As romarias quaresmais iniciam-se no Sábado dia 17, por volta das 5h30 da madrugada e a expectativa é a “de um regresso à normalidade com números semelhantes aos de antes da pandemia”, afirma ao Sítio Igreja Açores João Carlos Leite, Presidente do Movimento de Romeiros de São Miguel- Associação.
Os primeiros ranchos partem sempre no primeiro Sábado da Quaresma, para percorrerem as “casas” de Maria, durante uma semana inteira, a andar do nascer ao por do sol, rezando o terço. Este ano dos 11 que andarão na estrada na primeira semana da Quaresma, nove partem no sábado e dois no domingo, sendo que um deles é o de Santa Maria de Toronto, o primeiro de dois ranchos da diáspora açoriana.
“Este ano temos a grata informação de perceber que há mais irmãos na estrada e, sobretudo, crianças, o que nos alegra” afirma ainda o dirigente dos romeiros.
“Este interesse pela Romaria Quaresmal deve fazer-nos pensar sobre a nossa responsabilidade nas comunidades onde estamos” diz ainda João Carlos Leite, sublinhando a dimensão social deste carisma.
“Temos de aproveitar esta onda e esta relação que estabelecemos entre nós e os párocos, cada vez mais entrosados com as romarias, de forma a sermos agentes ativos e comprometidos com a realidade social que nos envolve, não só nesta semana de caminhada espiritual e penitencial mas também durante todo o ano”.
“Ser cristão é estar envolvido na vida concreta dos nossos irmãos”, conclui.
O envolvimento dos sacerdotes nas Romarias Quaresmais é cada vez maior. Além de integrarem os ranchos das comunidades que orientam como romeiros, muitos não podendo fazer a Romaria estão presentes na celebração diária da eucaristia quando o rancho está na estrada e todos participam pelo menos no dia do encontro com as famílias, animando as meditações dessa hora.
“Temos de aproveitar esta relação porque isto é ser Igreja”, referiu ainda João Carlos Leite.
… as intenções do Bispo de Angra
Este ano, o Bispo de Angra volta a insistir em 12 preces: “Pela Paz na Ucrânia e na Terra Santa; Pelas pessoas e famílias sem habitação adequada; Pelos jovens que caíram nas garras da droga ou estão em risco; Pela santidade dos sacerdotes, religiosas, religiosos e leigos; Pelas vítimas da violência doméstica; Pela Unidade entre as 9 ilhas; Pelos jovens que foram crismados; Pelos desempregados e jovens que ainda não conseguiram o primeiro emprego; Pelas intenções e saúde do Santo Padre; Pelas nossas autoridades e pelo futuro Governo regional dos Açores; Pelos nossos velhinhos que vivem em família ou em lares de acolhimento para que se sintam amados e acompanhados e pelo Itinerário Pastoral e todos os leigos empenhados na pastoral diocesana”.
“Em cada dia rezarei pelo Movimento dos Romeiros de São Miguel e por cada um dos que fazem a romaria”, salienta D. Armando Esteves Domingues.
“Oxalá este caminho de penitência e conversão vos traga a alegria do Crucificado e possais cantar o mais belo Aleluia Passcal das vossas vidas com as famílias, amigos, comunidades paroquiais”, termina o Bispo de Angra.
É a segunda romaria que se vive nos Açores, depois de quase três anos de in-terregno. Este ano sairão 56 grupos, dois deles da diáspora.
Os ranchos devem cumprir um percurso, sempre com mar pela esquerda, passando pelo maior número possível de igrejas e ermidas de São Miguel, a pé, durante uma semana, começam a andar antes de o nascer do sol e terminam ao pôr-do-sol, onde são acolhidos pelas famílias, nas suas casas ou outros espaços.
Os homens usam um xaile, um lenço, um saco para alimentos, um bordão e um terço, entoando cânticos e rezando, recolhem intenções que vão sendo partilhadas ao longo da estrada, sobretudo dentro das localidades.
… um retiro espiritual
Na hora da saída da Romaria, o Movi-mento Romeiros de São Miguel- Associação deixa uma série de recomendações aos irmãos.
“Aproveitemos este recomeço num momento em que se vivem ainda tantas provações como duas guerras e misérias humana para levar a esperança de Jesus, o peregrino que passou a fazer o bem por todos, revelando a verdadeira essência das nossas romarias” diz o Movimento.
“A romaria é como um retiro espiritual, em que o romeiro procura conhecer-se melhor, no exemplo e verdade da palavra e da vida em Cristo”, prossegue recordando que “O romeiro deverá ser um verdadeiro exemplo de retidão. Na caminhada reza e leva aos outros a boa nova do amor, da fraternidade e da misericórdia”.
Ser romeiro “mais do que receber é dar, dar de forma desprendida, genuína e autêntica. Cuidemos tudo o que damos ao irmão, cuidemos da casa comum e usemos da humildade”, referem ainda os dirigentes dos romeiros.
A segurança é uma “preocupação” aconselhando-se o uso de coletes reflectores e de lanterna que sinalizem a presença do grupo.
No ano pastoral 2022/2023, os romeiros de São Miguel comemoraram os ‘500 anos das Romarias Quaresmais’, que tiveram origem na sequência de terramotos e erupções vulcânicas registados no século XVI nesta ilha, que arrasaram Vila Franca do Campo e causaram grande destruição na Ribeira Grande, em 1522.
Nas ilhas Terceira e São Jorge sairão também dois grupos de homens procurando realizar a romaria tal como se faz em São Miguel. Também grupos de senhoras nestas duas ilhas, tal como em São Miguel, percorrerão as estradas da ilha em romaria quaresmal.
IA