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“A independência, os relacionamentos amorosos e o emprego são as principais dimensões onde pessoas com Síndrome de Asperger podem encontrar maiores adversidades na idade adulta”

“Uma sociedade empática, compreensiva e capacitada para oferecer apoio contínuo é essencial para ajudar as pessoas com Perturbação do Espectro do Autismo a alcançar o seu pleno potencial e qualidade de vida. Contemplar uma resposta inclusiva e de suporte aos seus cuidadores é, igualmente, imprescindível para o bem-estar e funcionalidade de todo o ecossistema que envolve a pessoa com Síndrome de Asperger”. Quem o diz é Tânia Botelho, coordenadora do Núcleo de Investigação e Intervenções Terapêuticas Especializadas, a propósito do Dia Internacional da Síndrome de Asperger, uma forma de autismo leve que foi descrita pelo pediatra austríaco Hans Asperger em 1944.

Correio dos Açores – Tendo o NIITE o selo de certificação em Autismo, que relevância atribui ao Dia Internacional da Síndrome de Asperger?
Tânia Botelho (Coordenadora do Núcleo de Investigação e Intervenções Terapêuticas Especializadas) – Enquanto clínica internacionalmente certificada em Autismo, e sendo o Síndrome de Asperger conhecido como uma condição do alto funcionamento da Perturbação do Espectro do Autismo (PEA), é uma responsabilidade nossa informar e sensibilizar a comunidade para as necessidades e desafios enfrentados pelas pessoas com este diagnóstico, ao longo da vida, e que podem ser significativos, merecendo uma atenção especial, nomeadamente no que diz respeito à saúde mental.
Neste sentido, a nossa actuação passa por promover acções de consciencialização, através de eventos educativos ou campanhas nas redes sociais para aumentar o conhecimento sobre a síndrome de Asperger, os seus sintomas, desafios e recursos disponíveis. Acções de âmbito educativo, como palestras ou workshops para pais, cuidadores, profissionais de saúde e educadores sobre estratégias de apoio e intervenções são igualmente eficazes na melhoria da qualidade de vida destes indivíduos.
Através da nossa equipa clínica e técnica qualificada, disponibilizamos recursos como intervenções especializadas; avaliações diagnósticas e promovemos a inclusão e a aceitação de pessoas com Síndrome de Asperger na comunidade, escola e local de trabalho, partilhando orientações e recursos para criar ambientes inclusivos e acessíveis.

Quais são os sinais de alerta?
Desde tenra idade, as crianças com Síndrome de Asperger podem enfrentar dificuldades na comunicação, na compreensão das emoções dos outros e na adaptação a novas situações do quotidiano. Essas dificuldades podem traduzir-se em alterações/desvios na aquisição de competências do desenvolvimento dito normativo e a experiências de isolamento, bullying e ansiedade na escola e em outros ambientes sociais. É crucial que a família, cuidadores e educadores estejam cientes das necessidades específicas dessas crianças e disponibilizem ou procurem o apoio necessário.
Com a entrada na adolescência, enfrentam-se desafios adicionais relacionados à identidade e à integração social. Nesta fase, os adolescentes com Síndrome de Asperger podem sentir-se excluídos e incompreendidos pelos colegas, lutando para encontrar um sentido de pertença e desenvolver amizades significativas. É fundamental fornecer oportunidades de socialização estruturadas e apoio para desenvolver competências sociais, auto-estima e autonomia durante esse período crucial do desenvolvimento.
Na idade adulta, a independência, os relacionamentos amorosos e o emprego são as principais dimensões onde as pessoas com Síndrome de Asperger podem encontrar maiores adversidades. Manter empregos adequados às suas habilidades e interesses pode ser um processo realmente difícil e moroso. O exercício de uma profissão, por parte de uma pessoa com diagnóstico de Perturbação do Espectro do Autismo, pode encontrar-se comprometido, inclusivamente, devido à falta de flexibilidade para a resolução de conflitos e para a realização de cedências que naturalmente se impõem no âmbito dos relacionamentos interpessoais. Estas dificuldades são acrescidas, sobretudo, nos casos em que as limitações ao nível da comunicação e interacção social surgem a par de outras características que se relacionam com resistência à mudança, ou com dificuldades na integração de estímulos sensoriais.
Nesta fase da vida, as normas sociais e as expectativas convencionais, por parte de colegas do trabalho ou dos parceiros, podem levar à interpretação de determinados comportamentos – característicos da sintomatologia da Síndrome de Asperger – como inadequados. Ter consciência destes desafios pode ajudar tanto a pessoa com diagnóstico de Asperger, como os parceiros, a lidar melhor com a complexidade de determinadas atitudes e emoções. Hoje em dia, verifica-se uma maior disponibilidade das famílias e dos próprios em recorrer a este apoio especializado numa perspectiva de prevenção e de promoção de competências e de estratégias de superação.

Como se lida com pessoas com Síndrome de Asperger?
Ao longo de todas as fases da vida, é fundamental reconhecer e abordar as questões de saúde mental que afectam as pessoas com Síndrome de Asperger. Muitos indivíduos com este diagnóstico sofrem de ansiedade, depressão, dificuldades de adaptação, entre outras comorbilidades do foro da saúde mental e do funcionamento adaptativo.
Oferecer acesso a serviços de saúde mental sensíveis às necessidades das pessoas com Perturbação do Espectro do Autismo, terapeutas, intervenções e grupos de apoio pode ajudar a garantir o suporte necessário para a superação de desafios emocionais e psicológicos. Uma sociedade empática, compreensiva e capacitada para oferecer apoio continuo é essencial para ajudar as pessoas com Perturbação do Espectro do Autismo a alcançar o seu pleno potencial e qualidade de vida. Contemplar uma resposta inclusiva e de suporte aos seus cuidadores é, igualmente, imprescindível para o bem-estar e funcionalidade de todo o ecossistema que envolve a pessoa com Síndrome de Asperger.

Que mensagem quer deixar neste dia dedicado a esta condição?
No Dia Internacional da Síndrome de Asperger, gostaríamos de dar ênfase à compreensão e aceitação da neurodiversidade, estimulando, por parte de toda a comunidade e principais entidades responsáveis na mesma, para a promoção de atitudes, ambientes e oportunidades onde todos se sintam incluídos e valorizados.

Carlota Pimentel 
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