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“Um dia irei treinar o Santa Clara”, afirma Mauro Jerónimo, treinador no Vietname, depois de passar pelo Chipre e China

Depois de ter passado por Portugal, Chipre e China, Mauro Jerónimo encontra-se, actualmente, a treinar no Vietname. Com o objectivo de tentar a subida à primeira divisão local, assume o desejo de um dia treinar o Clube Desportivo Santa Clara e afirma: “sou um treinador do mundo”.

Correio dos Açores – Pode falar-nos sobre o seu percurso como treinador?
Mauro Jerónimo (treinador) – O meu percurso iniciou-se nas escolas do Benfica como treinador de sub-12,13,14 no Seixal. Foi a minha primeira experiência, no início como estagiário e depois passei a permanente. Como na altura estudava na Faculdade de Desporto, o meu colega de curso, Pedro Alegria, era treinador há vários anos convidou-me para trabalhar com ele.
Depois, tive a sorte de trabalhar como treinador adjunto dos sub-19 do Vitória de Setúbal no campeonato nacional, com o mister Quim, que já tinha sido meu treinador nos juniores do Vitória. Nessa equipa tínhamos uns meninos chamados Ricardo Horta (actual capitão do Braga) e Rúben Vezo (jogador do Levante). Era uma geração muito boa.
Depois, trabalhei duas épocas como adjunto do mister Barão, no Pinhalnovense, e Quim, na equipa sénior que disputava Segunda Divisão B na altura. Já tinha acabado a minha licenciatura, a seguir comecei a emigrar e nunca mais parei.
Trabalhei no Chipre, em Paphos, com os sub-19, depois fui para a China para trabalhar com a Academia do Figo. Após essa experiência, recebi um convite de uma equipa da China League Two chamada Fujian Broncos, e tive a minha primeira experiência como treinador principal de seniores e ao mesmo tempo treinava a selecção nacional de Taiwan sub-19 e sub-23. Acumulei dois trabalhos durante algum tempo. Só após a China é que fui para o Vietname, a convite do mister Philippe Troussier ,treinador francês que era o director técnico da PVF, e treinei dois anos os sub19 da PVF Academy, considerada pelo FIFA-AFC a 3ª melhor academia de futebol da Ásia. Actualmente sou treinador da equipa principal da PVF-CAND na V-League 2.

Fez a formação como jogador de futebol. É muito diferente ser-se jogador e treinador?
Sim uma diferença gigante… Ser jogador é prazer puro, e pouca responsabilidade, ser treinador é resolver problemas todos os dias, e é uma acumulação de muitas responsabilidades fundamentalmente se se for treinador principal. No entanto, adoro ser treinador, e tenho um grande prazer ver os jogadores evoluírem nas suas carreiras, e ao mesmo tempo do desafio de formar uma equipa com as minhas ideias, e ver todos a cooperar e a lutar em prol de um objectivo comum.
Resumindo, tornei-me treinador pela paixão que tenho pelo futebol, pelo prazer que sinto em trabalhar com pessoas e tentar contribuir para evolução de todos, e por fim, pela minha ambição e competitividade de trabalhar todos os dias para ganhar e conquistar títulos.

Quais são as principais diferenças culturais entre os países onde trabalhou?
Bem, no Chipre existe uma cultura muito parecida com a portuguesa, no entanto, são mais fanáticos do que os portugueses nos jogos de futebol. Adorei a gastronomia cipriota muito influenciada pela Grécia e Turquia. Na China, Taiwan e Vietname estamos a falar de uma cultura oriental, onde vivem milhões e milhões de pessoas, onde tudo é rápido, caótico mas de uma maneira organizada (um pouco como uma equipa de futebol), onde a gastronomia, a comunicação, hábitos de convivência são totalmente diferentes dos nossos. Por exemplo, no Vietname, antes de todos os jogos de todas as ligas, toca o hino nacional no campo e com a bandeira do país, só depois disso o jogo se inicia. Existe um grande patriotismo e uma paixão frenética pelo futebol e selecção nacional.

A adaptação a estes países foi difícil?
Para mim não foi. Eu sai pela primeira vez da ilha de São Miguel para ir para Setúbal com 18 anos, quando fui jogar para o Vitória de Setúbal. A partir dessa experiência nunca mais parei. Sempre tive uma curiosidade muito grande de conhecer o mundo, e testar-me em diferentes contextos. Claro que a ida para a China, teve um impacto muito grande na minha vida, no entanto, eu sou como um camaleão, consigo rapidamente adaptar-me a qualquer circunstância. Não tenho dúvidas que cresci imenso como ser humano, e como treinador a todos os níveis, pelo facto de já ter vivido em todos esses países. Falo 5 línguas, e isso foi algo que foi crescendo em mim pelo facto de viver fora de Portugal.

Como é trabalhar com o jogador vietnamita?
É muito gratificante. Tem uma resiliência fenomenal, porque jogar durante o ano inteiro com 30-40 graus não é para todos. São apaixonados pelo futebol, têm o futebol de rua no sangue, um pouco como o Brasil, porque as crianças jogam ainda na rua em várias localidades. São jogadores com sede para aprender, geneticamente muito rápidos e com agilidade, e já tem uma boa evolução técnica. Táctica e socialmente têm ainda que evoluir mais para chegar a uma nível do Japão, Coreia ou Europa.

Tenciona treinar em Portugal?
Eu sou treinador no mundo. Quando se tem esta profissão, só quando se atingir um estatuto de alto nível, é que se pode escolher onde se quer trabalhar. No entanto, claro que um dia voltarei a treinar em Portugal, já tive essa possibilidade este ano mas decidi continuar onde estou porque temos um projecto excelente e as condições de trabalho são de top mundial.

Gostaria de treinar nos Açores, uma vez que cresceu aqui?
Um dia irei treinar o Santa Clara, clube onde joguei 10 anos, e onde me formei como pessoa também. Não sei quando ou em que ocasião, mas acredito que um dia irá acontecer.

Quais são, na sua opinião, as principais diferenças entre o jogador vietnamita e o português?
O bom jogador português tecnicamente, tacticamente e em termos de criatividade, é de top mundial. Eu direi que essas três diferenças ainda estão distantes do Vietname. Fisicamente e mentalmente não creio que sejam mais fortes do que os vietnamitas.

Existem muitas diferenças em termos de condições de treino entre Portugal e o Vietname?
Onde eu trabalho especificamente na PVF-CAND, as nossas infra-estruturas são de top mundial, estão a um nível de um Benfica ou Sporting, por exemplo. Mas a grande maioria dos clubes tem condições básicas, mas já estão a evoluir de alguns anos para cá. Cada vez há mais clubes com melhores estádios e infra-estruturas de boas condições.

Já conquistou algum título?
Títulos já conquistei 2 campeonatos consecutivos de sub-19 do Vietname. O ano passado, já como treinador principal da equipa sénior, que tem uma média de idade de 22 anos, fomos às meias-finais da Taça do Vietname pela primeira vez em 18 anos, e terminamos com os mesmos pontos do primeiro classificado na V-League 2 e só não subimos há Superliga por confronto directo. Infelizmente só subia uma equipa no ano passado, mas este ano sobe uma, e há um play-off para o segundo classificado. Vamos tentar novamente.

Quais são os seus objectivos de carreira?
Quero ser treinador de primeira liga, e estar a trabalhar entre os melhores, seja no Vietname ou noutro país. A minha ambição é de continuar a aprender todos os dias, e evoluir com as experiências diárias, sabendo que os resultados são fundamentais para a progressão da carreira de um treinador. Estou confiante pela forma como estamos organizados aqui, a forma como jogamos, a quantidade de jogadores que já foram chamados há selecção. O meu trabalho está a ser valorizado e as oportunidades vão aparecer.

Quer deixar algum conselho a futuros treinadores açorianos?
Posso deixar aqui esta mensagem que resume a minha filosofia e pensamento. Se queres ser bom faz o que os outros fazem, mas se queres ser muito bom, tens que inovar. Para inovares tens que sair da tua zona de conforto, ter coragem, cometeres erros e aprenderes com eles.

Frederico Figueiredo
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