O tempo voa, como diz o nosso povo e, depois das estrelas foi o carnaval, que já lá vai e entramos na quaresma, período tido como mais sombrio do ano, por ser tempo de romarias e peregrinações, que nos preparam para a Páscoa, que está mesmo ali, ao virar da esquina.
Na cultura religiosa, os 40 dias seguintes ao dia das cinzas são considerados como uma preparação para a semana santa, período em que, nós cristãos católicos, nos preparamos para a celebração da Páscoa, pelo que durante 40 dias somos convidados a intensificarmos o jejum, a oração e a caridade.
Li, há dias, a seguinte frase lapidar: “enquanto os confessionários das igrejas se esvaziam, os consultórios dos psicólogos se enchem”. Se aprofundarmos bem a questão, somos confrontados com esta realidade dos nossos dias, pois o crescendo desta prática clínica é uma forma das pessoas procurarem ir ao encontro de algo de novo, de diferente, onde se oferece um espaço de escuta a alguém que apresenta uma necessidade psíquica, um sofrimento interior.
Tal como acontece na confissão sacramental, a ida ao psicólogo oferece um momento no qual, quem sofre sente-se verdadeiramente ouvido na sua dor e bem aconselhado, sentindo-se aliviado e orientado.
De acordo com um trabalho realizado pelo Professor da Universidade Católica, o Pe. João de Deus Costa Jorge, a confissão ou sacramento da penitência tem efeitos terapêuticos e possibilita a recuperação da harmonia, numa tese que apresentou, defendendo que a sua prática tem diminuído devido à perda de consciência e de sentido do pecado, além da resistência do ser humano para reconhecer as suas fraquezas.
Por outro lado, aquele insigne sacerdote denunciou a falta de disponibilidade dos padres para o sacramento, bem como as apressadas confissões em massa realizadas durante a Quaresma e o Advento, para cumprimento do preceito de se confessar pelo menos uma vez no ano.
O Professor João Jorge classificou o perdão como uma experiência sublime da pessoa e sublinhou que a fase final do processo de reconciliação, que consiste na transformação do mal em ocasião de bem, ultrapassa as teorias e práticas psicológicas, hoje em dia muito recorrentes, pois assiste-se a uma procura dos consultórios de psicólogos, numa demonstração da necessidade do ser humano de ser ouvido e desabafar.
Se é certo que prática da clínica da psicoterapia sustenta-se em pressupostos de verdade, interioridade, intervenção e cura e procura a gestão de conflitos e tensões, em que o psicólogo utiliza nem mais, nem menos um legado deixado pela confissão do cristianismo.
De facto, nos últimos anos, observamos uma mudança significativa nos padrões de busca por ajuda e orientação pessoal. Enquanto os confessionários das igrejas e templos parecem estar a enfrentar um declínio gradual na frequência de fiéis que procuram aconselhamento espiritual e confissão, pelo contrário, os consultórios dos psicólogos a procura aumenta. Os motivos para essa mudança são diversos. A sociedade contemporânea enfrenta novos desafios que podem não encontrar respostas prontas nos ensinamentos e nas práticas religiosas tradicionais, pois enfrentam muitos problemas, quer sejam stress no trabalho, relacionamentos pessoais complexos, ansiedade e depressão, para citar apenas alguns exemplos das muitas dificuldades que as pessoas enfrentam em seu quotidiano.
Procuram, assim, a ajuda profissional para lidar com problemas emocionais, em detrimento da ancestral confissão sacramental, o que poderá significar como um sinal de falta de coragem para ter uma direção espiritual e religiosa ou mesmo confessar-se, que permitiria encontrar conselhos preciosos para a sua vida e a sua relação com Deus.
É certo que os psicólogos, com sua formação especializada e abordagem empírica, oferecem um espaço seguro e confidencial para explorar as questões complexas e fornecer técnicas e estratégias eficazes para lidar com desafios emocionais, contudo, a confissão, também conhecida como reconciliação ou penitência é um meio pelo qual os fiéis podem receber o perdão divino de Deus, através do sacerdote. Neste tempo os fiéis sejam encorajados a práticas que ajudam os crentes a afastarem-se das distrações do mundo e a se concentrarem na sua relação com Deus e com os outros.
António Pedro Costa