Depois de se destacar nas camadas jovens do Clube Desportivo Operário, Apolo Caetano foi em busca do seu sonho para o continente. Depois de um ano a jogar no Figueirense, chegou ao seu actual clube, o Futebol Clube do Porto. Aos 16 anos já se estreou pela equipa principal e nas competições europeias. Ao Correio dos Açores fez um balanço da sua estadia no FC Porto, indicou quais são os seus objectivos e explicou que “a saudade da família nunca acaba, aprendemos é a viver com ela”
Correio dos Açores – Pode nos falar do seu percurso como atleta?
Apolo Caeteano – Desde que me lembro que jogo basquete. A minha mãe foi jogadora e treinadora de basquete, então eu comecei a jogar no Clube Desportivo Operário até aos sub-14. No primeiro ano dos sub-16 fui convidado para ir para o centro de treino em Ponte-de-Sor. No centro de treinos, treinávamos durante a semana e depois íamos jogar para os nossos clubes e, como não tinha possibilidade de vir todos os fins-de-semana a São Miguel, joguei no Ginásio Figueirense, na Figueira da Foz. No ano seguinte mudei de clube, continuando a treinar no centro de estágio, e fui jogar para os sub-16 do Futebol Clube do Porto.
Esta época decidi ficar a tempo inteiro no Futebol Clube do Porto, onde jogo nos escalões de sub-18 e seniores.
Na sua opinião, quais são as principais diferenças entre o C. Operário D. e o F.C. Porto?
A principal diferença é a parte da competição. Não há competição nas ilhas, em geral. Em São Miguel existem quatro clubes, e apenas dois têm o meu escalão aberto. Se continuasse a jogar em São Miguel, iria estar sempre a jogar contra os mesmos e iria perder a competitividade que existe no continente. Em termos de condições de treino não acho que existam assim tantas diferenças, falando na formação. Se falarmos em termos de condições de treino a nível sénior, obviamente que existirão diferenças a nível de treino uma vez que estou a jogar no Futebol Clube do Porto.
Acho que é geral quer em termos de condições de treino e de treinadores aqui o continente e que não é muito diferente. É mesmo a parte da competitividade, mas isso são coisas que não se conseguem fazer assim.
Como foi estrear-se na equipa principal do F.C. Porto já nesta época?
Foi um sonho tornado realidade. Não é muito comum atletas de 16 anos a estrearem-se em contexto de Liga. Foi ver o meu trabalho recompensado e foi um momento mesmo muito feliz para mim.
Também já se estreou nas competições europeias. O sentimento de estreia foi o mesmo?
É um sentimento muito diferente. Estrear-me nas competições europeias este ano foi uma surpresa, não estava à espera. No início da época não era suposto eu participar nas competições europeias, já tínhamos os jogadores inscritos que iam participar na competição. Já ir ao banco nas competições europeias para mim já era muito, quanto mais chegar a entrar mesmo num jogo. Na Liga sabia que ia ser uma questão de tempo até me estrear, ao contrário das competições europeias.
Participou na NBA Academy. Pode falar-nos um pouco do estágio e como correu?
Foi em Janeiro do ano passado. Durou cerca de uma semana, em Paris, onde treinamos e jogamos muito. Pessoalmente acho que me beneficiou devido aos jogadores que encontrei. Encontrei lá dos melhores jogadores da minha geração. Eram jogadores muito mais fortes e muito mais físicos do que eu, sentia-me muito pequeno ao lado deles.
Esta participação ajudou-me a melhorar, mas também mostrou-me o nível a que eu aspiro chegar e o que tenho de fazer para lá chegar.
Quais são os objectivos para esta época a nível pessoal e a nível de equipa?
Os objectivos do Futebol Clube do Porto a nível sénior são simples: queremos ganhar tudo, todas as competições. Temos agora a final a quatro da Taça de Portugal e estamos nos quartos -de-final das competições europeias. Nos sub-18 começamos agora o nacional onde o primeiro objectivo é chegarmos à fase final e depois queremos ser campeões.
A nível individual o meu objectivo, para além de continuar a somar minutos nos dois escalões, é ir à selecção nacional sub-18, que irá disputar um torneio no Verão. O ano passado participei pela selecção sub-16 nacional e agora estou a trabalhar para ser convocado à selecção nacional sub-18.
A selecção nacional sénior é um objectivo? É um objectivo, mas não agora. Ainda não é algo que possa ser real. Representar o país, pela selecção nacional, representa o topo.
O Neemias Queta é um exemplo a seguir?
Sim, eu admiro muito o Neemias e a força de vontade que teve. Se virmos o percurso que ele teve no início, ele não era o melhor do país aos 15 ou 16 anos. O facto de ser o que é, e de ainda ter muito para evoluir, faz dele um exemplo a seguir.
Em jovem praticava atletismo ao mesmo tempo que praticava basquete. Foi difícil optar por uma modalidade em detrimento da outra?
Foi muito difícil, mais do que o que estava à espera. Eu gostava muito de praticar atletismo, gostava muito de correr. Não era aquele desporto que fazia apenas por fazer, gostava mesmo. Comecei por fazer só uma corrida e acabei por continuar, ainda hoje sinto, às vezes, sinto vontade de correr. Sinto saudades da emoção que sentia antes de começar uma prova.
O facto de praticar atletismo deu-lhe uma melhor preparação física para o desporto de alta competição?
Sem dúvida. Por exemplo na técnica de corrida o atletismo foi fundamental. Para um jogador do meu tipo, base que normalmente é mais pequeno e rápido, onde tenho que estar muito disponível fisicamente, o atletismo ajudou-me muito. Mesmo em termos de explosividade o atletismo foi fundamental.
A adaptação ao continente, como foi?
Os primeiros tempos foram muito complicados, especialmente porque tinha 14 anos. Mas como os meus pais não são naturais de São Miguel, e também tiveram que sair de casa muito cedo, sempre me educaram para sair de casa cedo. A saudade nunca acaba, o que fazemos é aprender a viver com isso. Acho que é para um bem maior.
Apesar da distância a sua família está sempre presente. Este apoio é muito importante para si?
Claro que sim. Os meus pais fazem de tudo para poder vir ver. Quando fomos campeões distritais eles estiveram cá a ver. Sei que estão sempre a acompanhar e quando não podem ver, passam mal até saberem o resultado. Nos seniores fica mais fácil de saberem e de verem os jogos, mas por exemplo no ano passado era muito difícil para eles até saberem os resultados.
A sua irmã Zora pode seguir os seus passos?
Ela também joga basquete e joga bem. Nós somos um pouco diferentes um do outro. No passado gostava que ela fosse jogar basquete, mas agora só quero que ela seja feliz. Se quiser continuar a jogar basquete tudo bem, senão quiser também está tudo bem. Será sempre a minha menina.
Que sonho é que gostaria de realizar?
O meu sonho máximo é chegar à NBA, disso não há dúvida. Também gostava de jogar em boas ligas da Europa, mas o sonho mesmo é jogar na NBA.
Frederico Figueiredo