais digital e interligado.
Com o aumento da quantidade de dados e a necessidade de processamento em tempo real, as linguagens de programação atuais devem ser capazes de oferecer alto desempenho e eficiência computacional: capacidade de executar rapidamente algoritmos complexos e processar grandes volumes de dados de forma eficiente. Por outro lado, para assegurar que os programadores são produtivos, devem ser acessíveis e fáceis de aprender: possuir uma sintaxe limpa e intuitiva, ferramentas e recursos que facilitam o desenvolvimento e a depuração de código, além de serem flexíveis o suficiente para suportar vários paradigmas de programação. Com a crescente e justificada preocupação com a segurança digital e integridade dos dados, as linguagens de programação devem ainda oferecer recursos e práticas que ajudem a proteger os sistemas contra ameaças e vulnerabilidades: técnicas de codificação segura, gestão de memória eficiente e robusta e ferramentas de análise estática. Com o aumento do processamento paralelo e distribuído e a variedade e diversidade de plataformas e ambientes de execução, exige-se também que suportem a integração com outras linguagens e tecnologias para permitir, mais facilmente, a construção de sistemas complexos e distribuídos.
Ao longo da sua evolução, registou-se uma progressão em direção a linguagens mais expressivas, seguras, eficientes e adaptáveis, refletindo as necessidades e exigências da indústria, da tecnologia e da comunidade de desenvolvimento de software. Atualmente, o cenário é diversificado e em constante aperfeiçoamento, com uma ampla variedade atendendo às diferentes necessidades e preferências dos desenvolvedores.
As linguagens de programação mais utilizadas atualmente podem variar de acordo com o contexto e as métricas consideradas, tendo, cada uma, as suas próprias caraterísticas, comunidades de desenvolvedores, áreas de aplicação e os seus pontos fortes e fracos.
Por exemplo, a linguagem Python, uma das mais utilizadas mundialmente, é uma linguagem de programação de alto nível valorizada pela sua sintaxe clara e legível, o que a torna adequada para uma ampla variedade de aplicações. Possui um vasto ecossistema de bibliotecas e frameworks, além de uma comunidade ativa de desenvolvedores, favorecendo a sua utilização em áreas tão diversas como desenvolvimento Web, ciência de dados, automação e inteligência artificial. No entanto, é uma linguagem interpretada e tipada dinamicamente, o que pode resultar num desempenho inferior em comparação com linguagens compiladas, especialmente para operações de utilização intensiva de CPU (Central Processing Unit).
Outra linguagem muito utilizada, JavaScript, é largamente aplicada para desenvolvimento Web, em função da sua capacidade de criar interações dinâmicas e responsivas em conteúdos Web. Com suporte em todos os principais navegadores, é a linguagem padrão para o desenvolvimento de front-end, mas também é muito utilizada no desenvolvimento de back-end (Node.js). As suas principais vantagens incluem a capacidade de programação assíncrona, um conjunto diversificado de frameworks e bibliotecas e uma comunidade ativa de desenvolvedores. No entanto, a tipagem fraca e dinâmica pode levar a erros difíceis de depurar e as peculiaridades da linguagem podem resultar em comportamentos inesperados.
Na lista das linguagens de programação mais populares e mais utilizadas, destaca-se também a linguagem Java, muito utilizada no desenvolvimento de aplicações empresariais, sistemas de grande escala, aplicações Android e jogos devido à sua portabilidade, segurança e robustez. Apresenta, no entanto, alguns pontos fracos, nomeadamente a sintaxe que pode dar origem a código extenso e pouco legível e, embora tenha melhorado ao longo dos anos, ainda pode ter um desempenho relativamente mais baixo em comparação com linguagens de baixo nível. A utilização da JVM (Java Virtual Machine) pode adicionar overhead de memória e inicialização, especialmente para aplicações mais simples, o que pode afetar a eficiência em cenários de recursos limitados.
O ideal para os pesquisadores e programadores seria encontrar uma linguagem de programação que pudesse satisfazer todas as suas exigências e necessidades. Neste sentido, a linguagem de programação Julia foi lançada em 2012 sob a licença open source do MIT (Massachusetts Institute of Technology), como uma proposta ousada para substituir todas as linguagens de computação científica. Na verdade, resulta da insatisfação dos seus criadores (Stefan Karpinski, Jeff Bezanson, Alan Edelman e Viral Shah, cofundadores da startup Julia Computing) com as opções disponíveis, na época, para computação técnica: pretendiam uma linguagem que oferecesse desempenho comparável ao C e ao Fortran, mas com a facilidade de uso de linguagens como Python e MATLAB.
Julia é reconhecida pelo seu desempenho excecional. Carateriza-se pelo seu sistema de tipagem dinâmica, permitindo igualmente a especificação de tipos para otimização de código. Além disso, possui um compilador JIT (Just-In-Time) que traduz o código em tempo de execução para linguagem máquina, resultando num desempenho comparável ao de linguagens tradicionalmente mais rápidas, como C e Fortran, tornando Julia ideal para computação intensiva, especialmente em tarefas científicas e de análise de dados. Como foi projetada para ser intuitiva e fácil de aprender, possui uma sintaxe limpa e expressiva que facilita a leitura e a escrita de código: a semelhança com linguagens populares como Python e MATLAB torna mais fácil para os desenvolvedores migrarem para Julia e começarem a escrever código rapidamente. De igual modo, é altamente flexível e oferece suporte a múltiplos paradigmas de programação (programação imperativa, funcional e orientada a objetos).
Apesar de ser uma linguagem relativamente jovem, possui uma comunidade ativa e crescente de desenvolvedores, que contribuem para o seu desenvolvimento, suporte à comunidade e criação de pacotes para uma variedade de aplicações, incluindo matemática, estatística, aprendizagem máquina, visualização de dados, entre outros. Por outro lado, oferece interoperabilidade com outras linguagens de programação, como Python, R e C, permitindo que os desenvolvedores aproveitem bibliotecas existentes e integrem facilmente código de diferentes linguagens. Neste contexto, tem uma ampla gama de aplicações em diversas áreas, nomeadamente, ciência de dados e análise estatística, computação científica e matemática, aprendizagem máquina e inteligência artificial e mesmo desenvolvimento de aplicações Web.
Julia é muito utilizada em ciência de dados e análise estatística devido à sua capacidade de lidar com grandes conjuntos de dados e realizar cálculos complexos de forma eficiente. Também é particularmente adequada para problemas de computação científica e matemática, incluindo simulações numéricas, modelagem matemática, otimização e visualização de dados. Da mesma forma, está a ganhar popularidade no campo da aprendizagem máquina e da inteligência artificial devido à sua velocidade de execução e flexibilidade. Embora não seja muito comum, a linguagem Julia também pode ser usada para desenvolvimento de aplicações Web, particularmente em áreas que exigem cálculos intensivos do lado do servidor.
Embora a escolha da linguagem de programação mais adequada para um determinado projeto depender essencialmente dos requisitos do projeto, das preferências pessoais dos programadores e do ecossistema de desenvolvimento disponível, Julia é uma linguagem promissora que combina desempenho excecional com uma sintaxe amigável e expressiva, escalabilidade e código aberto, sendo, assim, uma escolha atrativa para cientistas, engenheiros e desenvolvedores.
Isaura Ribeiro